Na fase de grupos da Copa do Mundo de Clubes, os reservas do Borussia Dortmund assistiram ao primeiro tempo do jogo contra o Mamelodi Sundows dentro do vestiário, por causa do calor de 31°C em Cincinatti. Foram chamados de fracos e arrogantes.
Depois de Atlético de Madrid x PSG, em Pasadena, o meio-campo Marcos Llorente descreveu o calor como “impossível” e disse que as unhas dos dedos dos pés doíam. Teve gente que achou frescura.
Mas o fato é que faz calor, muito calor, aqui nos Estados Unidos. Quem assiste de casa, em um país quente como o Brasil, pode acabar caindo na armadilha de desmerecer situações como essas, achar que é desculpa dos europeus.
Mas, em um planeta que não para de se aquecer, altas temperaturas são questão de saúde pública e um risco para os atletas. Calor e umidade são um desafio para jogadores, árbitros, jornalistas, para quem trabalha em outras áreas em um torneio de futebol, e têm modificado a experiência do espectador. O que acontece agora serve de alerta para a Copa do Mundo de seleções, que será nesta mesma época no ano que vem, nos Estados Unidos, no Canadá e no México.
Um estudo recente feito por pesquisadores da Queen’s University em Belfast, na Irlanda do Norte, revelou que em 14 dos 16 estádios que serão usados no Mundial de 2026 as temperaturas podem chegar a níveis perigosos para a saúde.
Os horários das partidas só serão revelados em dezembro, mas é provável que tenhamos vários jogos ao meio-dia, no início e no meio da tarde, pensando na audiência europeia. O estádio em Nova Jersey, que vai sediar oito partidas, inclusive a final, é completamente aberto. As temperaturas máximas nesta semana aqui em Nova York vão passar dos 32°C. A ver se haverá ajustes para colocar certas partidas em arenas cobertas. Em Atlanta, que também receberá oito jogos, o estádio tem teto retrátil.
Clubes já fazem análises individuais nos jogadores para medir quanto eles suam enquanto estão em campo e, assim, calcular a quantidade de eletrólitos que precisam receber para compensar a perda. Como cada detalhe faz diferença, e devido aos perigos que a desidratação e a insolação podem causar, atitudes como a do Borussia, que buscam poupar ao máximo os jogadores do calor, não são surpresa. Alguns treinadores têm optado por fazer sessões mais curtas de treinos, e por aí vai.
Além disso, o diretor médico do sindicato global dos jogadores, FIFPro, defende que o intervalo entre o primeiro e o segundo tempo aumente para 20 minutos em situações de calor extremo.
Nos últimos dias, ondas de calor têm afetado também a Europa, gerando mortes, principalmente entre idosos, e incêndios. Na Suíça, a Eurocopa feminina começou com temperaturas acima dos 35°C. O torneio de tênis de Wimbledon teve o primeiro dia mais quente de sua história: 33°C. A partida entre Carlos Alcaraz e Fabio Fognini, na quadra central, teve que ser interrompida depois que um espectador desmaiou.
Há anos cientistas alertam sobre os riscos do aquecimento global e das mudanças climáticas provocados pela ação humana. O mundo do esporte sabe que precisa se adaptar, e rápido.
A colunista está nos Estados Unidos como integrante da organização responsável pela transmissão oficial da Copa do Mundo de Clubes
LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.
Folha de S.Paulo