
Do teatro grego aos aeroportos: a longa trajetória do tapete vermelho como símbolo de honra e prestígio
Símbolo de distinção e prestígio, o tapete vermelho tem uma trajetória milenar que começa séculosantes dos flashes e das premiações em Hollywood.

O regresso de Agamemnon
A origem do costume remonta à Grécia Antiga, mais especificamente ao ano de 458 a.C., quando o dramaturgo Ésquilo encenou a peça Agamêmnon.
Na trama, o herói é recebido com um luxuoso tapete vermelho após retornar vitorioso da Guerra de Troia — uma honraria associada aos deuses gregos, os únicos, até então, considerados dignos de caminhar sobre tal superfície.
O vermelho como sinônimo de qualidades
Em entrevista ao iG, o professor Wesley Espinosa Santana, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, explica que, para os gregos, a cor vermelha estava ligada à força, coragem e nobreza.
“Homens como Agamêmnon só poderiam pisar no tapete vermelho dos deuses quando ultrapassassem os próprios limites humanos”, afirma o historiador.
No Egito Antigo, o vermelho também tinha forte carga simbólica — ora representando vitalidade e poder, ora associado ao caos, na figura do deus Seth, que simbolizava destruição e desordem.
Por outro lado, adornos e bandeiras com essa cor eram comuns em palácios e cerimônias oficiais, reforçando sua ambiguidade simbólica.
Com o tempo, a tradição se espalhou pelo mundo, mantendo sua ligação com a elite, o poder e o sagrado.

Casamento indiano
Outros significados do vermelho
Na Índia, por exemplo, o vermelho é uma cor central no hinduísmo, associada a novos começos, fertilidade e poder espiritual — sendo presença obrigatória em casamentos e festivais religiosos.
Já na Europa, reis e rainhas percorriam tapetes vermelhos em eventos oficiais, prática que atravessou os séculos como um símbolo de nobreza.
No Brasil, embora não haja registros de tapetes vermelhos entre as populações indígenas, a cor já era considerada sagrada. Produzida com urucum ou com madeira do pau-brasil, o vermelho representava força, luta e vida.
Com a chegada dos colonizadores portugueses, o símbolo passou a figurar em cerimônias religiosas e palacianas, reforçando os valores europeus de hierarquia e distinção.
A tradição ganhou um capítulo curioso e marcante na aviação brasileira. Em 1989, o comandante Rolim Amaro, fundador da então TAM, passou a recepcionar pessoalmente os passageiros com um tapete vermelho estendido da escada da aeronave até o solo.

Tapete vermelho da TAM
A prática, que ficou conhecida como The Magic Red Carpet, virou uma marca registrada da companhia aérea, reforçando o compromisso com o bom atendimento e a valorização do cliente.
Para muitos passageiros, o gesto simbólico transformava o ato de voar em uma experiência de prestígio e acolhimento.
“O tapete vermelho tem um valor simbólico, imaginário, estético — e ele permanece”, conclui o professor Santana.
Segundo ele, trata-se de uma tradição que atravessa civilizações, religiões e regimes de poder, adaptando-se ao contexto de cada época.
Seja nas escadarias de um templo egípcio, nos palácios reais da Europa ou nos eventos culturais contemporâneos, o tapete vermelho continua sendo um espaço reservado aos que se destacam.
IG Último Segundo