Cristiano Ronaldo e os inimigos do fim – 09/06/2025 – Sandro Macedo


O que os papas João Paulo 2º, Bento 16, Francisco único e Leão 14 têm em comum (além da religião)? Todos viram gols de Cristiano Ronaldo —ou pelo menos tiveram a oportunidade.

Este humilde escriba já pontuou antes sobre a sorte que temos com a atual longevidade de alguns superatletas. Mas os feitos de CR7 obrigam a uma volta ao tema… de novo.

Cris faz parte de uma casta de heróis que, além do talento fora do comum, são inimigos do fim. Atletas que conseguiram estender a carreira até perto ou além dos 40 anos dando trabalho para os jovenzinhos de 20. Não era assim. Pelé se aposentou do Santos com 33 —depois retornou ao Cosmos para uma nova parada aos 37. Zico, Sócrates, Platini, Zidane, Maradona, Figo, Gullit, Baggio. Ninguém ousou desafiar os 40.

Antes, só os goleiros —com menos exigências físicas— conseguiam driblar o tempo, como Dino Zoff (campeão na Copa de 82 com 40), Rogério Ceni ou Fábio, ainda em ação pelo Fluminense aos 44 anos.

Só nos últimos anos tivemos a chance de acompanhar o brilho tão maduro quanto reluzente de astros de diferentes esportes, como Tom Brady e Payton Manning, no futebol americano, o interminável Lebron James, na NBA —que se manteve em forma tempo suficiente para jogar ao lado do filho (e muito melhor que o pimpolho)—, e Lewis Hamilton (com carro) e Fernando Alonso (sem carro), na F1.

Em esportes individuais, sem ninguém para dividir o peso ou carregar o piano, tudo fica mais difícil. Mesmo assim, Roger Federer, Rafael Nadal e Novak Djokovic aposentaram algumas gerações de bons tenistas. Federer, com 41, e Nadal, com 38, foram parados pelas lesões. Djokovic, agora com 38, ainda é bom para integrar um top 5, mas já sente dificuldades para segurar as raquetadas dos garotinhos Jannik Sinner e Carlos Alcaraz, os finalistas de Roland Garros.

Nada disso parece abalar Cris Ronaldo, o belo. É uma pena vê-lo distante das principais ligas de futebol do mundo. Suas atuações com a camisa de Portugal —ainda que sem a mesma contundência de outros anos— fazem crer que ele ainda daria um bom caldo e poderia ser titular em 90 dos 100 times das cinco principais ligas. O problema é que ele só voltaria à Europa para jogar nos outros dez.

Com o gol marcado em Portugal 2 x 2 Espanha, na final da Liga das Nações (e posterior vitória nos pênaltis), Cris Ronaldo soma agora 939. Não tenho dúvidas de que ele vai atrás do milésimo.

Cris me faz lembrar da frase proferida pelo vilão dos Thundercats, Mumm-Ra, que dizia ser “o de vida eterna” antes de ficar fortão e sair detonando. Se bem que o gajo luso está longe da aparência mumificada da animação. Talvez ele seja mais comparável a Dorian Gray, cujo retrato envelhecia enquanto ele continuava jovem e belo. No caso de Cris, também rico e levantando troféus.

Quiz da semana: será que Carlo Ancelotti assinaria com a seleção brasileira se a Itália estivesse sem treinador também (como está agora)?

Big 2
Durante a final de Roland Garros, ouvi algumas comparações do domínio de Jannik Sinner (nº1 e vice) e Carlos Alcaraz (nº2 e campeão) com o Big 3. A acareação é matematicamente imprecisa. Temos um Big 2, só. Alexander Zverev, Taylor Fritz, Lorenzo Musetti ou qualquer outro moço do top 10 não parecem ter a força para acompanhar os dois primeiros. Para Big 3, vai ter que surgir algum outro.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.



Folha de S.Paulo