Clubes sugerem Fair Play Financeiro, mas não quem controlaria


Presidentes de Flamengo, Fluminense, Internacional e Fortaleza se reuniram para um debate sobre o FFP
Divulgação/Fluminense FC

Presidentes de Flamengo, Fluminense, Internacional e Fortaleza se reuniram para um debate sobre o FFP

Presidentes de Fluminense, Internacional e Flamengo, além do CEO do Fortaleza, reuniram-se na última sexta-feira durante o II Simpósio de Direito Esportivo, realizado nas Laranjeiras, para debater a implementação de um fair play financeiro no futebol brasileiro.

A proposta mais contundente partiu de Mário Bittencourt, presidente do Fluminense, que sugeriu um mecanismo simples: clubes que não honram pagamentos de transferências ficariam impedidos de participar das rodadas dos campeonatos. Segundo ele, bastaria uma notificação por e-mail para acionar a punição.

“A Fifa já controla os pagamentos. Mas tem uma solução simples: não pagou, não pode jogar. Se comprou o jogador e não pagou, não joga. Se você tirá-lo da rodada, você já volta a ter o equilíbrio competitivo”, defendeu Bittencourt, recebendo apoio imediato dos demais dirigentes presentes.

Durante o debate, o Corinthians foi mencionado indiretamente como exemplo de clube inadimplente que consegue seguir competindo normalmente. Foi citada uma eliminação do Fortaleza, ressaltando que “o Leão estava em dia, enquanto o adversário, não”, em clara referência ao clube paulista.

Outra situação mencionada envolveu o Brasileirão de 2024, quando o Fluminense disputava contra o rebaixamento junto com o Corinthians. No entanto, o clube paulista conseguiu realizar contratações expressivas na janela de meio de ano, classificando-se para a Libertadores, mesmo sem honrar compromissos financeiros anteriores.

Críticas às SAFs e ausência de fiscalização

O presidente do Flamengo, Luiz Eduardo Baptista, conhecido como Bap, abordou o tema das Sociedades Anônimas do Futebol, afirmando que a transformação em SAF não garante responsabilidade financeira. Sem mencionar nomes específicos, ele criticou proprietários que continuam sem honrar pagamentos mesmo após a mudança de modelo de gestão.

“A sugestão do Mário é boa, simples, fácil e rápida de implementar. Mas entendo que com o tempo deva haver punições esportivas de perda de pontos. Tem SAFs, clubes de tamanhos diferentes… Tem clubes reconhecidamente fortes hoje em dia que viraram SAF e não pagam ninguém”, afirmou o dirigente rubro-negro.

O ponto mais sensível do debate surgiu quando Alessandro Barcellos, presidente do Internacional, questionou qual órgão seria responsável por controlar o fair play financeiro no Brasil. A pergunta ganhou ainda mais relevância considerando que um dia antes, Ednaldo Rodrigues havia sido destituído da presidência da CBF por decisão judicial.

“Vamos montar um fair play financeiro, mas precisa ter um controlador. Vai ser essa CBF que está aí? A CBF ou será quem? Nós vamos ter capacidade de construir uma liga que terá instrumentos para controlar o fair play financeiro?”, indagou Barcellos, sem que uma resposta concreta emergisse do debate.

Marcelo Paz, CEO do Fortaleza, reforçou a crítica aos mecanismos atuais de controle, afirmando que a Câmara Nacional de Resolução de Disputas (CNRD) opera com lentidão e sofre interferências políticas. Segundo ele, o sistema atual “penaliza quem cumpre com seus compromissos e facilita para quem não cumpre”.

Um elemento curioso do encontro foi a presença conjunta de Internacional e Flamengo, clubes que mantêm uma pendência financeira. O Colorado possui uma dívida aberta com o Rubro-Negro referente à contratação de Thiago Maia em 2024, com parcelas atrasadas que tentou, sem sucesso, transferir para o Santos.

O Flamengo, que passou a exigir garantias financeiras para todas as operações com clubes brasileiros, não aceitou as garantias apresentadas pelo Santos para assumir a dívida do Internacional, evidenciando na prática as tensões financeiras discutidas teoricamente no simpósio.

Em sua fala final, Alessandro Barcellos adotou um tom conciliatório, reconhecendo as diferentes realidades dos clubes brasileiros. “O Internacional de hoje pode ter sido o Flamengo de ontem. O Fla de hoje pode ser o Inter de amanhã. Precisamos pensar soluções que elevem o futebol brasileiro a outro patamar”, concluiu.



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