O que Trump, o parque Ibirapuera e o PSG têm em comum? – 10/07/2025 – No Corre


Força desproporcional é um conceito bastante utilizado no esporte. O querido Thales Bon, ex-professor de tênis da USP, citava-o ao ver sujeitos que sempre estavam em quadra, a qualquer hora do dia, talvez desde o nascimento, não economizarem diante de pangarés como eu.

Força desproporcional é também o que se vê em jogos do PSG, quando o time franco-catari, com aquele notável meio-campo ibérico, enfrenta adversários cujos apoiadores não voltam para marcar; o conceito ainda pode ser aplicado à geopolítica: é o que Donald Trump tenta fazer com países com que os Estados Unidos mantêm –ou mantinham– relação comercial.

Arrisco aqui uma tradução: é do jogo, mas o inviabiliza, tira seu significado, acaba com ele.

Força desproporcional é o que a Urbia, concessionária desde 2020 do Ibirapuera, impinge contra dezenas de treinadores que há décadas levam alunos para correr no famoso parque paulistano.

O tema vem sendo tratado pela Folha. A concessionária acaba de lançar seu próprio serviço de treino de corrida, o Corre no Ibira. Tem espaço próprio com chuveiros e “lockers”, distribuição de água, isotônico e carboidrato, além de prover descontos no estacionamento do parque. Os treinos também podem acontecer aos sábados na USP e às quartas no Centro Olímpico Ibirapuera. O preço de entrada do serviço é de R$ 170,90, inferior, em geral, à média do mercado.

Ocorre que a concessionária está há cerca de um ano em meio a uma contenda com os treinadores, que, por óbvio, não dispõem de chuveiros e “lockers” e não podem erguer no Ibira totens ou bivaques. A Urbia cobra de cada assessoria valor proporcional ao número de alunos. Não bastasse a base legal discutível da decisão, a contagem desse corpo discente é aleatória, e o valor atribuído, ainda mais.

As assessorias, por meio da entidade que as representa, a ATC-SP, fazem questão de dizer que não são contrárias a algum tipo de cobrança, e seus representantes de fato se reuniram algumas vezes com a Urbia com o fito de estabelecer acordo comercial.

Segundo o presidente da ATC-SP, Douglas de Melo, as cláusulas contratuais apresentadas jamais levaram em conta as solicitações feitas pela entidade, como, por exemplo, a garantia de um plano de descontos de estacionamento para os alunos –algo que, como os treinadores veem agora, é “ativo” do Corre no Ibira.

Não deixa de ser sintomático que a concessionária tenha decidido buscar um profissional no Rio, Jorginho Silva, para comandar seu serviço de corrida.

O Ministério Público do Estado de São Paulo interveio na contenda em março. O promotor Silvio Marques, da Promotoria do Patrimônio Público, considerou a cobrança às assessorias “injusta e ilegal” e as orientou a ignorar os boletos.

Isso não inibiu a Urbia de seguir com a cobrança, e, pior, levando agora o pleito à Justiça, em ações individualizadas contra as assessorias. De três pedidos de liminar solicitados, e distribuídos para juízos diferentes, um foi acatado.

A concessionária, ouvida pela Folha, afirmou ter implantado no parque “regras claras para garantir o bom funcionamento dos serviços prestados por terceiros” para conciliar “o uso comercial com o acesso gratuito e livre dos demais usuários”.

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Folha de S.Paulo