
O reencontro do ex-refém israelense Or Levy e seu filho Almog após 491 dias de cativeiro
Uma notícia divulgada hoje na mídia israelense confundiu os sentimentos de parte do público local: uma irmã de Avinatan Or, um dos 50 reféns ainda em poder do Hamas – cujo último sinal de vida foi recebido em março deste ano –, anunciou que vai se casar. Algo assim passaria batido em qualquer conjuntura normal, mas não aqui e não agora.
Avinatan tem 32 anos e foi sequestrado do Festival Nova junto com sua namorada Noa Argamani, que ficou conhecida por ter viajado pelo mundo para contar sua história (ela foi libertada em uma missão de resgate heroica do exército israelense há mais de um ano) e pleitear apoio internacional para a libertação de seu amado e dos demais reféns. Noa foi também capa da edição da revista Time, que a reconheceu como uma das 100 pessoas mais influentes do mundo em 2024.

Registro do sequestro de Avinatan Or e Noa Argamani em 7 de outubro de 2023
E por que o anúncio do casamento causou comoção em Israel? Porque paira aqui a dúvida a respeito de quando é o momento de recomeçar a viver normalmente, e também do quanto é possível fazer um “reset” do trauma.
Trauma e reabilitação
É certamente difícil para o mundo compreender o quanto o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023 (ou seja, há quase dois anos) ainda reverbera profundamente na sociedade israelense e também entre os judeus em todo o mundo.
As famílias e o círculo próximo dos mais de 200 reféns que foram resgatados de Gaza até o momento, vivos ou mortos, ainda vivem o trauma e afirmam ser impossível iniciar qualquer tipo de processo de reabilitação enquanto ainda há reféns nos túneis do Hamas. Quanto àqueles que ainda aguardam a volta dos seus, o que dizer? Seja como for, a família de Avinatan – os pais e seus seis irmãos – promete que será uma cerimônia feliz.
Eles certamente merecem que seja.
Triste Dia dos Pais
Não existe Dia dos Pais ou Dia das Mães em Israel – há apenas o Dia da Família. Ainda assim, a homenagem aos pais foi lembrada amplamente nas mídias sociais pelos brasileiros que vivem no país, e entidades judaicas brasileiras homenagearam a algumas das centenas de famílias israelenses que têm poucos motivos para celebrar a data após o 7 de outubro.
Entre as histórias mais marcantes lembradas neste dia destacaram-se a de dois sequestrados, Or Levy e Elkana Bohbot.
Or e Einav Levy deixaram o filho Almog, então com menos de 2 anos, sob o cuidado dos avós para participar do Festival Nova, em uma área próxima à fronteira de Gaza. Quando o Hamas iniciou o lançamento de milhares de mísseis sobre Israel que antecedeu o ataque por terra de sei mil terroristas, o casal buscou proteção em um abrigo antiaéreo localizado nas proximidades (ninguém sabia ainda da rápida invasão terrestre).

Or Levy com sua esposa Einav, assassinada pelo Hamas em 7 de outubro, e o filho Almog
Pouco tempo depois, terroristas do Hamas mataram a maior parte das pessoas ali abrigadas – incluindo Einav – e capturaram vários reféns, entre eles Levy, cuja imagem assombrou o mundo por sua aparência cadavérica.
Nas entrevistas que concede desde sua volta, Levy sempre relembra como um outro refém, Hersh Goldberg-Polin (com quem ele conviveu brevemente nos túneis de Gaza), transmitiu-lhe uma ideia que o permitiu sobreviver até o momento da libertação: “Se você tem um porquê, encontrará um como”. O porquê, segundo Levy, foi Almog.
Pai e filho estão hoje vivendo juntos, com o apoio da família.
Quase dois anos de espera
Elkana Bohbot foi, como Levy, sequestrado do Festival Nova – em vez de tentar salvar sua própria pele, ele foi capturado ao permanecer na área do evento para ajudar pessoas feridas.

Rebecca e Reem: ainda à espera de Elkana, refém dos Hamas há quase 2 anos.
Sua história é ainda mais triste por não ter tido fim: ele continua refém do Hamas. Reem, seu filho de 5 anos, só lembra do pai por meio de fotos. Permanecem em Gaza outros três pais: Omri Miran, pai de duas meninas de 2 e 4 anos, David Cunio, pai de gêmeas de 5 anos, e Maxim Herkin, cuja filha tem 7 anos.
É hora de voltarem para casa.
IG Último Segundo