No começo era Copa Intercontinental, e os europeus a tratavam pelo nome oficial quando a venciam, no torneio promovido pela Uefa e pela Conmebol.
Nós, sul-americanos, sempre chamamos de campeão mundial o vencedor, fosse no início, em dois jogos, lá e cá, fosse em apenas um, no Japão, porque a violência argentina fez os europeus desistirem de vir para cá.
Era mesmo arrogância chamar de mundial uma taça que excluía os demais continentes, como arrogante é chamar de campeão mundial o vencedor da NBA, ainda mais depois que seleções de outros países tomaram o ouro olímpico dos Estados Unidos.
Arrogância como a dos ingleses, que não disputaram a Copa do Mundo em 1930, 1934 e 1938 porque, inventores do futebol, imaginavam ser superiores —até virem à Copa de 1950 e serem eliminados pelos EUA, em Belo Horizonte.
Arrogantes também eram cariocas e paulistas, certos de ser insuperáveis no Brasil, até que, na década de 1970, o Atlético Mineiro venceu o primeiro Campeonato Brasileiro e o gaúcho Internacional foi tricampeão em 1975, 1976 e 1979.
Quando, em 2000, a Fifa resolveu organizar o que se chamou de primeiro Campeonato Mundial de Clubes, com representantes das seis confederações do Planeta Bola, estabeleceu-se a polêmica em torno da validade da Copa Intercontinental, afinal reconhecida pela Fifa, até porque o segundo Mundial acabou sendo disputado apenas em 2005.
E, quando, a partir de 2010, clubes africanos e asiáticos chegaram às finais ao derrotar os sul-americanos, rompeu-se definitivamente a hegemonia consagrada na Copa Intercontinental.
Agora temos a primeira Copa do Mundo de Clubes, disputada nos mesmos moldes da de seleções, embora pelo menos dois dos melhores times da Terra, como Liverpool e Barcelona, campeões das duas principais ligas internacionais, estejam fora do torneio.
É assim que as coisas funcionam, e o dinheiro se impõe como sói acontecer no capitalismo.
Sempre haverá quem conteste um aspecto ou outro de cada competição, ao sabor de suas preferências e conveniências.
Os uruguaios, por exemplo, consideram-se tetracampeões mundiais, porque somam, além das Copas do Mundo vencidas em 1930 e 1950, as duas medalhas de ouro olímpicas vencidas em 1924 e 1928, quando ainda não havia a Copa do Mundo.
Palmeiras e Fluminense se julgam campeões mundiais porque venceram as Copas Rio de 1951 e 1952, respectivamente, bobagem que só serve para tornar chacota a grande conquista alviverde que resgatou o amor-próprio de nosso futebol após o Maracanazo.
Título que teve até mais valor que o bicampeonato do Santos na Taça Intercontinental (Mundial!) pela simples razão de o Brasil, quando Pelé & Cia conquistaram as taças, em 1962 e 1963, já ter superado o complexo de vira-latas com a conquista do bicampeonato em 1958 e 1962, ou seja, não pairar mais nenhuma dúvida sobre a capacidade do futebol brasileiro.
Revisionismos históricos à parte, como se fez, por mera politicagem, dos campeões da Taça Brasil o equivalente aos campeões dos Campeonatos Brasileiros, tratemos de curtir o torneio nos Estados Unidos com quatro clubes do Patropi tidos e havidos como figurantes, coadjuvantes de Manchester City, PSG e Real Madrid.
Provavelmente serão mesmo. Mas…
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Folha de S.Paulo