Como explicar a um europeu o que acontece com o futebol brasileiro? – 16/05/2025 – Marina Izidro


O mundo inteiro já sabe.

Horas depois de o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro ter afastado Ednaldo Rodrigues da presidência da CBF, na quinta-feira (15), a notícia, claro, rodou o planeta.

O canal France24 resumiu bem o momento: “A decisão é um novo golpe no futebol brasileiro, que celebrou raras boas notícias há apenas quatro dias com o anúncio de que o técnico do Real Madrid, Carlo Ancelotti, vai comandar a seleção nacional ao fim do mês”.

Ao longo das décadas, um dos jeitos mais eficientes de promover uma imagem positiva do Brasil no exterior foi através do futebol. Os que amam esse esporte, em geral sempre admiraram a seleção brasileira.

Dizer a alguém, em qualquer lugar do mundo, que sou brasileira, normalmente era garantia de receber em troca um sorriso, seguido de menções a Pelé, Ronaldinho, Romário etc. O nosso futebol sempre foi linguagem universal.

Isso claramente mudou. Durante a pandemia, amigos e colegas jornalistas ingleses me perguntavam sobre o “sequestro” da camisa amarela pela extrema direita.

E quando o rei do futebol morreu, em dezembro de 2022, canais de TV de todos os países exibiram imagens icônicas das seleções campeãs das Copas de 58, 62 e 70 que encantaram o mundo. Só que a homenagem também serviu para lembrar que faz tempo que o futebol brasileiro não desperta a mesma admiração.

Na segunda-feira (12), depois que a CBF divulgou, às pressas, um vídeo de seu presidente sozinho em uma sala anunciando a contratação de Ancelotti (encerrando com um “Vamos junto [sic], Brasil”, como lembrou o colega de coluna Sandro Macedo), o mundo do esporte, claro, se interessou e quis saber mais.

Dei uma entrevista para a rede britânica BBC sobre o tema e fui questionada pelo apresentador do programa se os brasileiros estavam satisfeitos com o anúncio. Respondi que a notícia é ótima, pois o Brasil vai ter o melhor treinador entre os técnicos de seleções atualmente. Que Ancelotti tem experiência, mentalidade vencedora e conhece de perto os jogadores da seleção, principalmente os que atuam no Real Madrid.

Mas que há um porém. Expliquei que o torcedor vive uma crise de confiança com a seleção. Em campo, pelos resultados decepcionantes nas eliminatórias para a Copa —incluindo a humilhação do 4 x 1 contra a Argentina— e por gerações inteiras terem crescido sem ver o Brasil campeão mundial, passados tantos anos do último título, em 2002. Fora de campo, por questões políticas e escândalos envolvendo a CBF.

Será que em um ano de trabalho, e ao longo de dez jogos até a convocação para o Mundial, Ancelotti conseguirá blindar essa equipe e recuperar a admiração da torcida? Para essa pergunta, ainda não há resposta.

Dois dias depois da entrevista, Ednaldo Rodrigues foi afastado. Como então explicar a um britânico que isso aconteceu, de novo? Que se trata do quinto presidente da entidade preso ou afastado do cargo nos últimos anos, e nada muda? Ou então, como fazer um europeu entender que as mesmas federações estaduais que, em março, apoiaram sua eleição, agora divulgaram um manifesto pedindo renovação e estabilidade no futebol brasileiro?

Desta vez, só consigo pensar em uma frase, de difícil tradução literal para um estrangeiro: “O Brasil não é para principiantes”.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.



Folha de S.Paulo