Red Bull busca em Mônaco afastar crise e ‘maxdependência’ – 23/05/2025 – Esporte


Quem chega ao circuito de Mônaco para o GP de F1 logo se impressiona com a maior espaço VIP de uma equipe montada em estrutura flutuante no mar Mediterrâneo e em frente ao paddock: o chamado “Energy Station” é onde os pilotos da Red Bull e Racing Bulls frequentam entre os treinos e corrida, além de receber convidados de patrocinadores do time. É a única escuderia com esta regalia no tradicional circuito de Monte Carlo.

A ostentação no GP mais luxuoso do ano é cena comum nos últimos anos em Mônaco, mas em 2025 contrasta com o pior momento vivido nos bastidores da F1 desde que a equipe se tornou o time a ser batido na F1. E é justamente no circuito de Monte Carlo onde a Red Bull pretende mostrar a Max Verstappen que ainda pode lhe dar um carro suficiente para brigar pelo seu quinto título mundial consecutivo.

Em Ímola, a equipe completou 400 GPs da história da melhor forma possível –vencendo a prova depois de uma manobra bastante ousada de Verstappen para superar o pole position Oscar Piastri, da McLaren, ainda em um duelo na primeira chicane do circuito italiano.

O time trouxe melhorias para o carro para este início da temporada europeia, em uma tentativa de frear o favoritismo da dupla da McLaren. Em 2024, a Red Bull inclusive perdeu o título mundial de construtores justamente por não conseguir fazer seus dois carros terem desempenho competitivo.

Uma série de trocas de pilotos marcou o segundo cockpit da Red Bull. Nas últimas oito corridas, três ocuparam este lugar: Sergio Perez foi demitido ao final do ano passado. O fraco desempenho do substituto, o neozelandês Liam Lawson, rendeu uma nova troca, desta vez por Yuki Tsunoda. O japonês tem conseguido andar entre os dez primeiros, mas ainda assim em performance muito abaixo do esperado em comparação a Verstappen.

Em Mônaco, a Folha apurou que começa neste GP a “última chamada” de Verstappen para que a Red Bull mostre suas credenciais para brigar pelo título mundial em 2025 e, principalmente, para as próximas temporadas. A F1 terá uma grande revolução de regulamento prevista a partir de 2026, com novos motores, novo conceito de carro e, possivelmente, uma nova hierarquia de competitividade entre os times.

A história de conto de fadas entre Verstappen e a Red Bull é antiga. O pai do holandês, Jos Verstappen, tinha a opção de assinar com a Mercedes quando seu filho tinha apenas 15 anos de idade. Mas a Red Bull ofereceu algo que o time germânico não conseguia garantir: um carro na F1 para Max já aos 16 anos, batendo o recorde de mais jovem piloto da história da categoria.

Com isso, ele estreou na então Toro Rosso, equipe subsidiária da Red Bull, e, percorrendo o mesmo caminho que outro tetracampeão formado pelo time, Sebastian Vettel, Verstappen acabou migrando para o time principal e vencendo logo em sua estreia na escuderia, no GP da Espanha de 2016, ironicamente por conta de uma batida dos dois primeiros colocados no grid, os então companheiros na Mercedes Nico Rosberg e Lewis Hamilton.

Os títulos seguidos pareciam iniciar uma longa supremacia, mas a morte do proprietário da Red Bull, Dietrich Mateschitz, no final de 2022, fez com que uma briga pelo comando do time tomasse conta dos bastidores. Sua morte foi repentina e ele não deixou uma sucessão preparada, então este vácuo de poder atrapalhou o time e provocou fuga de talentos da Red Bull, revelou uma fonte ouvida pela Folha em Mônaco.

Há quem diga que os escândalos envolvendo o chefe de equipe, Christian Horner, no ano passado –sobre um possível caso de assédio dentro do time– estariam ligadas a esta disputa pelo comando, que inclui os atuais sócios da Red Bull (e filhos dos fundadores), o empresário tailandês Chaleo Yoovidhya, com 51%, e Mark Mateschitz, com 49%.

Na parte desportiva, o ex-piloto e conselheiro da Red Bull, Helmut Marko, é o grande aliado de Jos e Max Verstappen na luta pelo comando esportivo do time –e ambos já deram indicativos que podem sair também do time caso uma das partes seja desligada.

Com a contagem regressiva de Verstappen começando neste final de semana em Mônaco, o time está sob pressão para apresentar resultados e também mostrar potencial no carro de 2026. O holandês tem contrato com a Red Bull até 2029, mas pode buscar novos ares. Mercedes e Aston Martin disputam Max, sendo que esta última inclusive já trouxe o mago das pranchetas, Adrian Newey, para o time (ele está em Mônaco usando o novo uniforme da Aston Martin).

Max não revela seu futuro, mas sabe que terá portas abertas em todos os times, ainda mais com o grande desempenho que vem mostrando em 2025. Já a Red Bull, que começou como o “time divertido” do grid, após comprar a Jaguar (ex-Stewart) em 2004, acabou virando a dominadora nos anos 2010, graças aos títulos de Vettel e, agora, de Verstappen –que somam oito de pilotos.

Com 400 GPs disputados, a Red Bull só fica atrás das três mais tradicionais (Ferrari, McLaren e Williams) e tem na Sauber uma disputa pela quarta colocação, mas o time suíço considera os anos como Alfa Romeo e BMW como uma única estrutura, o que daria 600 GPs.

Dos times que não estão mais competindo, apenas a tradicional Lotus, que deu o primeiro título mundial a Emerson Fittipaldi e a primeira vitória a Ayrton Senna na F1, está à frente da Red Bull, com 606 GPs. Mas o time tem um currículo de muito mais vitórias e títulos, em uma proporção até superior aos de Ferrari e McLaren, por exemplo.

Resta saber como será o futuro a partir de 2026, quando o time passará a usar motores Ford (com a estrutura atual que é batizada pela Honda) e terá que provar que conseguirá sobreviver com ou sem Verstappen.



Folha de S.Paulo