Uma fera indomável e nove caçadoras à espreita animarão a partir desta sexta-feira (11) a décima Copa América de futebol feminino, torneio no qual o Brasil é a estrela indiscutível disposta a revalidar sua coroa na altitude de Quito, a 2.850 metros.
O certame, uma vitrine para o talento e as reivindicações por melhores condições para as mulheres no futebol, começará com o duelo entre Equador e Uruguai a partir das 19h no horário local (17h de Brasília) no estádio do clube Independiente del Valle, nos arredores da capital equatoriana.
Com um currículo invejável e a lendária Marta no comando, a seleção brasileira buscará seu nono título na competição mais importante da região, que será realizada pela quarta vez no Equador.
Do Brasil, “temos que esperar que elas venham defender a sua Copa, que venham mostrar o seu futebol. E que também venham surpreender esse público, as meninas que querem ser jogadoras de futebol (…), para mostrar a elas que esta disciplina ou este ramo do futebol também é importante”, disse a analista esportiva Martha Córdova à AFP.
Quarta no ranking mundial da Fifa (Federação Internacional de Futebol), a seleção canarinha está bem à frente de uma de suas rivais mais ousadas na primeira fase: a vice-campeã Colômbia.
Ambas, junto com Paraguai, Venezuela e Bolívia integram o Grupo B; e Equador, Argentina, Chile, Uruguai e Peru, o A.
A competição, que se estenderá até 2 de agosto, dará às duas finalistas passagens para os Jogos Olímpicos de Los Angeles 2028 e às três seguintes para os Jogos Pan-americanos de Lima 2027, aos quais o Peru está classificado por ser anfitrião.
Pela revanche
A Colômbia aparece em 18º no ranking da Fifa, mas isso não significa menos talento. Jogadoras como Mayra Ramírez, Linda Caicedo, Daniela Montoya ou Catalina Usme imprimem força a um elenco que quer revanche.
As colombianas deixaram escapar o título em sua própria casa, na edição de 2022.
“A Colômbia é, sem dúvida, uma das candidatas a garantir o segundo lugar nos Jogos Olímpicos”, comentou Córdova, observando que o país exportou “jogadoras excepcionais” nos últimos anos.
Caicedo é uma estrela do Real Madrid, e Ramírez joga no Chelsea, clube inglês que, ao contratá-la em janeiro de 2024, a tornou a jogadora mais cara da história do futebol feminino na época.
Outra seleção que busca retomar o brilho de 2006 é a Argentina, única seleção a ter destronado as brasileiras desde 1991, quando a competição começou.
Vitrine da desigualdade
A Copa América também é um espaço para abordar as desigualdades que persistem no futebol feminino. Este ano, a seleção uruguaia levantou sua reivindicação por melhores condições de trabalho com um protesto.
No sábado, a uma semana de sua estreia no torneio, as celestes decidiram não comparecer ao treino dirigido pelo uruguaio Ariel Longo.
“Esta medida não é contra a nossa paixão, mas sim por um direito justo”, escreveram as jogadoras nas redes sociais, marcando a Associação Uruguaia de Futebol.
“Merecemos um tratamento justo pelos nossos esforços e dedicação”, acrescentaram.
O protesto foi resolvido na terça-feira, segundo informou o sindicato de futebolistas profissionais.
As condições de trabalho, o custo das transferências de jogadoras, a quantidade de público nas arquibancadas ou os preços dos ingressos para ver as partidas refletem as diferenças que ainda existem entre o futebol feminino e masculino.
O valor das entradas para esta Copa América feminina está entre US$ 3 (R$ 16,38) para a fase de grupos e US$ 5 (R$ 27,31) para a final. Muito longe dos quase US$ 2 mil (R$ 10,9 mil) que chegou a custar um ingresso para o encerramento da última Copa América masculina, nos Estados Unidos, em 2024.
À medida que “os eventos se tornam mais populares e ganham mais apoio, os preços acabarão subindo para outros torneios femininos”, disse à AFP Eduardo Moscoso, técnico da seleção equatoriana.
Ele acrescentou que, por enquanto, os preços baixos são a maneira de “atrair as pessoas para que nos acompanhem e para que os estádios estejam cheios”.
Para Córdova, é essencial que esses torneios não sejam frequentados apenas pelas escolas de futebol ou pelas famílias das jogadoras.
“Os homens também devem comparecer, porque a busca pela igualdade é justamente o que acontece na sociedade, não só no âmbito feminino”, disse a analista.
Lista de campeãs da Copa América feminina
1991 Brasil
1995 Brasil
1998 Brasil
2003 Brasil
2006 Argentina
2010 Brasil
2014 Brasil
2018 Brasil
2022 Brasil
Folha de S.Paulo