
Imagens de 1972, da chegada do corpo de Dom Pedro ao Rio de Janeiro
O 150º aniversário da Independência do Brasil popularizou o termo “sesquicentenário” na época e teve como principal marca o traslado para o Brasil do corpo de Dom Pedro I, com direito a lançamento de moeda comemorativa, de 20 cruzeiros.
Segundo destacou a Agência Senado, em uma reportagem de 2022, ao longo de 1972, festividades alusivas ao grito do Ipiranga se espalharam pelo país inteiro, organizadas majoritariamente pelo governo militar e com grande participação popular.
E a estrela da festa do sesquicentenário foi D. Pedro I.
Encabeçada pelo general Emílio Garrastazu Médici, a ditadura militar conseguiu trazer para o Brasil os ossos do imperador, após negociações diplomáticas com a ditadura de Portugal, onde ele estava sepultado.

Correio da Manhã destacou a festa da chegada dos restos mortais do imperador
Os restos mortais de D. Pedro I atravessaram o Oceano Atlântico a bordo de um navio e, em 22 de abril, coincidentemente Dia do Descobrimento, chegaram à Baía de Guanabara, trazidos pelo presidente português, almirante Américo Tomás.
Do Rio de Janeiro, o caixão foi levado para todas as demais capitais brasileiras.
Desfile e velório nas capitais
Em cada cidade, os restos mortais estiveram em desfiles cívicos e ficaram expostos em prédios públicos para velório a visitação popular..
Em 7 de setembro, o monarca foi sepultado com todas as honras no Monumento da Independência, em São Paulo, na Cripta Imperial, onde, exatos 150 anos antes, ele havia gritado “independência ou morte”.
Ali terminaram as comemorações.
“Portugal nos transfere agora os desejados despojos de nosso primeiro monarca, como nos transladou um dia seu gênio, sua cultura, seu espírito e sua fé, para que esses valores, bafejados de sol tropical, construíssem o nosso mundo”, acrescentou o senador Guido Mondin (Arena-RS), de acordo com texto da Agência Senado.
E prosseguiu: “Aqui temos para todo o sempre o galhardo Bragança, mas ficará em Portugal, numa de suas cidades [no Porto], o coração que outrora pulsara por entre mil emoções ”.

Ilustração de Dom Pedro I e o coração do imperador, que foi exposto no Brasil em 2022
O senador falava do coração de Dom Pedro I que havia ficado em Portugal, preservado em um vaso de prata dourada, dentro de um estojo forrado de veludo negro.
O órgão somente veio para o Brasil no dia 22 de agosto de 2022, para as comemorações do Bicentenário da Independência do Brasil.
O coração chegou em Brasília, na Base Aérea, e foi recebido com honras de chefe de Estado, marcando um evento solene.
Ele ficou exposto no Palácio do Itamaraty até o dia 5 de setembro, antes de retornar a Portugal.
Moeda comemorativa
E foi com a intenção de associar sua imagem à figura histórica de Dom Pedro I que o governo militar, que governava o país desde 1964, além de trasladar para o Brasil os restos mortais do imperador, também lançou uma moeda comemorativa.
Com 34,5 mm de diâmetro e peso de 18,04 gramas, é feita de prata 0.900 e possui a legenda “SESQUICENTENÁRIO DA INDEPENDÊNCIA” em sua borda.
Apresenta no anverso a imagem de D. Pedro I, simbolizando a proclamação da independência, e no reverso, o busto do então presidente Emílio Garrastazu Médici, representando a gestão militar.

Moeda de 20 centavos de 1972, com imagens de Dom Pedro I e do presidente Médici
A escolha de D. Pedro I e Médici na mesma moeda, segundo os historiadores buscava legitimar o regime militar, criando um sentimento de nacionalismo.
Atualmente, ela é peça de colecionador e dependendo do seu estado de conservação e da casa de numismática, pode ser comercializada a até R$ 700.
Em pronunciamentos sobre a Independência, os senadores da Arena, o partido governista, tentavam demonstrar que o regime militar iniciado em 1964, chamado por eles de “revolução”, era uma continuidade do reinado de D. Pedro I.
“O nosso esforço de modernização do país tem sido impulsionado pelos estadistas da revolução, na continuidade das ações de outros grandes brasileiros da história, como o príncipe que se transformou no imperador e fundou o Estado brasileiro”, afirmou o senador José Lindoso (Arena-AM).
Os dois lados da moeda
Ainda de acordo com a Agência Senado, viviam-se os anos de ouro da economia. Era o auge do chamado milagre econômico brasileiro, período em que o país registrou taxas de crescimento extraordinariamente altas e sem precedentes.
Num pronunciamento, o senador Virgílio Távora (Arena-CE) lembrou que o crescimento do produto interno bruto (PIB) em 1971 havia ficado na impressionante casa dos 11%.
Já o senador Franco Montoro (MDB-SP), da oposição, fez uma análise diferente.
“A população brasileira está ficando mais pobre. Houve perda do poder aquisitivo. Esse fato é rigorosamente real. A má distribuição de rendas é uma consequência necessária do desenvolvimento econômico? Sim, dizem os porta-vozes da política oficial. Não, respondem autorizados economistas, sociólogos e professores brasileiros”.
O fato é que o Brasil vivia o período que os historiadores chamam de “anos de chumbo”.
Os militares governavam amparados em instrumentos legais como o Ato Institucional 5 (AI-5), de 1968, que permitia ao presidente fechar o Congresso, cassar mandatos parlamentares, retirar direitos políticos, intervir em estados e municípios e suspender a garantia do habeas-corpus.
Nesse momento, segundo a Comissão Nacional da Verdade, as torturas de intensificaram.
Os discursos dos senadores fazem parte do Arquivo do Senado, em Brasília. Outros documentos do mesmo acervo histórico mostram que a Independência foi um dos temas predominantes no Parlamento em 1972.
IG Último Segundo