
A Urbia atribui a redução no fluxo de visitantes às más condições das vias de acesso
O modelo de concessão do Cânion Fortaleza, em Cambará do Sul (RS), local onde uma menina de 11 anos morreu, voltou a ser questionado após a suspensão de uma das principais atrações da área e relatos de queda acentuada na visitação.
Desde 2021 sob responsabilidade da empresa Urbia, o parque integra o conjunto de unidades transferidas à iniciativa privada por meio de licitação.
A empresa venceu o processo com compromisso de investir mais de R$ 20 milhões em melhorias de infraestrutura, segurança e serviços.
Em setembro de 2024, a Urbia anunciou a desativação da tirolesa instalada no Alto do Mirante do Cânion Fortaleza.
A estrutura, com 720 metros de extensão, havia sido inaugurada em julho do ano anterior e era divulgada como a mais alta das Américas.
Segundo a concessionária, a operação foi suspensa após redução de cerca de 60% no número de usuários entre maio e agosto.
O ingresso para os parques nacionais de Aparados da Serra e da Serra Geral, ambos em Cambará do Sul, custa atualmente R$ 102 por pessoa, com validade de sete dias e direito a até três entradas.
Reportagens publicadas pelos portais GZH e G1 em 2024 apontam que a visitação nas duas unidades caiu cerca de 50% em relação ao período anterior à concessão, segundo estimativas da Prefeitura de Cambará do Sul.
Deputada pede revisão do modelo de gestão

Deputada Fernanda Melchionna (PSOL-RS)
A deputada federal Fernanda Melchionna(PSOL-RS) tem criticado o modelo de gestão e defende sua revisão.
“O que antes era um passeio gratuito passou a ter um custo enorme. Se pensarmos em uma família com dois filhos, apenas a entrada nos parques custa mais de R$ 400, sem contar deslocamento, alimentação e hospedagem” , afirmou ao iG.
A parlamentar também apontou impactos na economia da cidade. “A cidade tem o turismo no parque como uma de suas principais fontes de renda. Com a queda no movimento, restaurantes, pousadas e empresas de ecoturismo registram perdas e demissões.”
A deputada propõe a reestatização do Parque Aparados da Serra, com participação dos Governos Federal e Estadual.
“A reestatização do Parque Aparados da Serra, com investimentos tanto do governo federal quanto estadual, é a única solução para que o turismo local seja reativado e para que os parques tenham estrutura e segurança para receber visitantes” , disse.
A Urbia atribui a redução no fluxo de visitantes às más condições das vias de acesso. A estrada municipal CS-012, que leva ao Cânion Fortaleza, tem 23 quilômetros de extensão e segue com dois quilômetros pendentes de pavimentação.
Já a rodovia estadual ERS-427, que liga ao Cânion Itaimbezinho, depende de autorização ambiental do Ibama para receber obras.
Em setembro de 2024, a empresa solicitou à Câmara de Mediação e Arbitragem Empresarial a suspensão de obrigações contratuais ligadas a melhorias no parque, alegando que a execução depende de fatores externos, como regularização fundiária e aprovação do plano de manejo.
O pedido foi parcialmente aceito, com liberação temporária das obrigações, mas foi negada a solicitação de fechamento dos parques.
O Portal iG solicitou à Urbia informações sobre os valores efetivamente investidos, a situação contratual, os dados de visitação e os motivos que levaram ao encerramento da tirolesa. Até o fechamento deste texto, não houve retorno.
ICMBIO se manifesta
Responsável pela gestão e fiscalização dos contratos de concessão da unidade de conservação, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade ( ICMBio) disse em nota, que, apesar da morte de Bianca Zanella ter sido uma ”fatalidade” e o primeiro caso desde a criação do parque, vai revisar e reforçar a segurança nos parques nacionais abertos à visitação.
O ICMBIO disse que está prestando apoio à família da menina e que está à disposição das autoridades para cooperar com a investigação.
Morte de criança
Bianca Bernardon Zanella, uma menina de 11 anos de Curitiba (PR), morreu na última quinta-feira (10) após cair de um mirante no Cânion Fortaleza, no Parque Nacional da Serra Geral, em Cambará do Sul (RS).
O acidente ocorreu por volta das 13h30, durante um passeio com a família na Trilha do Mirante. Bianca, que tinha TEA ( Transtorno do Espectro Autista), correu em direção à borda do mirante, que não possui cercas, e caiu cerca de 70 metros.
O resgate, realizado pelo Corpo de Bombeiros com técnicas de rapel e apoio de drone, durou cerca de 10 horas devido ao terreno difícil e à neblina. Bianca foi encontrada sem vida às 23h.
O parque foi fechado no dia seguinte, e a Polícia Civil investiga as circunstâncias.
IG Último Segundo