Ficar 20 anos no Manchester United? Amorim é um utopista – 11/08/2025 – O Mundo É uma Bola


“Quero ficar. Quero ficar por 20 anos. Essa é minha meta e realmente acredito nela.”

A frase é de Ruben Amorim, técnico do Manchester United, um dos mais ricos e poderosos clubes do mundo, sobre o futuro dele na equipe. E que soa como uma alucinação.

Havia grande esperança nos Diabos Vermelhos com a chegada do português, em novembro do ano passado.

Amorim agigantava-se em 2024 no Sporting, de Portugal, com a conquista do Campeonato Português (já tinha ganhado em 2021, após quase 20 anos do time sem a taça) e uma goleada de 4 a 1 sobre o Manchester City de Pep Guardiola na Champions League.

Amorim acumulava um aproveitamento de 71% de vitórias em 231 partidas com o alviverde de Lisboa. Ótima credencial para fazer o Man United retomar seus melhores dias, que foram sendo esquecidos desde que Sir Alex Ferguson aposentou-se, em 2013.

O escocês, hoje com 83 anos, permaneceu 27 anos seguidos como treinador do Man United, um dos maiores períodos conhecidos na história do futebol, descartando ligas amadoras. Ganhou 13 campeonatos ingleses.

O recordista mundial, com reconhecimento no Guinness Book, de permanência em um time é brasileiro. Amadeu Teixeira dirigiu o América-AM por 53 anos, de 1955 a 2008.

Um anônimo para a maciça maioria do Brasil e do mundo, Teixeira conquistou o Campeonato Amazonense em 1994. Ele morreu em 2017, aos 91 anos.

Ainda por aqui, o segundo treinador que mais anos ficou ininterruptamente em um clube tem reconhecida fama: Luís Alonso Pérez, o Lula (1922-1972), orientou o Santos de Pelé e companhia por 12 anos, de 1954 a 1966.

O português Abel Ferreira, do Palmeiras, é atualmente o treinador com mais tempo contínuo de trabalho no Brasil, considerando as principais vitrines: quatro anos e nove meses.

Na Europa, o recordista é o norte-irlandês Willie Maley, que ficou no Celtic, um dos grandes da Escócia, de 1897 a 1940 (43 anos). Um caso bastante conhecido é o do francês Arsène Wenger, hoje funcionário da Fifa, técnico do inglês Arsenal por 22 anos (de 1996 a 2018).

Todos eles são exceções. Sabe-se que, por motivos diversos (resultados insatisfatórios sendo o mais comum), os treinadores têm vida curta nas equipes. A rotatividade é grande.

Amorim, 40, é um utopista ao falar sobre seu plano de longevidade no Manchester United. Seu desejo se agrava pela performance pífia e pelo próprio discurso.

“Talvez estejamos sendo o pior time na história do Manchester United”, afirmou ele no começo do ano, depois de derrota para o Brighton.

Não é o pior. É um dos piores.

O Man United de Amorim terminou o Campeonato Inglês na 15ª posição, entre 20 participantes, com 42 pontos em 38 jogos.

Na era Premier League, iniciada em 1992, nunca o time tinha ido tão mal. Mais: foi o pior desempenho desde 1973/1974, quando, com 32 pontos (sistema de 2 pontos por vitória) e 20 derrotas em 42 jogos, caiu para a segunda divisão.

Amorim teve um mérito, ressalte-se: chegou à decisão da Liga Europa. Porém, na partida que poderia salvar a temporada e lhe dar moral, inclusive obtendo vaga na Champions League, perdeu de 1 a 0 para o londrino Tottenham.

Mesmo com resultados esquecíveis, a direção do Man United decidiu dar mais um tempo a Amorim. Mas, caso uma melhora gritante não ocorra em breve e seu aproveitamento de vitórias, de 38%, não suba decentemente –logo–, esse tempo se esvairá rapidamente.

De toda forma, imaginar ficar 20 anos, seja no Man United, seja em qualquer clube (qualquer um mesmo) é uma ilusão, um delírio.

Se isso ocorrer, onde quer que eu esteja em 2045, retomo o assunto para afirmar que Amorim, mais que ser técnico de futebol, deveria ser profeta.

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Folha de S.Paulo