Naquela que deve ser a última Copa América da carreira de Marta, 39, a seleção brasileira e as demais equipes sul-americanas lidam com o que classificam como “uma precária e desanimadora estrutura’’ oferecida pela Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol). O cenário levou a entidade, depois de críticas, a rever parcialmente seu protocolo de operação do torneio feminino no Equador.
O principal foco das reclamações é a escolha do estádio Gonzalo Pozo Ripalda, em Quito, para abrigar nove das dez partidas do Grupo B. O gramado, castigado pelo excesso de jogos, levou a Conmebol a adotar uma medida que gerou ainda mais desconforto. Nas duas primeiras rodadas, todas as equipes que atuaram na casa do Aucas foram obrigadas a fazer o aquecimento dentro do vestiário, em espaços confinados e com divisões improvisadas para atender duas delegações ao mesmo tempo.
“Havia muito tempo que eu não jogava um campeonato aqui na América do Sul. Ficamos tristes com essas situações. Cobram desempenho das atletas e um nível alto de trabalho, mas também temos que cobrar um alto nível de organização. Temos o direito de cobrar a organização”, reclamou Marta.
Três vezes campeã da competição, da qual o Brasil é o maior vencedor, com oito troféus, a jogadora do Orlando Pride citou ainda que o espaço era abafado, agravando o desconforto causado pela altitude de Quito. “Não tinha espaço suficiente para duas equipes.”
Embora tenha vencido seus dois primeiros compromissos na competição —contra Venezuela (2 a 0) e Bolívia (6 a 0)—, a equipe dirigida por Arthur Elias se viu prejudicada pela situação. Na primeira rodada, a comissão técnica não conseguiu avaliar a atacante Kerolin, que havia sentido um desconforto muscular na véspera da partida. Por causa da proibição do aquecimento no gramado, ela acabou ficando fora do jogo.
Na sequência, diante da Bolívia, houve um princípio de confusão entre jogadoras das duas seleções durante o aquecimento. As delegações dividiram uma sala que, segundo relatos ouvidos pela Folha, tinha cerca de 15 m², cheiro de tinta fresca e apenas dois banheiros.
“A gente, dentro do esporte, tem que se juntar, não ficar uma contra a outra. Porque o que a Conmebol está fazendo é ridículo”, disse a atacante Ary Borges.
Arthur Elias ecoou a insatisfação de suas atletas. “Não deveríamos ter que cobrar que os responsáveis pelo futebol façam o trabalho deles”, afirmou.
Após a repercussão das críticas, a entidade anunciou um ajuste em seu protocolo. A partir da terceira rodada, todas as jogadoras terão 15 minutos para se aquecer no gramado antes das partidas.
A mudança busca minimizar o problema mais evidente, mas não resolve outras questões levantadas pelas jogadoras. Em seu desabafo, publicado nas redes sociais, Kerolin citou a organização da Eurocopa feminina, disputada simultaneamente à Copa América, como um exemplo do que ela esperava encontrar.
“É surreal a diferença de estrutura, audiência e investimento. Chega a ser desanimador. Não queria vir aqui falar sobre isso, mas a estrutura seria o mínimo para nós”, escreveu a atleta.
No domingo (13), a Uefa (União das Associações Europeias de Futebol) destacou algumas marcas importantes da primeira fase da competição realizada na Suíça. De acordo com a entidade, quase meio milhão de torcedores estiveram nos estádios, e 22 das 24 partidas tiveram ingressos esgotados.
O duelo entre Alemanha e Dinamarca, na Basileia, recebeu 34.165 torcedores, o maior público em um jogo da fase de grupos sem envolvimento do país-sede —e também o recorde de espectadores para uma partida de futebol feminino na Suíça.
Na Copa América, a Conmebol não tem divulgado o número de torcedores presentes em cada uma das partidas. Nos jogos da seleção brasileira, mesmo com a Marta em campo e com ingressos a partir de US$ 3 (R$ 16,76), o público não tem passado de 300 pessoas.
Além de atrair mais público, a Europa aumentou seus repasses para as seleções. Nesta edição, a organização vai distribuir € 41 milhões (R$ 266 milhões) em prêmios, um aumento de 156% em relação à edição anterior, em 2022. A campeã da edição 2025 poderá acumular ganhos de até € 5,1 milhões (R$ 32,4 milhões).
Na América do Sul, as premiações não mudaram em relação à edição anterior, realizada em 2022. A campeã deste ano vai embolsar US$ 1,5 milhão (R$ 8,3 milhões), e a vice levará US$ 500 mil (R$ 2,79 milhões).
A Uefa também investiu em tecnologia e colocou o VAR (árbitro de vídeo) e o impedimento automático para todas as partidas da Euro. Na Copa América, o vídeo só entrará em ação a partir do mata-mata.
“Acho que a gente merecia coisa melhor”, resumiu Kerolin.
O Brasil volta a campo na próxima terça-feira (22) para enfrentar o Paraguai, às 21h (de Brasília).
Folha de S.Paulo