“Não se pode elogiar.” Eis uma expressão da qual me lembrei ao me decepcionar com o futebol apresentado pelos clubes brasileiros na terceira rodada, a derradeira, da fase de grupos da Copa do Mundo de Clubes (Supermundial), disputada nos EUA.
No texto anterior a este no blog, intitulado “Quarteto Fantástico”, mostrei-me animado com o desempenho até então de Flamengo, Botafogo (duas vitórias cada um), Palmeiras e Fluminense (um empate seguido de uma vitória cada um).
A expectativa para os jogos seguintes do quarteto era a melhor possível.
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Em Pasadena, o Botafogo enfrentaria um Atlético de Madrid que levara de 4 a 0 do PSG, a quem a equipe da estrela solitária derrotara por 1 a 0.
Mas, mesmo com força máxima, o Fogão foi bem inferior ao time espanhol. Atacou muito pouco e, merecidamente, levou um gol perto do final. Resultado: perdeu o jogo e a liderança do grupo para o PSG, e se deu mal para as oitavas de final. Explico adiante o porquê.
O Palmeiras teria diante de si o Inter Miami. Que tem Messi (supercraque, mas já veterano), Suárez (craque, mas já veterano), Busquets (de grande carreira, mas já veterano) e um punhado de jogadores medíocres.
Em Miami Gardens, Abel Ferreira mudou o time que tinha ganhado com certa facilidade do Al Ahly (2 a 0), escalando Marcos Rocha, Lucas Evangelista e Flaco López, e não deu certo. Messi e Suárez (que marcou um golaço) sobraram, e a equipe da Flórida teve dois de vantagem no placar.
Sem inspiração ou técnica, e com risco de perder a vaga para o Porto e ser eliminado caso fosse derrotado, o alviverde buscou o empate na base do abafa, com os substitutos Paulinho e Maurício.
O 2 a 2 fez com que o time paulista escapasse de um cruzamento indigesto com o PSG, o atual campeão europeu, vencedor do grupo do Botafogo, que, eis razão do “se dar mal”, fará duelo eliminatório com o Palmeiras, que tem muito mais time que o esforçado porém limitado Inter Miami.
Em Orlando, esperava-se do já classificado Flamengo –que foi a campo com a primeira posição do grupo garantida– um triunfo fácil, o terceiro na Copa, e uma atuação convincente diante do eliminado Los Angeles FC (duas derrotas).
Filipe Luís poupou meio time, e quem jogou ficou devendo. Não foi uma atuação péssima do rubro-negro, tanto que acertou a trave do goleiro Lloris quatro vezes, mas essas oportunidades apenas mascararam a ausência de conjunto e competitividade do mistão, além de expor a falta de mira –trave é finalização errada.
O LA FC marcou já perto do fim, em seu único chute certo, e o Flamengo achou o empate logo em seguida em jogada individual de Wallace Yan, 20, dois gols em dois jogos, sendo o garoto a única boa notícia para a maior torcida do Brasil, que certamente não se satisfez com o que viu no geral.
Os retornos de Gerson, Léo Pereira, Pulgar, Ayrton Lucas, Wesley e Plata, todos titulares no 3 a 1 no Chelsea, são esperança da volta do futebol produtivo e eficaz, essencial para sobreviver ao Bayern de Munique, o adversário nas oitavas.
Em Miami Gardens, onde o Palmeiras tropeçou, o Fluminense, que lutava pelo primeiro lugar do grupo e simultaneamente contra a eliminação, detinha o favoritismo diante do Mamelodi, da África do Sul.
Achei bem preocupante o 0 a 0, pela falta de poderio ofensivo do tricolor (só seis finalizações, zero certas) e porque foi nítido o domínio do rival, que obrigou o goleiro Fábio a trabalhar. No fim, foi sofrido, e o Flu deve agradecer muito a João de Deus por seguir vivo no Supermundial. Próximo jogo: Inter de Milão, parada indigesta. Caso tivesse ganhado o grupo, o oponente seria o Monterrey, do México.
O futebol tem disso, a capacidade de transformar em pouquíssimo tempo um cenário de “céu aberto, azul” em outro de “céu nebuloso, cinza”. E vice-versa.
Que a queda de rendimento possa ter um efeito positivo em cada integrante do quarteto, de resgate do futebol que me fez qualificá-lo de fantástico.
Elogios engavetados, de certo só posso cravar que daqui a alguns dias esse quarteto será desfeito. No máximo, três brasucas continuarão na disputa. No mínimo, um. (Mais que os argentinos: Boca e River, insossos, já deram “adiós” aos EUA.)
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Folha de S.Paulo