O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, colocou como adorno logo atrás da cadeira onde se senta no Salão Oval, de onde assina e despacha decretos, a taça que será entregue ao vencedor do Mundial de Clubes da Fifa (Federação Internacional de Futebol). O evento será sediado este ano nos Estados Unidos, que também receberão a Copa do Mundo em 2026.
O troféu foi entregue e deixado lá temporariamente pelo presidente da entidade, Gianni Infantino, em uma visita à Casa Branca em março deste ano. Simboliza não só a relevância que Trump está dando ao evento mas a boa relação com o dirigente, nutrida desde o seu primeiro mandato (2017-2021).
A Copa do Mundo será sediada em conjunto com o Canadá e o México, antigos aliados com os quais Trump tem travado embates. O presidente americano, no entanto, tem usado a proximidade com Infantino para demonstrar poder em relação aos vizinhos e se exaltar como o líder dos três na condução do evento esportivo. Ele tem o respaldo do presidente da Fifa, que faz questão de adulá-lo.
O encontro na Casa Branca foi uma das pelo menos seis ocasiões em que eles estiveram juntos neste ano. A mais recente foi durante a primeira viagem internacional desde que tomou posse, à Arábia Saudita.
Infantino acompanhou Trump em reuniões com autoridades na Arábia Saudita e também participou de uma cerimônia no Qatar —onde ocorreu a Copa do Mundo de 2022—, que representou o repasse simbólico da sede do campeonato de um local para o outro, ao longo de terça (13) e quarta (14). Não havia representantes de Canadá e México no local.
Essa viagem levou Infantino a atrasar a reunião anual da Fifa, prevista inicialmente para terça. Segundo o The Athetic, ele primeiro mudou a data e depois solicitou que a reunião principal começasse horas depois do previsto em razão do seu retorno do Oriente Médio. Segundo o jornal, oito membros da Uefa (União das Associações Europeias de Futebol) que fazem parte do conselho da Fifa deixaram a reunião contrariados com a postura do presidente.
A relação tem recebido críticas pelo que é visto como um risco à independência política da Fifa, enquanto Trump se aproveita da projeção em torno de um esporte aclamado por todo o mundo.
“As mudanças de última hora nos horários do Congresso da Fifa são profundamente lamentáveis. Alterar a programação de forma repentina, aparentemente apenas para acomodar interesses políticos privados, não presta nenhum serviço ao futebol e parece colocar os interesses do esporte em segundo plano”, disse a Uefa em comunicado.
Antes disso, Infantino e Trump reforçaram seus laços neste ano em outros encontros. Em 17 de janeiro, o dirigente foi à casa do republicano em Mar-a-Lago conversar sobre a organização do Mundial de Clubes deste ano e da Copa do Mundo.
No dia 19 daquele mês, na véspera da posse de Trump, o presidente da Fifa foi ao comício da vitória organizado pelo republicano, que o citou nominalmente e agradeceu pela presença. “Bem, esta é a Fifa no máximo do seu respeito; ser mencionada pelo novo presidente dos Estados Unidos da América em seu comício de vitória, em seu discurso de vitória, é algo único, é lindo”, respondeu Infantino à época.
Depois, o presidente da Fifa integrou o seleto grupo de autoridades que foram ao Capitólio para prestigiar a cerimônia de inauguração do mandato do republicano. Trump decidiu fazer sua posse em local fechado devido ao tempo e, por isso, precisou restringir a lista de convidados ao evento.
Em março, Trump recebeu Infantino na Casa Branca e criou uma força-tarefa para auxiliar no planejamento da Copa do Mundo de 2026. Na visita, Infantino lembrou que os Estados Unidos sediarão o Mundial de Clubes, com inicio em junho. Os jogos vão acontecer em 11 cidades, com uma premiação total de US$ 1 bilhão (R$ 5,8 bilhões na cotação atual) destinada às equipes.
“A América dará as boas-vindas ao mundo. Haverá milhões de pessoas vindo, senhor presidente, milhões de pessoas”, disse Gianni, sobre a Copa do Mundo, ressaltando o impacto econômico do evento. Já Trump exaltou o impacto dos dois torneios.
No último dia 6, os dois estiveram juntos para a primeira reunião da força-tarefa da Copa. No mesmo dia, Trump havia recebido o primeiro-ministro do Canadá, Mark Carney, e ressaltou seu desejo de anexar o Canadá, país ao qual tem se referido como “51º estado americano”. O premiê respondeu, dizendo que a nação não está à venda. Trump negou que haja tensões com o Canadá e o México e que isso vá atrapalhar a organização da Copa do Mundo.
A relação de Trump e Infantino remonta ao primeiro mandato do republicano, entre 2017 e 2021.
A parceria começou a se consolidar em 2018, quando os Estados Unidos disputaram com Marrocos o direito de sediar a Copa do Mundo de 2026. Trump se envolveu diretamente na campanha da candidatura norte-americana —que incluía também Canadá e México— e publicou ameaças veladas a países que não apoiassem a proposta.
A postura recebeu críticas, mas não de Infantino, empossado presidente da Fifa em 2016. Após a vitória dos Estados Unidos, Infantino foi recebido por Trump na Casa Branca, na Sala Oval, em uma visita lida como gesto de apoio mútuo.
Depois, em janeiro de 2020, Infantino participou do Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, que precedeu um jantar oferecido por Trump a líderes internacionais e investidores.
Em setembro daquele ano, Infantino foi a Dubai no momento em que foi anunciado o Acordo de Abraão —o marco da normalização das relações entre Israel e Emirados Árabes Unidos. A negociação foi intermediada por Jared Kushner, genro de Trump, e indicou um alinhamento do dirigente esportivo com a política norte-americana.
Folha de S.Paulo