O Maracanã chega aos 75 anos com a possibilidade de receber sua terceira final de Copa do Mundo —a do Mundial Feminino, em 2027—, mas também com dúvidas sobre a relevância do estádio para os clubes no futuro.
Inaugurado no dia 16 de junho de 1950, o Estádio Municipal do Rio de Janeiro foi erguido para ser símbolo de um país. De cara, virou símbolo da derrota brasileira para o Uruguai, na final da Copa, exatamente um mês depois da inauguração.
Até chegar aos 75, o estádio passou por duas finais de Mundiais (1950 e 2014), três reformas (1999, 2007 e 2013) e uma mudança de nome, para Estádio Jornalista Mário Filho, em 1966.
A atual casa de Flamengo e Fluminense, com jogos eventuais de Vasco, Botafogo e da seleção brasileira, viu movimentos recentes dos clubes levantarem dúvidas sobre o futuro do Maracanã.
A incerteza se dá especialmente pelo plano do Flamengo de construir um estádio próprio. A diretoria anterior arrematou em leilão o terreno do antigo Gasômetro, no centro, e prometia inauguração para 2029. A chapa do ex-presidente Rodolfo Landim, contudo, foi derrotada na eleição, e a gestão de Luiz Eduardo Baptista desacelerou o passo, encomendou estudos sobre contaminação do solo e já não estipula prazos.
Caso o projeto saia do papel, a ideia do Flamengo é fazer do Maracanã um estádio de uso esporádico, para jogos mais importantes.
Neste cenário, o Fluminense, cogestor do estádio com o rival rubro-negro, é quem seria o mandante recorrente.
O Vasco aguarda verba para iniciar as obras que vão ampliar a capacidade de público de São Januário de 20 mil para mais de 40 mil pessoas. O clube conversa com Flamengo e Fluminense para, eventualmente, usar o Maracanã durante a reforma.
O Botafogo joga no Nilton Santos e, assim, cada um dos quatro clubes grandes pode ter no futuro um estádio próprio.
Flamengo e Fluminense completam neste mês um ano da gestão compartilhada definitiva. Entre 2019 e 2024, os dois clubes administraram o Maracanã através de permissões temporárias, renovadas a cada seis meses.
Antes, entre 2013 e 2019, a administração do estádio foi da Odebrecht, após bilionária reforma para a Copa de 2014. O governo estadual cancelou o contrato de concessão em 2019, diante de uma crise com os clubes pelo alto custo de aluguel do estádio e má qualidade do gramado.
Para incrementar a receita, a dupla Fla-Flu estuda se é possível vender os naming rights. Uma empresa compraria o direito de uso do nome, nos mesmos moldes com o que foi feito com o Morumbi, rebatizado de MorumBis, e o Pacaembu, que passou a ser chamado de Mercado Livre Arena Pacaembu.
Conselheiros dos dois clubes ouvidos pela reportagem afirmaram que o debate é inicial e que não há proposta na mesa. A secretaria da Casa Civil do governo Cláudio Castro (PL) disse, em nota, que “nenhuma consulta foi efetivada pelo concessionário”.
A pasta afirmou ainda que o “processo de concessão do Maracanã não traz nenhuma regra expressa quanto à comercialização de naming rights”.
No último dia 5, Castro disse ver com “ceticismo e dificuldade” a mudança, já que o estádio é tombado.
O Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) afirmou em nota que é possível adquirir o direito de exploração do nome, mas que o espaço continuaria a ser chamado oficialmente de Estádio Jornalista Mário Filho.
“Qualquer alteração na identificação do estádio em sua fachada deve ser previamente solicitada e aprovada pelo instituto”, completou.
Ainda que modificado e diminuído após a reforma de 2013, o Maracanã segue entre os estádios com maior média de público, embalado pela boa fase dos donos da casa —o Fluminense conquistou ali a Libertadores de 2023 em final contra o Boca Juniors, da Argentina, e o Flamengo vive década vitoriosa, com títulos nacionais e continentais.
O Maracanã recebeu 32 jogos de Flamengo e Fluminense em 122 dias nesta temporada, média aproximada de um jogo a cada três dias.
Em 2024, o Flamengo teve média de 51.084 torcedores pagante nas partidas da Série A em que foi mandante, segundo dados do site Ranking da CBF; o Fluminense teve média de 32.171.
Por fora, quase todo o complexo esportivo do Maracanã segue em uso: o ginásio Maracanãzinho, sob concessão, recebe jogos de basquete e vôlei, e no parque aquático Julio Delamare o governo estadual mantém aulas de natação e hidroginástica para a vizinhança.
A principal mudança da obra de 2013 foi o fim do estádio de atletismo Célio de Barros. As pistas foram removidas e o espaço é hoje um estacionamento, com salas que funcionam como sedes de federações esportivas.
Em nota, a secretaria estadual de Esportes disse que o estádio “cumpre um importante papel de apoio ao esporte e à gestão pública”.
Folha de S.Paulo