
Mike Lester em entrevista ao iG Foi Pro Espaço
No episódio mais recente do podcast iG Foi Pro Espaço, Mike Lester, ex-engenheiro da NASA com mais de 12 anos de experiência na divisão de transferência de tecnologia, compartilhou sua trajetória e a importância da educação espacial.
Lester, que atuou no Centro Espacial Kennedy, foi responsável por adaptar inovações espaciais para aplicações terrestres, bilhões de dólares em benefícios econômicos e criação de empregos para a economia americana.
Mike explicou que a transferência de tecnologia da NASA é um programa pouco conhecido, mas de grande importância. Ele ressaltou que a agência desenvolve inovações para o espaço que, muitas vezes, encontram aplicações valiosas na Terra.
Ainda destacou que essas tecnologias podem resolver problemas que as tecnologias atuais não conseguem ou não são tão eficazes.
O ex-engenheiro da NASA mencionou que a agência espacial tem oferecido essas inovações a empresas comerciais e pesquisadores universitários desde sua fundação na década de 1950, tornando-se uma ” mina de ouro ” para empreendedores que buscam tecnologias novas.
O sensor C-MOSS e outras patentes
Como exemplo de uma tecnologia espacial adaptada para uso terrestre, Mike Lester citou o sensor C-MOSS, presente em câmeras digitais e smartphones.
Ele explicou que a NASA foi pioneira no desenvolvimento desses pequenos sensores capazes de captar imagens de alta resolução. ” Nós realmente fomos pioneiros na redução do sensor para nossa pesquisa espacial e ainda assim tirando fotos de alta resolução muito boas “, detalhou.
Lester acredita que a popularidade dos smartphones foi impulsionada pela capacidade de tirar fotos com esses sensores, que têm suas raízes tecnológicas no programa espacial.
” Até a NASA pode levar crédito pela explosão das mídias sociais, TikTok. Não sei se isso é uma coisa boa. Isso pode não ser uma coisa boa “, brincou ele.
Mike explicou que as patentes da NASA são publicadas pelo governo dos Estados Unidos em um site público, mas a agência também utiliza outros meios para se comunicar com o setor privado.
Para ter acesso legal a essas tecnologias, as empresas precisam de um acordo de licença. ” Você tem que ter minha aprovação e meu acordo e geralmente você tem que me pagar dinheiro para eu obter meu acordo “, afirmou Lester, referindo-se ao processo de licenciamento.
Desafios na transferência de tecnologia
Um dos maiores desafios na transferência de tecnologia, segundo Lester, é a falta de conhecimento do público e das empresas sobre a existência dessas patentes. Ele se dedicou a viajar pela Flórida para informar a comunidade empresarial sobre o programa.
Outro obstáculo é o estágio inicial de desenvolvimento das tecnologias espaciais. ” Nós fazemos desenvolvimento em estágio muito inicial. Fazemos pesquisa em estágio inicial “, explicou. Isso significa que as empresas precisam investir tempo e recursos significativos para transformar essas tecnologias em produtos comerciais.
Para superar isso, a NASA desenvolveu uma ” licença de avaliação ” simplificada e gratuita para universidades, permitindo que pesquisadores desenvolvam as tecnologias em estágios iniciais.
Essa iniciativa, criada por Lester e sua equipe no Centro Espaço Kennedy, foi adotada por outros escritórios de transferência de tecnologia da NASA.
Para quem deseja trabalhar com transferência de tecnologia na NASA, Mike Lester sugere algumas habilidades. Um diploma em direito de patentes e licenciamento é altamente competitivo devido à natureza legalista do campo.
Ele enfatizou que a transferência de tecnologia é uma ” trifeta ” que combina direito de patentes, pesquisa e empreendedorismo, ou seja, a capacidade de transformar uma tecnologia em um produto vendável.
A criação da KSCIA International Space Academy
Anos após se aposentar da NASA, Mike Lester co-fundou a KSCIA International Space Academy com Jefferson Michaelis, diretor da Câmara de Comércio Brasil-Flórida na época.
A paixão pela educação os motivou a criar uma escola focada em levar a educação espacial para estudantes em todo o mundo, especialmente no Brasil.
A ideia surgiu após uma viagem de Lester ao Brasil, onde ele e Michaelis visitaram escolas públicas e tentaram motivar os jovens a estudar STEM(Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática).
Eles perceberam a necessidade de um programa educacional prático e imersivo. ” Nós éramos grandes defensores da educação prática, de workshop, da educação experiencial prática, que chamamos de aprendizado baseado em projetos “, disse Lester.
O objetivo era trazer crianças para a Space Coast, na Flórida, para uma semana de aprendizado intensivo e visitas a instalações espaciais, como o Complexo de Visitantes do Centro Espacial Kennedy, e interagir com profissionais da área.
Lester ressaltou a importância do STEM para o futuro do mundo. Ele descreveu a era atual como a ” quarta revolução industrial “, impulsionada pela tecnologia, e não mais pela manufatura.
” Quem são as pessoas? Quais são as habilidades que estão impulsionando essa revolução? Cientistas, engenheiros, matemáticos, desenvolvedores de tecnologia “, afirmou.
Ele destacou que o STEM está na vanguarda da revolução que está mudando como vivemos, citando a internet como um exemplo de tecnologia que se tornou indispensável em pouco tempo.
O novo espaço e as oportunidades
Sobre o ” novo espaço “, Mike Lester explicou que se refere ao espaço comercial, onde empresas privadas estão cada vez mais envolvidas na exploração espacial.
” A exploração espacial nunca foi tão emocionante e tão aberta e disponível para qualquer pessoa no mundo que esteja disposta a desenvolver essas habilidades STEM “, disse ele.
Ele mencionou empresas como Blue Origin e SpaceX, que estão construindo seus próprios veículos de lançamento e colocando coisas no espaço, algo que antes era restrito a governos.
Lester concluiu que o espaço comercial é uma indústria multibilionária em crescimento, oferecendo inúmeras oportunidades para aqueles com as habilidades certas.
Divulgação científica acessível
A entrevista com Mike Lester fez parte do quadro “iG Foi Pro Espaço”, dedicado a traduzir temas complexos do universo e do setor aeroespacial de forma acessível e com bom humor.
O programa vai ao ar toda quarta-feira, às 18h, no YouTube do Portal iG.
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