Bandeira de Trump na Câmara causa divergência no PL


Bandeira de Trump na Câmara
Aline Brito/Portal iG

Bandeira de Trump na Câmara

Um grupo de deputados da oposição protestou nesta terça-feira (22) contra a decisão do presidente da Câmara, Hugo Motta(Republicanos), de proibir sessões e reuniões de comissões durante o recesso branco do Congresso Nacional.

Ao reagirem à decisão que barrou a votação de uma moção de louvor ao ex-presidente Jair Bolsonaro(PL), os parlamentares empunharam a bandeira do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no plenário da Comissão de Relações Exteriores.

Cerca de 54 deputados do Partido Liberal (PL), do Republicanos, PP, Novo, PSD e União Brasil suspenderam, voluntariamente, seus recessos para voltar à Brasília e articularem medidas parlamentares de apoio ao ex-presidente Bolsonaro e seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro(PL).

Com isso, os deputados pretendiam realizar sessões das comissões de Relações Exteriores e Segurança Pública — ambas comandadas por parlamentares bolsonaristas — e aprovar um requerimento de moção de louvor e regozijo a Bolsonaro. Mas a tentativa esbarrou na decisão de Motta que proibiu formalmente as atividades deliberativas. A medida acirrou os ânimos da oposição e culminou em protestos e rachas internos, inclusive sobre o uso da bandeira de Trump.

Apesar da suspensão determinada por Motta, deputados da oposição convocaram a imprensa para uma entrevista coletiva, na qual questionaram a legalidade da decisão do presidente da Câmara e o acusaram de “censura política”.

“Essa decisão do presidente Hugo Motta é antirregimental e ilegal. Então vocês podem me perguntar: ‘por qual motivo não fizeram a reunião?’ Acusam-nos de sermos extremistas, acusam-nos de sermos radicais, dizem que nós somos os parlamentares do ódio, mas, hoje, todos demos uma demonstração ao Brasil de que tudo ao contrário do que dizem, nós temos subserviência até para nos submetermos a uma decisão ilegal” , declarou o líder do PL, deputado Sóstenes Cavalcante.

O veto de Hugo Motta tem respaldo regimental. Apesar de a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) ainda não ter sido votada, o Congresso Nacional adota, na prática, um recesso informal — o chamado “recesso branco” —, no qual, mesmo sem a formalidade da paralisação oficial, atividades ordinárias são interrompidas por decisão dos presidentes da Câmara e do Senado.

Por esse motivo, o ato de Motta publicado no Diário da Câmara proibiu todas as reuniões de comissões no período entre 22 de julho e 1º de agosto, alegando reformas internas e necessidade de manutenção predial.

Bandeira causou divergência

Durante a coletiva, os deputados Delegado Caveira (PL) e Sargento Fahur (PSD) estenderam a bandeira usada por Donald Trump em sua campanha para a presidência dos EUA, com os dizeres “ Make America Great Again ”.

O gesto causou desconforto entre os próprios parlamentares do PL e o líder da oposição, deputado Zucco (PL), agiu rapidamente para conter a cena. “Estou te pedindo por favor para não fazer isso. Pode prejudicar” , disse ele, ao retirar a faixa.

Questionado pela imprensa, o presidente da Comissão de Segurança Pública, Paulo Bilynskyj (PL), tentou minimizar o episódio. “Não é o foco da reunião de hoje” , afirmou, antes de voltar sua fala para o veto de Motta. “Essa é uma decisão que nos impede de manifestar nossa opinião, nossa palavra. Havia quórum e intenção legítima de deliberar” , completou.

Além da bandeira, a presença de uma placa com o nome do ex-presidente Bolsonaro na mesa da comissão também causou incômodo. O deputado General Pazuello(PL) pediu que o item fosse retirado. “Ele já está exposto demais” , argumentou. “A placa pode indicar que ele está aqui, e ele não vem.”

Bolsonaro era aguardado para os encontros, mas não compareceu após o despacho do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraespedindo explicações à defesa do ex-presidente sobre possível descumprimento de medida cautelar.

Apesar das divergências, a oposição garantiu que vai continuar atuando em favor de Jair e Eduardo Bolsonaro. O presidente da Comissão de Relações Exteriores, Filipe Barros(PL), afirmou que, mesmo diante da paralisação imposta por Motta, os aliados políticos do ex-presidente seguirão ativos nas bases e articulam manifestações populares pelo Brasil em apoio a Bolsonaro.

“Apesar do chamado recesso branco, não teremos descanso. Vamos mobilizar a militância nas ruas e acionar organismos internacionais” , ressaltou.

Os bolsonaristas também prometeram retomar a votação dos pedidos de moções em apoio ao ex-presidente Bolsonaro no retorno oficial dos trabalhos legislativos, em agosto.

Relação com Trump no centro da crise

O movimento dos deputados de levantar a bandeira de Trump ocorreu no momento em que o presidente norte-americano anunciou tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, decisão que passou a ser relacionada por investigadores da Polícia Federal (PF) a articulações políticas do próprio Eduardo Bolsonaro.

A leitura da PF é que a aproximação da família Bolsonaro com membros da extrema-direita internacional, especialmente nos EUA, teria como objetivo pressionar instituições brasileiras.

Embora Jair Bolsonaro negue qualquer envolvimento direto, o próprio Eduardo admitiu que o tema foi abordado em reuniões com autoridades americanas antes do anúncio oficial do tarifaço.



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