Zagueira da Inglaterra relata abuso online durante a Euro – 20/07/2025 – Esporte


A zagueira inglesa Jess Carter disse que tem sido alvo de abuso racista online desde o início da Euro 2025 na Suíça, e anunciou neste domingo (20) que está se afastando das redes sociais durante o torneio.

“Embora todo torcedor tenha direito à sua opinião sobre desempenho e resultado, não concordo ou acho que seja aceitável atacar a aparência ou raça de alguém”, postou Carter, que é negra, em uma longa declaração no Instagram.

“Estou tomando esta medida para me proteger na tentativa de manter meu foco em ajudar a equipe de qualquer maneira que eu puder”, continuou. “Espero que falar abertamente faça com que as pessoas que escrevem esses abusos pensem duas vezes para que outros não tenham que lidar com isso.”

A jogadora de 27 anos começou como titular em todos os quatro jogos da Inglaterra no torneio, mas teve dificuldades na vitória das quartas de final contra a Suécia na quinta-feira (17), quando as Lionesses sofreram dois gols no primeiro tempo.

A Inglaterra enfrenta a Itália nas semifinais na terça-feira (22) em Genebra, e embora suas jogadoras tradicionalmente se ajoelhem antes das partidas —incluindo em seus quatro jogos até agora na Suíça— como um gesto simbólico contra o racismo, elas não o farão na terça-feira.

“Está claro que nós e o futebol precisamos encontrar outra maneira de combater o racismo, concordamos como equipe em permanecer em pé antes do início do jogo na terça-feira”, disse a equipe em um comunicado. “Aqueles por trás do veneno online devem ser responsabilizados.”

O primeiro-ministro britânico Keir Starmer publicou seu apoio a Carter no X. “Não há lugar para o racismo no futebol ou em qualquer lugar da sociedade”, disse Starmer. “Eu apoio Jess, as Lionesses e quaisquer jogadores que sofreram racismo, dentro e fora de campo.”

O CEO da FA (Associação de Futebol, em inglês), Mark Bullingham, condenou o abuso e disse que a entidade entrou em contato com a polícia do Reino Unido, que por sua vez se comunica com a plataforma de mídia social relevante, para “garantir que os responsáveis por este crime de ódio sejam levados à justiça”, disse ele.

“Condenamos veementemente os responsáveis por este racismo repugnante. […] Infelizmente, esta não é a primeira vez que isso acontece com um jogador da Inglaterra.”

Muita raiva

As jogadoras e a equipe técnica da Inglaterra se reuniram no sábado (19) para discutir o assunto, com a defensora Lucy Bronze dizendo que o sentimento predominante entre a equipe era de raiva.

“Todos nós sabemos que qualquer jogador de cor que tenha jogado pela Inglaterra provavelmente passou por abuso racista”, disse Bronze em uma entrevista coletiva neste domingo cheia de emoção, às vezes lutando contra as lágrimas.

“Havia muita raiva. É raiva e tristeza que nossas companheiras de equipe estão passando por isso, e não queremos que isso aconteça. Queremos nos concentrar no futebol. Queremos que Jess e qualquer outra pessoa que vista a camisa da Inglaterra seja corajosa, seja feliz quando jogar pela Inglaterra, tenha o apoio dos torcedores em tudo isso.”

O presidente da Fifa, Gianni Infantino, publicou nota de apoio a Carter em suas redes sociais. “Estou profundamente entristecido pelo abuso online direcionado a Jess Carter […]. Não há lugar para o racismo no futebol ou na sociedade.”

A entidade governante do futebol europeu, Uefa, o clube de Carter, Gotham FC, a National Women’s Soccer League, e as Lionesses também publicaram declarações em apoio à jogadora.

“Representar seu país é a maior honra. Não é certo que, enquanto estamos fazendo isso, algumas de nós sejam tratadas de forma diferente simplesmente por causa da cor de nossa pele”, diz trecho do comunicado das Lionesses.

A Uefa disse: “Abuso e discriminação nunca devem ser tolerados, seja no futebol ou na sociedade, pessoalmente ou online. Estamos com Jess.”

Cinco pessoas foram presas depois que os jogadores ingleses Marcus Rashford, Bukayo Saka e Jadon Sancho foram vítimas de abuso racista online após a derrota na final da Euro 2020 masculina.



Folha de S.Paulo