Investigação de Trump sobre Pix é tema de enxurrada de postagens


A página do Governo Federal no Instagram também abordou a preocupação dos EUA com o Pix
Reprodução/Instagram Governo Federal

A página do Governo Federal no Instagram também abordou a preocupação dos EUA com o Pix

A investigação aberta pelos Estados Unidos sobre práticas comerciais brasileiras tem causado desconforto no Governo Federal e aproximado os Poderes Executivo e Legislativo em defesa da soberania nacional.

A apuração, conduzida pelo Escritório do Representante de Comércio dos EUA (USTR), foi oficialmente iniciada na terça-feira (15), mas o relatório com os  detalhes sobre as supostas “práticas desleais” só veio à tona nesta quarta (16).

Após a divulgação dos temas sob análise da gestão do presidente norte-americano Donald Trump, ministros e parlamentares brasileiros reagiram com indignação.

A investigação foi anunciada por Trump na última quarta-feira (9), quando enviou uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) informando sobre a aplicação de taxa de 50% sobre as importações de produtos brasileiros.

O tarifaço começara a valer, segundo aviso dos EUA, em 1º de agosto, mas a apuração relacionada ao comércio brasileiro foi iniciada menos de uma semana depois de o presidente norte-americano oficializar sua decisão. 

Essa investigação é respaldada pela Seção 301, um dispositivo da Lei de Comércio dos EUA que autoriza medidas unilaterais de retaliação comercial contra países que, na visão norte-americana, adotem práticas que prejudiquem suas exportações ou investimentos. No entanto, para o ministro da Casa Civil, Rui Costa, a apuração é uma “intromissão absolutamente indevida”. 

“Não dá para imaginar um cenário onde um presidente de uma das maiores potências do mundo está preocupado com a 25 de Março e coloca isso em um documento internacional. Está preocupado com o meio de pagamento que um país adota e é abraçado por toda a população, empresas e sistema financeiro, que é o PIX. É inacreditável algo dessa natureza” , declarou o ministro. 

Rui Costa destacou que o Brasil precisa responder à ofensiva de Trump “com serenidade, muito diálogo, firmeza, altivez e união do seu povo porque o Brasil pertence aos brasileiros” .

A página do Governo Federal no Instagram também abordou a preocupação dos EUA com o Pix. Coordenado pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, o perfil publicou uma imagem dizendo que “o Pix é nosso, my friend”. “Parece que nosso PIX vem causando um ciúme danado lá fora. Tem até carta reclamando da existência do nosso sistema Seguro, Sigiloso e Sem taxas” , disse a publicação. 

“Só que o Brasil é o quê? Soberano. E tem muito orgulho dos mais de 175 milhões de usuários do PIX, que já é o meio de pagamento mais utilizado pelos brasileiros. Nada de mexer com o que tá funcionando” , acrescentou a postagem. 

O senador Randolfe Rodrigues(PT), líder do governo no Senado, somou à onda de apoio ao Pix. Em seu perfil no X, antigo Twitter, o parlamentar publicou uma imagem com a frase “defenda o Brasil, defenda o Pix”. 

Responsabilização de Bolsonaro 

A medida de Trump ocorre em meio a pressões internacionais articuladas pelo deputado licenciado Eduardo Bolsonaro(PL), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro. A ofensiva americana é vista, no Brasil, como parte de uma estratégia mais ampla de desestabilização política, com impactos diretos sobre a economia e a credibilidade do país no cenário global.

O ex-presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), senador Humberto Costa, atribuiu a investigação dos EUA sobre o Pix às movimentações de aliados de Bolsonaro em solo norte-americano. “A canalha extrema direita acusou, mentirosamente, o governo Lula de querer taxar e inviabilizar o PIX e a economia popular. Agora, a mando de Trump e com apoio de Bolsonaro, os EUA abrem investigação contra o PIX e o comércio popular no Brasil, ameaçando milhões de pessoas” , escreveu o parlamentar em suas redes sociais. 

