Tarifaço dos EUA causaria estrago há 25 anos, diz Amorim


Celso Amorim, assessor especial da presidência da República para assuntos internacionais
TV Cultura/reprodução

Celso Amorim, assessor especial da presidência da República para assuntos internacionais

O assessor especial da Presidência da República para assuntos internacionais, Celso Amorim, afirmou nesta segunda-feira (11), no programa Roda Viva, que as tarifas de importação  de até 50% impostas pelos Estados Unidos a produtos brasileiros, que entraram em vigor na última semana, causariam um grande impacto se tivessem sido aplicadas há 25 anos, mas hoje exigem respostas firmes do Brasil para proteger a economia e a soberania nacional.

Durante a entrevista, Amorim analisou a ofensiva do governo Donald Trump contra o Brasil, que inclui não apenas o aumento tarifário, mas também críticas políticas, como à decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que colocou o ex-presidente Jair Bolsonaro em prisão domiciliar.

Para o assessor, o governo brasileiro não é covarde diante das pressões e mantém a determinação de defender seus interesses com clareza e frieza, embora isso não signifique fechar canais de negociação.

Amorim destacou a importância de o Brasil diversificar suas relações econômicas para reduzir a dependência do mercado estadunidense.

A época da autossuficiência e do protecionismo absoluto não existe mais. A diversificação é o novo nome da independência ”, afirmou.

Ele também ressaltou a necessidade de fortalecer a integração entre os países da América Latina, apesar das dificuldades impostas pelo avanço da extrema-direita na região.

Negociações difíceis

O assessor explicou que a combinação da guerra tarifária global com o contexto político brasileiro torna complexa a negociação com os EUA.

Os canais não estão fechados ”, disse, ressaltando que para um avanço nas conversas é fundamental que ambas as partes tenham disposição para negociar.

A dificuldade em contatar decisores americanos tem sido um obstáculo. Por isso, o governo brasileiro cancelou uma reunião prevista para quarta-feira (13) com o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, em meio à crise bilateral considerada a mais grave dos últimos 200 anos.

Para Celso Amorim, as investidas do governo Trump tentam resgatar a influência dos EUA na América Latina similar àquela exercida nos anos 1960 e 1970.

Nós não somos o quintal de ninguém. Mas, para não sermos o quintal de ninguém, temos que diversificar nossos parceiros ”, concluiu, reafirmando a necessidade de independência econômica e política diante das tentativas protecionistas e geopolíticas estadunidenses.



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