Bolsonaro vai pra cima de Mauro Cid nas ‘últimas palavras’ ao STF


Bolsonaro e Mauro Cid
Roberto Suguino / Agência Senado

Bolsonaro e Mauro Cid

A defesa de Jair Bolsonaro (PL) apresentou nesta quarta-feira (13) as alegações finais do processo em que o ex-presidente é acusado de liderar uma tentativa de golpe no Brasil.

É a última palavra do réu antes da sentença.

Os advogados aproveitaram a janela e partiram pra cima de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência que, ao longo das investigações, se tornou o principal delator do ex-chefe – mas não o único.

Os defensores, claro, fizeram o trabalho deles.

Disseram não haver razões nem provas para condenar o cliente. Segundo eles, afinal, o ex-presidente “determinou a transição” de cargo após a derrota nas urnas e “evitou o caos” quando demoveu grupos de caminhoneiros a se mobilizarem em protestos pelo país. Ah, tá.

Outro exemplo usado a favor do réu é que, embora não tenha passado a faixa para seu sucessor, o presidente Lula (PL), ele tranquilizou os apoiadores dizendo que o mundo não acabaria em 31 de dezembro. Estranho, porque ninguém o viu descer a rampa do Planalto e dizer aos apoiaodores: “voltem pra casa, 2026 é logo ali”.

Os defensores dizem também que, ao longo do processo, houve “cerceamento de defesa”e pedem que a delação de Mauro Cid seja anulada por “vício de vontade”. Em juridiquês, chamaram os relatos do também réu de “imprestáveis”.

Eles citam 197 “omissões, falhas, seleções ou ainda ambiguidades reconhecidas pela Procuradoria Geral da República” nos depoimentos do delator, que, segundo a defesa, não seriam confiáveis nem provaram o que ele dizia.

“A delação é inusitada. (…) Quando o delator foi acusado de romper a delação, por conta da matéria da Revista Veja, foi preso de imediato. Uma segunda matéria, bem mais grave que a primeira, não gerou consequências. Ou melhor, serviu para a PGR reconhecer ‘omissões’ e ‘ambiguidades’”, dizem os advogados. 

“No mérito, impera uma acusação tão absurda quanto alternativa”, argumentam.

A equipe liderada por Celso Vilardi diz haver contradição na suspeita de que Bolsonaro seria responsável pelos ataques de 8 de janeiro às sedes dos Três Poderes se ele, afinal de contas, não tinha apoio dos chefes militares para a empreitada.

Aponta também que ele não poderia ser responsável pelo plano de matar autoridades da República. Falta combinar com os outros réus dos outros núcleos denunciados — que confirmaram tudo o que a denúncia apontou.

No mesmo dia, houve uma acareação entre Mauro Cid e o ex-assessor da Presidência Marcelo Câmara. E este admitiu que o pedido para monitorar Alexandre de Moraes partiu do próprio Bolsonaro – o mesmo réu que, segundo a defesa, estava ocupado trabalhando por uma transição pacífica enquanto se reunia com os chefes militares para emplacar um plano golpista que envolvia decretação e estado de sítio e prisão (e morte) de ministros do Supremo.

Mauro Cid, vale lembrar, não foi o único a colocar Bolsonaro na cena do crime. Basta assistir aos interrogatórios abertos ao público ao longo do processo (em um deles, Bolsonaro assume que se reuniu com os chefes militares após a derrota nas urnas, o que já basta para a acusação da PGR).

Cabe agora aos ministros da Primeira Turma dar o veredicto. 

Tudo isso pressão do governo dos Estados Unidos, que veem no julgamento de quem tentou botar fogo no parquinho uma “perseguição” contra um aliado dos interesses norte-americanos no Brasil.

*Este texto não reflete necessariamente a opinião do Portal iG



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