O deputado Rogério Correia(PT), vice-líder do PT na Câmara, também fez uma publicação contra Bolsonaro. O parlamentar postou uma montagem de foto do ex-presidente com um cartaz escrito “seu Pix pela minha anistia”.

“A agenda personalista de Bolsonaro que põe a economia brasileira em risco chegou até o PIX. O mecanismo do Banco Central que revolucionou os pagamentos no Brasil é tido como ‘desleal’ pelo governo norte-americano” , escreveu o petista na legenda. 

Mobilização social 

A base do governo tenta repetir o sucesso obtido com a mobilização nas redes sociais sobre a derrubada do decreto presidencial que aumentava o Imposto Sobre Operações Financeiras ( IOF). Aliados do presidente Lula estão convocando a população para fazer publicações em apoio ao Pix e com os termos “BolsoTrump contra o Brasil” e “BolsoTrump contra o Pix”. 

“Vamos seguir com a tag BolsoTrump Contra o Pix e manter esse debate nas redes para informar as pessoas sobre esse absurdo. É uma canalhice o que estão fazendo com o Brasil” , pediu o líder do PT na Câmara, deputado Lindbergh Farias(PT). “O Brasil precisa de respeito, não de traição” , completou. 

A movimentação começa a surtir efeito. O termo “BolsoTrump contra o Pix” está na quarta posição dos assuntos mais comentados do momento, com mais de 250 mil menções no X nas últimas quatro horas. 

De acordo com a plataforma Trends24, o termo “Mito na Jaula”, em referência ao ex-presidente Bolsonaro, está entre os mais populares da rede social nas últimas 12 horas. Já publicações com a palavra “Soberano”, em referência à soberania do Brasil, figuram entre as tendências do momento, com mais de 1,7 milhões de menções. 

“O momento agora é de unir o país na defesa da nossa soberania e, sobretudo, na defesa dos setores econômicos que serão atingidos com esse tarifaço. E, nisso aí, tem que entrar todo mundo” , defendeu o líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães(PT), em coletiva de imprensa realizada na tarde desta quarta-feira (16), no salão verde da Casa Baixa. 

Apoio a Bolsonaro 

Ao passo que críticas à atuação de Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos e à ofensiva de Trump contra o Brasil se popularizaram nas redes sociais, apoiadores do ex-presidente Bolsonaro se mobilizam para bater de frente com a movimentação incentivada pela base governista. 

Nas últimas 15 horas, o termo “Somos Todos Bolsonaro” esteve entre os mais populares do X. Publicações com as frases “Lula quer o caos” e “Gabinete do ódio do PT”, também começaram a fazer sucesso na rede social nas últimas cinco horas. 

Aliados do ex-presidente, como o deputado Nikolas Ferreira(PL), seus filhos Eduardo e Flávio Bolsonaro(PL), o deputado Sanderson(PL) e o líder do Partido Liberal na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante, não falaram diretamente sobre a investigação dos EUA contra o Pix. 

A ferramenta do Pix é defendida enfaticamente pela base aliada de Bolsonaro. O ex-presidente fala, frequentemente, que o sistema de pagamento foi uma iniciativa de seu governo. Apesar disso, seus apoiadores evitam falar sobre a preocupação de Trump com o serviço. 

Em resposta às acusações da esquerda, parlamentares e eleitores apoiadores de Bolsonaro apontam o presidente Lula como responsável pelas medidas adotadas por Trump.

“O problema do Brasil é o Lula. Além de incompentente, é arrogante. Só vai afundar o Brasil” , alegou o senador Flávio Bolsonaro (PL). 

“A diplomacia brasileira, nos Governos Bolsonaro e Temer, foram referência em equilíbrio e responsabilidade. Lula, infelizmente, transformou isso em um palco ideológico que prejudicou os interesses do povo brasileiro” , declarou o deputado Nikolas  Ferreira. 

Nesse sentido, o deputado Sanderson disse que quem tem que resolver o impasse com os EUA é o governo Lula, responsável, segundo ele, por criar a tensão diplomática. “Quem criou a crise, tem obrigação de resolver. Resolva Lula, o caos que você mesmo gerou” , afirmou. 



IG Último Segundo