Por Poio Estavski
Dois anos e cinco meses após a tragédia de 2023, o trabalho do Instituto Conservação Costeira (ICC) em São Sebastião é reconhecido nacionalmente como exemplo de resposta articulada entre governo estadual, prefeitura e sociedade civil. A segunda visita técnica do curso executivo Insper Cidades, coordenado por José Police Neto, reafirma o território como um dos principais cases do país em soluções para eventos climáticos extremos — com ações que vão da habitação popular à restauração ambiental e à educação climática.
Na terça-feira (1/7), em meio a um novo alerta de chuvas intensas — com mais de 100 mm acumulados em 24 horas e risco de deslizamentos —, São Sebastião voltou a ser visitada por lideranças de todo o país. A cidade recebeu a segunda visita técnica do curso executivo Insper Cidades, voltado à formação de gestores públicos e privados com foco em inovação, planejamento urbano e enfrentamento às desigualdades.
Coordenado pelo subsecretário de Desenvolvimento Urbano do Estado de São Paulo, José Police Neto, o curso levou ao território mais de 60 representantes de prefeituras, empresas, universidades e movimentos sociais, que puderam aprender na prática como o município tem estruturado sua reconstrução pós-desastre, com destaque para as estratégias de gestão territorial desenvolvidas pelo Instituto Conservação Costeira (ICC).
Do caos à reconstrução: ICC lidera articulação entre Estado e comunidades
O grupo foi recebido pelo ICC, organização com mais de 12 anos de atuação no Litoral Norte paulista e reconhecida, em 2024, como a melhor ONG de meio ambiente e sustentabilidade do Brasil. Ao lado do poder público, o Instituto lidera as principais frentes de reconstrução ambiental e climática do município, combinando tecnologia, articulação comunitária e fortalecimento de políticas públicas.
Em fevereiro de 2023, quando a tragédia deixou 65 mortos, mais de mil deslizamentos e milhares de pessoas desabrigadas, o ICC atuou desde os primeiros dias. A sede do Instituto Verdescola foi transformada em abrigo e base humanitária, inclusive com uma sala funcionando como necrotério, diante do colapso total de acesso à Vila Sahy.
A coordenação daquela resposta emergencial ficou sob responsabilidade de Fernanda Carbonelli, atual diretora do ICC, que passou a liderar também a frente ambiental com o lançamento do Projeto Restaura Litoral — iniciativa premiada cinco vezes e reconhecida internacionalmente.
Projeto Restaura Litoral: inovação com drones para restaurar a Mata Atlântica
O Restaura Litoral é uma das maiores iniciativas de restauração ecológica já realizadas na Mata Atlântica com o uso de drones no Brasil. Coordenado pelo Instituto Conservação Costeira (ICC), o projeto une tecnologia, ciência e saberes tradicionais para acelerar a regeneração de áreas afetadas por deslizamentos de terra após a tragédia climática de fevereiro de 2023, que devastou parte do município de São Sebastião.
Com foco em regiões de alto risco — como Boiçucanga, Camburi e Vila Sahy — o projeto promove a recuperação de encostas e corredores ecológicos, ajudando a estabilizar o solo, evitar novos desastres e restaurar a biodiversidade local.
Desde sua criação, o Restaura Litoral já lançou sementes nativas em mais de 203 hectares, por meio de semeadura aérea com drones, em áreas de difícil acesso e alta inclinação. A ação é realizada com apoio da Concessionária Tamoios, por meio de um Termo de Compromisso Ambiental, e conta com o engajamento de viveiros regionais, coletores de sementes, técnicos ambientais e comunidades tradicionais que conhecem profundamente o bioma da Mata Atlântica.
Projeto Escolas Seguras: educação climática para salvar vidas
Paralelamente à restauração ambiental, o ICC desenvolve o Projeto Escolas Seguras, com patrocínio da Gerando Falcões, para preparar a nova geração frente aos riscos climáticos. A iniciativa já envolveu mais de 2.000 estudantes de escolas públicas em ações educativas, cartografia social participativa, instalação de pluviômetros, mutirões ambientais e oficinas com foco em redução de risco, percepção territorial e soluções baseadas na natureza.
O projeto fortalece a cultura de prevenção e mobiliza comunidades escolares a atuarem como agentes da mudança, integrando o conhecimento técnico com a realidade local. São jovens que vivem nas áreas de maior vulnerabilidade do município e que hoje participam ativamente das soluções para os desafios impostos pela emergência climática.
Alunos do Projeto Escolas Seguras em apresentação para diretoria de ensino. Foto: Instituto Conservação Costeira
Reconstrução em rede: um modelo de ação para o Brasil
De abrigos improvisados às novas moradias entregues pelo CDHU, da regeneração da Mata Atlântica com biotecnologia às aulas de educação climática em escolas públicas, São Sebastião tornou-se um exemplo concreto de reconstrução climática e urbana estruturada em rede. Um modelo de resposta que alia tecnologia, justiça social, protagonismo comunitário e integração entre esferas de poder.
É esse case de reconstrução local com impacto nacional que agora retorna ao centro do debate, inspirando gestores e lideranças a reimaginarem suas cidades diante da nova realidade climática. Como mostra a visita técnica do Insper, o futuro da adaptação climática no Brasil pode começar nas comunidades que, mesmo devastadas, se levantaram para reconstruir — e para resistir.
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