
Presidente da Câmara, Hugo Motta, virou alvo de vídeos gerados por IA
Quem não está familiarizado com o rosto de Hugo Motta (Republicanos-PB) nem com a estética dos vídeos gerados por Inteligência Artificial pode até se confundir e imaginar que é realmente o presidente da Câmara quem está rindo e debochando dos trabalhadores em um podcast fake ao lado de um comentarista branco, rosto sem barba, terno bem alinhado – como um bom faria limmer.
O vídeo foi compartilhado pelo perfil de um apoiador do governo Lula nas redes. E viralizou.
A produção, para quem não notou, é (quase) toda fake, mas não tem mentiras na mensagem – tá, tem algumas: parlamentar não descansa sete dias da semana e ainda reclama do cafezinho. O descanso é, na verdade, de quatro dias. E o café no Congresso é ok.
Mas a conversa fake é só um jeito debochado (e desenhado) de falar o que um parlamentar do centrão costuma dizer com outras palavras e em outro tom.
ATENÇÃO!! Mais um EXCELENTE VÍDEO expõe a hipocrisia de Hugo Motta, cachorrinho dos bilionários!!
Enquanto ele FERRA a população, nós trabalhamos pra pagar a MAMATA dele e seus COMPARSAS de direita!!HUGO MOTTA TRAIDOR!!
pic.twitter.com/MvYk5Autyd— Thiago dos Reis 🇧🇷 (@ThiagoResiste) July 3, 2025
Não é mentira que o povo trabalha tanto que nem tem tempo de notar quando alguém aprova uma nova mordomia. E que se o povo parar de trabalhar não vai ter ninguém para pagar o auxílio-paletó.
Ou que, enquanto a maioria das pessoas pega dois ônibus para trabalhar, os líderes da Câmara pegam dois voos semanais com verba pública.
Ou que não querem votar o fim da escala 6 para 1 (seis dias de trabalho para um de descanso) porque, se não, o empresário – ou doadores e patrocinadores de campanha e mandato – vão reclamar. (Isso aqui até a Quaest divulgada nesta semana atestou).
E que tem gente no povo feliz porque o Congresso barrou o aumento de impostos para os mais ricos.
Enfim, o vídeo é fake, mas a mensagem, não.
Produções do tipo começam a viralizar e a minar o capital político dos chefes da Câmara e do Senado que nos bastidores atuam para minar o capital político do governo. Dente por dente.
Mas Hugo Motta já vê digitais do governo na produção cinematográfica e promete revidar.
De fato, se não tem dedo os partidos da base, eles não devem estar achando ruim a repercussão.
A esquerda, que tanto andou em círculo para conseguir se comunicar nas redes, parece ter encontrado um filão: já que a conversa com o Congresso vai ser assim (assim: sem conversa), vão usar as armas que têm. E mostrar quem está do lado dos privilégios e privilegiados do país.
Prova disso é o que, alinhados a esse discurso, as lideranças do PT estão verbalizando em público, seja nos discursos no Congresso ou nas redes, o que até outro dia só diziam em ano eleitoral.
Um exemplo é o que postou o líder do PT na Câmara, Lindbergh Faria (RJ) sobre o tal “nós contra eles”:
“Dividimos o país quando defendemos o fim da escravidão
Dividimos o país quando conquistamos o salário mínimo
Dividimos o país quando asseguramos dignidade na CLT
Dividimos o país quando veio o 13° salário
Dividimos o país quando colocamos negros e pobres na Universidade
Dividimos o país quando asseguramos direitos às empregadas domésticas
Dividimos o país quando lutamos por uma jornada digna e o fim da escala 6×1
Dividimos o país quando queremos que os ricos paguem a conta
Lutar contra a desigualdade é dividir o país. Harmonia é não atacar os privilégios das elites!”
A jogada é de risco e pode incendiar ainda mais o debate.
No livro do Apocalipse, o mensageiro avisa que quem é morno, nem frio nem quente, será vomitado no fim dos tempos (chegamos lá?).
Aparentemente o tom (morno) da conciliação já não funciona. A estratégia pode até dar muito errado, mas ninguém ali vai ser vomitado ou engolido por falta de temperatura.
IG Último Segundo