
Área queimada na região da Serra do Amolar, no Pantanal, em setembro de 2024 e a mesma área,em junho de 2025
O Pantanal, um dos biomas mais castigados pelas queimadas nos últimos anos, registrou, no primeiro semestre de 2025, uma redução histórica de 97,8% nas áreas queimadas, em comparação ao mesmo período do ano passado.
Os dados, divulgados pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) nesta quarta-feira (2), são do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (Lasa) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Análise do Sistema BDQueimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), revela também a diminuição de 97,6% no número de focos de calor no primeiro semestre de 2025 na comparação ao mesmo período de 2024.
O levantamento do MMA identificou redução nas áreas queimadas e nos focos de calor em quatro dos seis biomas brasileiros, sendo que o Pantanal foi o que apresentou redução mais acentuada.
Vale destacar que, em 2024, houve aumento de 157% da área queimada no Pantanal. Na época, foi o bioma onde proporcionalmente a ocorrência de incêndios mais cresceu no país, em comparação à média histórica.
Condições climáticas e muito trabalho
De acordo com Angelo Rabelo, diretor-presidente do Instituto Homem Pantaneiro (IHP), organização da sociedade civil sem fins lucrativos que atua na gestão de áreas protegidas do Pantanal, além do trabalho de prevenção e combate a queimadas que vem sendo desenvolvido, as condições climáticas ajudaram na redução das queimadas.
Em entrevista ao Portal iG, Rabelo afirmou que a contribuição da natureza tem sido fundamental, já que a estiagem que a região enfrentava desde 2020 deu uma trégua.
“Choveu mais neste ano em comparação a 2024. O nível do rio Paraguai subiu a mais de 3,2 metros, o que não acontecia desde setembro de 2023, e alagou muitas áreas, antes secas nesse período do ano. E agora, em junho, ainda tivemos o registro de chuvas. É uma esperança renovada” , diz.
Mas não foi só o fim da estiagem que ajudou. Segundo o diretor-presidente do IHP, muitos esforços têm sido realizados para prevenir os incêndios florestais no Pantanal.
“Trabalhar com prevenção passou a ser uma exigência, manter brigada atuando ao longo de todo o ano, construindo aceiros, criando rotas de fuga para a animais. O trabalho de educação ambiental em comunidades e outras áreas também é uma prioridade” , enfatiza.
Ele ressalta ainda que, pelo IHP, a brigada é permanente e atua o ano todo, desde 2021, na região do Alto Pantanal.
“Junto com o trabalho de campo, temos o uso de tecnologia, com inteligência artificial, no Sistema Pantera, para ajudar na detecção rápida de focos de fumaça e agir mais rápido. Contribuímos também para que a Aldeia Uberaba Guató passasse a ter uma Brigada formada e treinada ”, enumera.
E acrescenta que o instituto vem trabalhando também na recuperação de áreas afetadas pelo fogo.
“Realizamos plantios de milhares de mudas neste primeiro semestre, e já estamos atuando para a semeadura de outras para haver plantio futuro”.
Prevenção contínua
Os resultados são positivos, mas Rabelo reforça que o trabalho da prevenção precisa ser realizado continuamente.
Segundo ele, as ações de construção e manutenção de aceiros e rotas de fuga para a vida selvagem continuam sendo realizados pelo IHP na região da Serra do Amolar, assim como o monitoramento para identificar fumaça.
Ele adverte que, historicamente, o período mais grave para os incêndios começa em agosto e a educação ambiental sobre o uso do fogo de forma racional é primordial para evitar um novo cenário de tragédia.
O Instituto Homem Pantaneiro mantém parcerias com o governo federal através do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO), além do Ministério do Meio Ambiente e Mudança Climática, via Ibama.
Outros biomas
Ainda de acordo com levantamento do MMA, a queda nas áreas queimadas de janeiro a junho de 2025 em relação ao primeiro semestre de 2024, no Brasil, foi de 65,8% .
Em números absolutos, o país saiu de 3,1 milhões de hectares queimados no primeiro semestre de 2024 para cerca de 1 milhão nos primeiros seis meses de 2025.
Depois do Pantanal, a Amazônia foi o bioma com o segundo melhor resultado em ambos os critérios.

Depois do Pantana, Amazônia foi o bioma com melhor resultado na queda de áreas queimadas neste ano
Foi identificada redução de 75,4% nas áreas queimadas, com o registro de 247,9 mil hectares comprometidos no primeiro semestre de 2025 frente a mais de 1 milhão de hectares queimados em 2024 no mesmo intervalo temporal.
O primeiro semestre desse ano somou 5.169 focos de calor no bioma, o que representou uma redução de 61,7%, em relação ao mesmo período do ano passado, quando foram contabilizados 13.489 focos de calor.
Em seguida, vem a Mata Atlântica, com queda de 69,7% da área atingida pelo fogo, saindo de 91,9 mil hectares no primeiro semestre de 2024 para 27,8 mil hectares nesse período em 2025.
Em focos de calor, a diminuição foi de 33,3%: 2.619 de janeiro a junho de 2025 ante 3.927 de janeiro a junho de 2024.
Já no Cerrado foi constatada queda de 47% nas áreas queimadas, com 724,6 mil hectares atingidos pelo fogo de janeiro a junho de 2025. No ciclo anterior, foram identificados 1,3 milhão de hectares queimados.
O bioma sofreu redução de 33,1% em relação aos focos de calor no primeiro semestre de 2025 (8.854) na comparação com o primeiro semestre de 2024 (13.229).
Pampa e Caatinga foram os únicos biomas que registraram aumento nos dois indicadores.
As áreas queimadas na Caatinga saíram de 34.426 para 38.374 hectares. Os focos de calor foram de 1.632 no primeiro semestre de 2024 para 2.161 de janeiro a junho de 2025.
No Pampa, as áreas comprometidas pelo fogo subiram de cerca de 7,1 mil para 11,5 mil nesse mesmo período. Já os focos de calor passaram de 123, no primeiro semestre de 2024, para 388 em 2025.
De acordo com o MMA, os resultados são reflexo de condições de seca e riscos de incêndios menos severas em 2025, após situações atípicas em 2023 e 2024, somadas a um conjunto de esforços adotado pelo governo federal em parceria com estados para enfrentar os incêndios.
Também aponta parceria do governo federal com estados, municípios, setor privado e sociedade civil, que resultou na implementação de programas de prevenção, preparação e combate a incêndios.
Entre as medidas, o MMA destaca a contratação do maior contingente de brigadistas federais, a implementação da Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo, aprovada em 2024; a reestruturação dos órgãos de fiscalização ambiental, a liberação de recursos específicos para estados críticos.
IG Último Segundo