Arquiteto denuncia injúria racial durante a Casacor SP 2025


Arquiteto denuncia injúria racial durante a Casacor SP 2025
Reprodução Instagram

Arquiteto denuncia injúria racial durante a Casacor SP 2025

O arquiteto Gabriel Rosa, de 24 anos, denunciou ter sido vítima de injúria racial  cometida por uma visitante durante a Casacor São Paulo 2025, evento de arquitetura e design que acontece no Parque da Água Branca, na Zona Oeste da capital, até o dia 3 de agosto.

Vencedor do prêmio de Melhor Ambiente nesta edição e já confirmado para a mostra de 2025, Gabriel assina o projeto “Adega Legado”, que tem como tema o resgate da ancestralidade africana.

O episódio aconteceu na noite da sexta-feira (25), por volta das 19h, no próprio ambiente assinado por Gabriel. Segundo ele, a mulher se aproximou após pegar um folheto com sua foto e demonstrou surpresa ao descobrir que ele era o arquiteto responsável.

Em entrevista ao Portal iG, Gabriel relatou o ocorrido:

“Parei para explicar o conceito do meu projeto, como geralmente faço com os visitantes”, disse.

A conversa, no entanto, tomou um rumo inesperado. A visitante começou a compartilhar opiniões pessoais com teor racista.

“Ela disse que, no Rio de Janeiro, onde mora, costuma sentar na calçada e observar como os pretos pobres andam como se fossem da realeza, enquanto os brancos andam relaxados”, contou Gabriel. Em seguida, a mulher criticou as cotas raciais e afirmou que se recusa a ser atendida por médicos negros, alegando que esses profissionais só se formam por conta das cotas e não por mérito próprio”, relatou.

Diante da gravidade das falas, Gabriel decidiu acionar a organização do evento.

“Na hora eu pensei: eu sofri racismo ou ela só estava expondo uma opinião? Mas lembrei que, cinco dias antes, eu tinha dado uma entrevista sobre a importância da presença negra na Casacor, que é uma mostra onde só três dos 73 arquitetos são pretos. Eu tinha falado sobre como é difícil ocupar esse espaço”, explicou.

O arquiteto relatou que, com o apoio da organização da Casacor, a visitante foi localizada ainda dentro do casarão onde ocorre o evento. A segurança do evento acionou a Polícia Militar, que abordou a mulher na saída.

“Ela não negou o que tinha dito. Apenas falou que realmente tinha falado, mas que não queria me magoar”, afirmou Gabriel. Um boletim de ocorrência foi registrado na delegacia e, segundo o arquiteto, o documento deve ser disponibilizado oficialmente nos próximos dias.

A Casacor São Paulo se manifestou por meio de nota enviada ao iG, repudiando o episódio:

“A CASACOR repudia veementemente qualquer ato de racismo, discriminação ou violência. São atitudes inaceitáveis e criminosas que não têm lugar em nossos ambientes. Nosso compromisso com a dignidade humana é inegociável.

Trabalhamos para garantir que a mostra seja sempre um espaço seguro, acolhedor e representativo para todas as pessoas.

Seguiremos atentos e atuantes para impedir qualquer forma de discriminação.”

Gabriel também elogiou a atuação da organização.

“Eles me ampararam o tempo todo, me ajudaram a localizar a mulher e ficaram comigo até o fim, quando o boletim já tinha sido feito. Não tenho do que reclamar”, afirmou.

O caso reacende o debate sobre o racismo estrutural em espaços elitizados, como o da arquitetura e do design.

“A maioria das pessoas que trabalham na Casacor, na segurança, limpeza, recepção, são pessoas pretas. Elas também escutam esse tipo de coisa dos visitantes, mas muitas vezes não têm como reagir por medo. Então eu fiz isso por mim, mas também por elas”, concluiu o arquiteto.



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