Cabo Frio, RJ – O Grupo Iguais e o Instituto Iguais, organizações com 18 anos de atuação na defesa dos direitos da população LGBTI+ em Cabo Frio, vieram a público na última semana para expressar forte repúdio à decisão da Prefeitura de excluir a Parada do Orgulho LGBTI+ de Cabo Frio do Calendário Oficial de Eventos do Município. Além da exclusão, as entidades denunciam a ausência de apoio logístico e estrutural, mesmo após processos administrativos abertos desde janeiro de 2025.
A Parada do Orgulho LGBTI+ é um evento de longa data na cidade, reconhecido pela Lei Municipal nº 2.970/2018, e conhecido por seu impacto social, político, cultural e, notavelmente, econômico. Em edições anteriores, o evento chegou a movimentar cerca de R$10 milhões na economia local, impulsionando o turismo, conforme dados do Observatório Municipal de Turismo.
Novo Evento e Falta de Diálogo Geram Indignação
A surpresa e preocupação do Grupo Iguais e do Instituto Iguais aumentaram com a inclusão de um novo evento no calendário municipal, denominado “Orgulho LGBTI+”. Segundo as organizações, a criação desse evento ocorreu sem qualquer diálogo ou participação das entidades que há anos constroem a luta LGBTI+ em Cabo Frio.
Para as organizações, essa iniciativa, embora possa parecer positiva à primeira vista, configura uma tentativa silenciosa de substituir a Parada do Orgulho LGBTI+, o que é interpretado como uma grave desconsideração à trajetória do movimento LGBTI+ organizado e um desrespeito à legislação vigente.
Conflito de datas com Arraial do Cabo ameaça mobilização regional
A situação se torna ainda mais alarmante com a programação do novo evento para a véspera da Parada do Orgulho LGBTI+ de Arraial do Cabo, município vizinho com forte tradição e reconhecimento regional. As entidades consideram essa escolha insensível, pois prejudica a mobilização e o impacto econômico de ambas as iniciativas, desarticulando o Calendário de Eventos e Ações do movimento LGBTI+ da Baixada Litorânea. “Trata-se de uma afronta direta ao movimento de Arraial e uma tentativa de esvaziamento da força regional da luta LGBTI+”, afirmaram em nota.
Tradicionalmente, a Parada do Orgulho LGBTI+ de Cabo Frio é realizada aos domingos, um dia que favorece a participação da classe trabalhadora, que em sua maioria está de folga. A realização de eventos em datas conflitantes compromete não apenas a adesão do público, mas também impacta negativamente a economia local, o turismo e a logística dos eventos vizinhos.
Exigências à Prefeitura de Cabo Frio
Diante do cenário, o Grupo Iguais e o Instituto Iguais apresentaram uma série de exigências à Prefeitura Municipal de Cabo Frio:
- Revisão imediata do Calendário Oficial de Eventos, com a reinclusão da Parada do Orgulho LGBTI+.
- Cumprimento da Lei Municipal nº 2.970/2018, que assegura a Parada e a Semana da Diversidade Sexual.
- Garantia de apoio logístico e estrutural para as edições já programadas: 22 de junho (Tamoios) e 14 de setembro (Praia do Forte).
- Promoção de diálogo democrático e transparente com o Grupo Iguais e o Instituto Iguais.
- Respeito à articulação regional do movimento LGBTI+ da Baixada Litorânea, evitando medidas que fragilizem a construção coletiva e solidária entre os municípios.
As organizações são categóricas em afirmar: “A exclusão da Parada do calendário oficial e a criação de um evento paralelo, sem legitimidade e sem escuta, não é avanço. É boicote. E boicote não se disfarça de inclusão.”
O Grupo Iguais e o Instituto Iguais finalizaram sua declaração reforçando que seguirão firmes na defesa do orgulho, da história e da participação popular, reiterando que “a luta LGBTI+ em Cabo Frio tem nome, tem rostos e tem resistência.”
