Em uma seleção brasileira de recomeços, qual será a versão de Ancelotti? – 06/06/2025 – Marina Izidro


Pronto. Agora os europeus perceberam o que para nós estava claro havia muito tempo: o mal que quase três anos de tempo perdido e má gestão de uma confederação fizeram para a seleção brasileira.

“Golpe de realidade para Ancelotti: esse Brasil é uma sombra do que foi”, era a manchete da crônica do jornal espanhol Marca. “O placar dá uma ideia do tamanho da tarefa”, disse na TV o apresentador da rede britânica BBC.

A estreia de Carlo Ancelotti como treinador colocou os holofotes do mundo esportivo no Brasil. É claro que o empate sem gols com o Equador não é culpa do italiano. Ninguém espera um milagre de um dia para o outro de um técnico que, por melhor que seja, só tem dez dias de trabalho. Mal chegou, já precisou fazer a primeira convocação. Desfalques de nomes como Raphinha, Rodrygo e Gabriel Magalhães também não ajudaram.

Mas não tem como sair satisfeito com um resultado contra uma seleção que faz poucos gols e não vence o Brasil há mais de 20 anos. Os nove gols em Espanha 5 x 4 França, no mesmo dia, pela Liga das Nações, diante de apenas duas finalizações em direção ao gol do Brasil, aumentaram o choque de realidade.

O resultado ainda não classificou o Brasil para a próxima “inflada” Copa do Mundo —no mesmo dia, até o Uzbequistão conseguiu vaga.

Eu estava ansiosa para ver a partida, mas o fuso horário não ajudou —o jogo começou à meia-noite no horário da Inglaterra, em plena quinta-feira (5). Aguentei bravamente até a metade do segundo tempo, quando tédio e sono me venceram. E soube que muita gente no Brasil, antes das 22h, sentiu o mesmo.

Vejamos o copo meio cheio. A seleção está um pouco mais organizada, não tomou gol. E é empolgante ver alguém tão grande no comando. Um dos maiores treinadores da história, cheio de títulos no currículo e que, há décadas, só circula no futebol de altíssimo nível. Acostumado a comandar estrelas e sênior o suficiente para não se dobrar a elas.

Ancelotti fez toda a carreira na Europa, mas sua conexão com o Brasil é longa. Se encantou com a seleção de 1970 quando ainda era criança. Teve parcerias vitoriosas com brasileiros que treinou, de Vini Jr, Rodrygo e cia. no Real Madrid a Kaká no Milan. Sob seu comando, Kaká conquistou a Serie A italiana, a Liga dos Campeões e foi eleito melhor jogador do mundo. Na Copa de 1994, com sua Itália, Ancelotti era assistente de Arrigo Sacchi. Foram derrotados na final justamente pelo Brasil.

Além disso, ele parece genuinamente feliz. Poderia estar se aposentando como treinador, mas topou um novo desafio. Não me surpreende, pois vejo por aqui como os europeus ainda são encantados pelo futebol brasileiro.

A questão é que o mundo se apaixonou por um Brasil que não existe e, agora, falam de um futebol “sem açúcar e sem ‘jogo bonito’”, como escreveu o repórter do jornal Marca.

Ancelotti tem contrato até pelo menos o fim da Copa de 2026, de onde sairá como herói, se o Brasil for campeão, ou possivelmente vilão, com qualquer outro desfecho.

Em uma seleção que teve muitos recomeços, em qual versão o italiano a transformará? Estrutura não faltará, mas, infelizmente, a CBF não poderá dar algo de que todo treinador precisa, por mais experiente que seja: tempo.

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Folha de S.Paulo