
Além de questionar o sistema eleitoral, o ex-presidente orientou, com base em relatórios da Abin, indicações estratégicas ao Conselho da República
O relatório final da Polícia Federal aponta que o ex-presidente Jair Bolsonaro(PL) foi o principal beneficiário das informações obtidas pela estrutura paralela da Abin (Agência Brasileira de Inteligência).
As ações clandestinas, conduzidas sob comando político, tinham como objetivo fornecer dados que Bolsonaro utilizava para atacar adversários, o sistema eleitoral e blindar sua família.
Bolsonaro usou documentos produzidos ilegalmente para sustentar acusações de fraude nas urnas eletrônicas durante lives e manifestações públicas.
Um arquivo chamado “Presidente TSE informa.docx” foi apresentado em uma transmissão ao vivo em 4 de agosto de 2021 para reforçar a desconfiança no processo eleitoral.
Além de questionar o sistema eleitoral, o ex-presidente orientou, com base em relatórios da Abin, indicações estratégicas ao Conselho da República para facilitar decretos de intervenção federal, estado de defesa ou estado de sítio.
No âmbito da proteção familiar, a estrutura da Abin atuou para impedir investigações contra membros do clã Bolsonaro, como no caso do filho Jair Renan e das apurações contra o senador Flávio Bolsonaro, incluindo campanhas para descredibilizar auditores da Receita Federal e interferências diretas na administração do órgão.
O relatório também descreve o uso das informações para monitorar e atacar adversários políticos, como o senador Humberto Costa e o deputado Alessandro Molon, além de jornalistas críticos ao governo, servidores públicos e autoridades estaduais.
Investigações públicas de grande repercussão, como os casos Marielle Franco e Adélio Bispo, foram acompanhadas para uso político em campanhas de desinformação.
A Abin paralela também coletou informações sigilosas sobre inquéritos eleitorais no Rio de Janeiro, que foram compartilhadas por Alexandre Ramagem, então diretor-geral da agência, com grupos políticos sem registro oficial.
O sistema First Mile, que permite a localização de celulares sem autorização judicial, foi utilizado para essas ações ilegais, configurando desvio das funções da Abin para interesses pessoais e políticos do núcleo liderado por Bolsonaro e seu filho Carlos.
Bolsonaro chegou a reconhecer, em reunião de abril de 2020, a existência de um sistema paralelo de inteligência.
As informações produzidas eram repassadas a Carlos Bolsonaro, que gerenciava parte das campanhas de desinformação e direcionava conteúdos contra opositores e instituições democráticas.
A Polícia Federal enviou o relatório ao Supremo Tribunal Federal e ao Ministério Público Federal para análise e possível denúncia formal.
Bolsonaro não foi indiciado neste relatório porque já existe uma ação penal em curso contra ele. O documento opta por consignar a conduta, deixando a possibilidade de indiciamento para caso haja um entendimento diferente no futuro.
Até o momento, o ex-presidente não se manifestou sobre o conteúdo do relatório.
IG Último Segundo