
Farmácia no espaço: como a biotecnologia está chegando à Estação Espacial – com Patrícia Lazzarotto
A farmacêutica Patrícia Lazzarotto, mestre em biotecnologia farmacêutica e consultora científica da CIMED, participou do quinto episódio do podcast iG Foi Pro Espaço, transmitido nesta quarta-feira (16), às 18h, no canal do YouTube do Portal iG.
Na conversa, ela explicou como o projeto CIMED-X vem testando suplementos alimentares na Estação Espacial Internacional, para estudar o comportamento de compostos farmacêuticos em ambientes de microgravidade e como essas pesquisas podem beneficiar a saúde humana também na Terra.
Patrícia atua no ponto de encontro entre saúde e espaço e é considerada uma referência nacional em biotecnologia aeroespacial. Ela também apresenta o podcast Ciência Sem Fim, onde aborda temas científicos em linguagem acessível para o público geral.
Natural de Caxias do Sul (RS) e formada pela PUC-RS, Patrícia contou que seu interesse por ciência e espaço surgiu na infância, ao folhear um atlas dado por seu pai.
A curiosidade infantil evoluiu até o mestrado em biotecnologia, quando passou a pesquisar fibroblastos de pele humana sob microgravidade simulada. A pesquisa foi orientada pela professora Marilise Araújo dos Santos, no antigo Centro de Microgravidade da universidade.
Com um simulador portátil de microgravidade em mãos, ela transportava o equipamento entre laboratórios para observar como células da pele humana reagiam a esse tipo de ambiente. “ Eu pensava, ‘isso aqui tem que dar bom alguma hora ’”, relembra.
O estresse do espaço como modelo acelerado
Na entrevista, Patrícia explicou que o espaço funciona como um laboratório acelerado.
Devido ao confinamento, à radiação e à microgravidade, o corpo humano passa por transformações fisiológicas intensas em pouco tempo, como perda de massa muscular, enfraquecimento ósseo e alterações no sistema imunológico. Ela compara esse estresse celular ao de pais muito cansados ou trabalhadores exaustos: “ O estresse literalmente envelhece ”.
Na Estação Espacial, por exemplo, astronautas desenvolvem sintomas como a degeneração macular relacionada à idade em apenas dois meses, condição que normalmente surge após os 50 anos na Terra.
Com isso, medicamentos e suplementos antioxidantes, como a coenzima Q10, vêm sendo estudados com mais eficácia no espaço.
Objetivo é trazer resultados para a Terra
Segundo Patrícia, a missão da Estação Espacial Internacional é devolver à Terra os conhecimentos obtidos em órbita.
“ O principal objetivo dos estudos aeroespaciais, principalmente voltados à biotecnologia, é ter serventia aqui ”, afirmou. Ela citou como exemplo tecnologias já comuns, como micro-ondas, velcro e tecidos avançados, inicialmente desenvolvidos para uso espacial.
O projeto CIMED-X, do qual Patrícia participa, levou ao espaço leveduras misturadas a um multivitamínico para testar o comportamento desses organismos em microgravidade.
Os experimentos foram enviados por meio de uma parceria com a SpaceX e retornaram à Terra para análise posterior. O modelo de envio é acessível para centros de pesquisa e empresas, que contratam transportadoras espaciais para realizar esse tipo de experimento.
Ciência acessível e comunicação
Durante a transmissão, a convidada também ressaltou a importância da divulgação científica.
Além do trabalho com a CIMED, ela dedica-se a tornar temas técnicos compreensíveis para o público, especialmente nas redes sociais e em seu podcast. “ Eu fico muito feliz de levar esse conhecimento para o público geral ”, disse.
O quadro iG Foi Pro Espaço é transmitido ao vivo todas as quartas-feiras, às 18h, e traz convidados especialistas em temas ligados ao universo e à exploração espacial.
IG Último Segundo