A primeira Copa do Mundo de Clubes da Fifa no formato com 32 participantes está em andamento desde o dia 14 nos Estados Unidos.
É o Supermundial, e tenho acompanhado os jogos com interesse, com especial atenção aos dos times brasileiros, dos principais times europeus e do time em que joga Messi (Inter Miami).
No meu trabalho do dia a dia na Folha, convivo com notícias variadas, de diferentes editorias. Um dos assuntos que têm tido mais destaque é o conflito no Oriente Médio entre Israel e Irã, que vem instando o presidente Donald Trump, dos EUA, partidário dos israelenses, a intervir.
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Os detalhes relacionados a esse embate podem ser encontrados no conteúdo publicado pelo jornal em Mundo, e não é meu intuito abordar as razões políticas, militares e religiosas. Aqui, a pergunta a ser feita é: quais os desdobramentos para o Supermundial deste ano e para o Mundial do ano que vem, quando os Estados Unidos também serão sede?
Agora, o efeito prático é pequeno. Não há equipe do Irã participando. Representam a Ásia um time da Arábia Saudita (Al Hilal), um da Coreia do Sul (Ulsan), um dos Emirados Árabes Unidos (Al Ain) e um do Japão (Urawa Reds).
Aproximadamente mil jogadores estão inscritos na Copa do Mundo de Clubes, e apenas um é iraniano. O atacante Mehdi Taremi, 32, da seleção de seu país (é seu terceiro maior artilheiro e atuou nos Mundiais da Rússia-2018 e do Qatar-2022) e da Inter de Milão.
Em sua estreia no Supermundial, na terça-feira (17), 1 a 1 contra o mexicano Monterrey em Pasadena (Califórnia), o atual vice-campeão europeu não contou com Taremi, que é um dos reservas para o ataque.
Ele não pôde viajar porque o espaço aéreo iraniano fechou devido à troca de ataques aéreos entre Teerã e Tel Aviv. Taremi está na capital iraniana desde o começo da semana passada. Jogou no dia 10 no 3 a 0 do Irã sobre a Coreia do Norte, pelas Eliminatórias da Copa de 2026. Marcou um gol.
Sem conseguir ir aos EUA neste momento, o camisa 9 iraniano, que na Inter veste a 99, possivelmente não irá também no ano que vem.
O Irã está classificado para a Copa. Ainda falta quase um ano para o início do Mundial de seleções, mas não é preciso ser profeta para antecipar que Trump fará todo o possível para que cidadãos iranianos sejam impedidos de entrar tão cedo nos EUA.
Hoje, essa proibição vigora e, com o republicano ocupando a Casa Branca, esse “tão cedo” deve perdurar pelo restante do mandato.
No futebol, teoricamente, o veto à entrada de iranianos não vale, por haver um acordo segundo o qual esportistas têm “passe livre” para participar de competições importantes nos EUA, casos da Copa de 2026 e das Olimpíadas de 2028.
A palavra “teoricamente” ganha força quando se trata de Trump, líder que dita as regras e leis conforme seus interesses, não hesitando em agir intempestivamente para modificá-las ou deturpá-las sempre que lhe for conveniente.
Caso o presidente confrontador e autoritário bata o pé, a Fifa, que organiza as Copas (de clubes e de seleções) não terá coragem, aposto, de enfrentá-lo –economicamente, não interessa. Arranjará um jeito (convincente ou não) de excluir o Irã do próximo Mundial.
A consequência, com a ausência de um país que se classificou em campo, pelos próprios méritos, será uma mancha profunda no futebol. Daquelas que nem o mais forte alvejante removerá.
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Folha de S.Paulo