Inzaghi busca o improvável com o Al Hilal no Mundial – 03/07/2025 – Esporte


Simone Inzaghi, 49, parecia estar nas nuvens na última segunda-feira (30). Segundos antes do apito derradeiro do árbitro Jesús Valenzuela, estava pendurado em um dos integrantes de sua comissão técnica, no Camping World Stadium, em Orlando, celebrando a vitória do Al Hilal sobre o Manchester City nas oitavas de final da Copa do Mundo de Clubes,

“Tínhamos de subir o Everest sem oxigênio e conseguimos”, disse o italiano, responsável por impor a Pep Guardiola sua primeira derrota em 12 jogos em Mundiais.

Contratado pelo Al Hilal depois do vice-campeonato da Champions League com a Inter de Milão –o segundo nas últimas três temporadas–, ele agora cruza o caminho do Fluminense em partida que decide o primeiro semifinalista do torneio, às 16h (de Brasília) desta sexta (4), também em Orlando.

O torneio nos Estados Unidos tem sido importante para o treinador, que vem crescendo desde que assumiu pela primeira vez um time principal, há nove anos.

Em 2016, depois de seis temporadas trabalhando nas categorias de base da Lazio, o ex-atacante já havia praticamente jogado a toalha no plano de assumir a equipe profissional –pela qual teve passagem marcante como jogador. A gota d’água foi o anúncio do argentino Marcelo Bielsa para substituir Stefano Pioli.

Simone estava inclinado a aceitar uma oferta da Salernitana, da segunda divisão, mas tudo mudou com a desistência repentina de Bielsa dois dias depois do acordo, sob a justificativa de não ter recebido reforços prometidos.

“Escolhemos Inzaghi, que não é uma segunda opção. Vimos nele o treinador ideal para seguir com nossos projetos”, justificou o então presidente Claudio Lolito.

Inzaghi, de fato, precisou de pouco tempo para provar não ser mero improviso. Logo na primeira temporada, pôs fim em um incômodo jejum de vitórias de quatro anos contra a arquirrival Roma, classificou a equipe à Liga Europa com um quinto lugar no Italiano e foi vice na Copa da Itália.

Na Lazio, o treinador criou um padrão de jogo com o esquema 3-5-2, contando com zagueiros técnicos, alas ofensivos, jogadores mais móveis na frente e um centroavante fixo. Deixou o clube com os títulos da Copa da Itália (2019) e da Supercopa da Itália (2017 e 2019) e classificado para a Champions.

Partiu, então, em 2021, à Inter, também elogiada pelo padrão tático. Vice-campeão da Champions em 2023 –com dura derrota para o Manchester City, de Guardiola–, teve de reinventar o time após a saída de cinco titulares: Dzeko, Lukaku, Onana, Škriniar e Brozovic.

“Na carreira de treinador, não existe um ponto de chegada, pode-se sempre melhorar”, escreveu, na tese apresentada para obter a licença pela FIGC (Federação Italiana de Futebol), apontando como maior exemplo o atual técnico da seleção brasileira, Carlo Ancelotti.

No texto, cita que “um treinador que acredita em seu trabalho e quer ter sucesso precisa saber a importância da força do grupo”. Recorda também a influência de seu primeiro técnico, o italiano Giuseppe Materazzi, com quem trabalhou no Piacenza, e as lições do italiano Roberto Mancini: “Com Mancini aprendi como estimular da maneira certa as diferentes personalidades de um grupo de jogadores”.

Inzaghi demonstra ainda um apreço especial pelo sueco Sven-Göran Eriksson, que morreu recentemente em decorrência de um câncer no pâncreas: “Indiscutivelmente, o número um, pela forma como lidava com um elenco repleto de nomes de peso na Lazio”.

Como atleta, apesar dos 90 gols marcados na elite do futebol italiano, Simone sempre ficou à sombra do irmão mais velho, Filippo, artilheiro e multicampeão por equipes de maior peso, como Juventus e Milan.

Como treinador, resume a quatro fases a montagem de um grupo vencedor: formação, rebelião, normalização e desempenho.

Na primeira etapa, há o entendimento da importância de primeiro encontrar um papel para cada um dos jogadores do grupo. A segunda se dá quando surgem disputas internas para a confirmação dos papéis e dos protagonistas. “Nessa etapa, é necessário que o treinador se comunique com os atletas de forma objetiva e aberta.”

A normalização é o momento em que o elenco de jogadores se estabelece “vive uma unidade como equipe”. E o desempenho é visto quando o grupo consegue atingir o objetivo.

A Inter esteve a 90 minutos do objetivo principal na última Champions, mas foi atropelada na final, vencida por 5 a 0 pelo Paris Saint-Germain. Inzaghi, então, aceitou uma altíssima oferta do Al Hilal e embarcou aos Estados Unidos para o Mundial, em nova tentativa de surpreender.



Folha de S.Paulo