A rara leitora e o raro leitor sabem que ainda antes de Augusto Melo ser eleito presidente do Corinthians aqui se informou sobre quem é o cidadão e que terminaria em impeachment.
Ele já havia azarado a vida do pequeno União Barbarense e mirou o gigante Corinthians para potencializar novo golpe.
Errou redondamente ao usar os mesmos métodos pedestres, incapaz até de refinar seus usos e costumes.
Cercou-se dos velhos comparsas e fez promessas impagáveis e megalomaníacas para convencer os sócios do Corinthians de que seria o homem certo para tirar a agremiação do fundo do poço cavado por gestões anteriores.
Para tanto, contou com o apoio de parte dos torcedores, da Gaviões da Fiel, da praga dos influenciadores pagos e não pagos, e tentou encantar serpentes com contratações irresponsáveis (Memphis é só um caso) e com o título de campeão estadual.
Ao trazer “o maior contrato de patrocínio do país”, com a nebulosa Vai de Bet, deu passo fatalmente falso num imbróglio que envolveu intermediários que não intermediaram e empresas de laranjas facilmente identificáveis até pelo trabalho jornalístico, sem precisar de investigações policiais.
Como se sabe, reportagens bem-feitas muitas vezes trabalham com evidências, com fontes cruzadas, cuidadosamente checadas, e apresentam suas apurações à opinião pública.
Nem sempre é possível apresentar documentos, como seria o ideal, mas, quando se pode ir além de indícios e convicções, é obrigatória a publicação.
Aqui, e em outros veículos sérios, a folha corrida de Melo e sua trupe foi exposta à exaustão.
Ser tachado de anticorintiano ou ser ameaçado é o de menos e faz parte do ofício. Esperar pedidos de desculpas de quem tachou e/ou ameaçou é pura ingenuidade, defeito grave para o exercício da profissão.
O chocante em toda a história policial a envolver a quadrilha que assaltou o Corinthians é a sem-cerimônia dos meliantes, certos da impunidade pelos usos e costumes do submundo do futebol, instalado há décadas sob o olhar complacente das autoridades, escolha quaisquer, dos Ministérios Públicos à Receita Federal, da Polícia Federal às estaduais etc. A paulista, agora, fez sua parte. Com brilho.
Invariavelmente, é o trabalho da imprensa profissional que puxa o fio da meada, insiste, grita, para então motivar alguém de boa vontade e espírito de justiça para que, com o poder que a imprensa não tem nem pode ter, quebre sigilos, investigue e indicie os meliantes.
Provas abundantes apareceram para mostrar o sabido há tempos: o Corinthians é vítima, e não poderia ser diferente.
Não poderia ser o criminoso porque instituições não cometem crimes, apenas pessoas físicas os cometem, ao usar a entidade —algo tão óbvio que só desenhando para quem se recusa a entender.
O homem que queria construir uma roda-gigante no Parque São Jorge, que aumentaria a capacidade do estádio, que pagaria a dívida, que tiraria o Corinthians das páginas policiais, parou na capa do Estadão antes mesmo de ser indiciado no inquérito policial ou sofrer o tardio processo de impeachment.
Rebaixado em 2007 para a Série B, o Corinthians vive a maior crise de sua centenária história.
Resta acreditar que, de fato, seja maior que o abismo.
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Folha de S.Paulo