
O protocolo das reclamações foi realizado em 16 de maio e motivou a abertura de apuração
O MPT-SP( Ministério Público do Trabalho em São Paulo) informou ao Portal iG, nesta sexta-feira (6), que iniciou uma investigação preliminar contra a Cacau Show, após o recebimento de denúncias formalizadas pela Associação União de Franqueados.
O protocolo das reclamações foi realizado em 16 de maio e motivou a abertura de apuração, ainda sem processo judicial.
O conteúdo das denúncias envolve alegações de práticas abusivas nas relações de trabalho, ambiente de culto à personalidade e imposições internas associadas à conduta dos colaboradores.
Entre os relatos apresentados ao MPT estão práticas descritas como rituais corporativos. Funcionários e ex-funcionários afirmam que os encontros, conduzidos pelo fundador e CEO da empresa, Alexandre Tadeu da Costa, conhecido como Alê Costa, ocorriam em salas escuras iluminadas por velas.
Nessas ocasiões, os participantes, vestidos de branco e descalços, caminhavam em círculos enquanto Costa entoava cânticos.
A empresa também é acusada de incentivar tatuagens com a palavra “atitude”, a mesma gravada no corpo do fundador, como demonstração de lealdade à marca.
Além disso, orações cristãs, como o “Pai Nosso”, fariam parte dos eventos internos, com relatos de que a não participação poderia gerar represálias ou perseguição.
As denúncias protocoladas incluem ainda casos de assédio moral e sexual. Os relatos apontam que gestores da empresa teriam cometido abusos, que não teriam sido coibidos pela direção.
Há menções a humilhações públicas, pressão psicológica e temor de retaliações por parte de quem tentasse denunciar.
Funcionários também relataram episódios de homofobia e gordofobia dentro da empresa. Os relatos mencionam piadas ofensivas, perseguições a pessoas LGBTQIA+ e constrangimentos relacionados à aparência física.
Outro ponto abordado nas denúncias envolve restrições às funcionárias. Segundo os depoimentos, havia pressão para que colaboradoras não engravidassem, com condutas que desencorajavam a gestação.
As condições de trabalho nas unidades operacionais também foram mencionadas. Há relatos de jornadas consideradas abusivas e ambientes insalubres, tanto na fábrica da empresa quanto no resort Bendito Cacao, localizado em Campos do Jordão, interior de São Paulo.
No campo contratual, franqueados relataram cláusulas rígidas, taxas elevadas, aplicação de multas sem justificativas claras e envio de produtos com prazos de validade reduzidos, dificultando a comercialização.
Há menções a retaliações por parte da empresa a franqueados que questionavam essas práticas.
Um dos casos citados nas denúncias é o da empresária Náira Alvim Passionoto (identificada publicamente como Helena do Prado), que teve sua loja em Rancharia, interior de São Paulo, fechada no mesmo dia em que as denúncias foram publicadas.
A justificativa dada pela empresa foi uma suposta falha na comercialização do ponto.
Em decisões judiciais já proferidas em processos que envolvem a marca, há menção à conduta da empresa como forma de revanchismo. Um juiz avaliou que a restrição de crédito a franqueados em litígio com a Cacau Show viola o direito de acesso à Justiça.
Defesa da Cacau Show

Uma das franquias da Cacau Show
A empresa nega as acusações. Em nota oficial publicada nas redes sociais no dia 2 de junho e em carta assinada por Alê Costa, a Cacau Show afirma que as denúncias são inverídicas e classificou os relatos como “ataques injustos”.
Segundo a empresa, os encontros são “vivências sensoriais” realizadas com licor de cacau não alcoólico, e fazem parte de celebrações culturais e gastronômicas. A prática também é oferecida em hotéis da rede.
A companhia declarou manter um canal de denúncias independente, com garantia de anonimato e apuração rigorosa.
Também destacou seu compromisso com ética, transparência e inclusão, além de mencionar sua estrutura de 37 anos de mercado, com mais de 4.600 lojas e 22 mil colaboradores.
A empresa também relacionou os desafios externos enfrentados nos últimos meses, como o aumento de 300% no preço do cacau e um incêndio em sua fábrica de Linhares, interior do Espírito Santo, para contextualizar as dificuldades operacionais.
Sobre o relacionamento com franqueados, a empresa informou que mais da metade dos parceiros está na rede há mais de sete anos e que adota políticas de devolução de produtos, negando o envio de itens vencidos.
IG Último Segundo