Por San Siro e todos os santos – 07/05/2025 – Juca Kfouri


Estava este jornalista disposto a escrever sobre as maravilhosas, surpreendentes e inacreditáveis primeiras disputas das quartas de final da NBA para não deprimir a rara leitora e o raro leitor com a CBF e seus horrores.

Até como homenagem ao por tantos anos, entre 1993 e 2005, editor de Esporte desta Folha, Melchiades Filho, que escrevia sobre basquete.

As inesperadas derrotas do Cleveland Cavaliers e do Boston Celtics, em casa, para o Indiana Pacers e para o New York Knicks, de viradas improváveis e nos derradeiros segundos; as atuações espetaculares de Stephen Curry, ainda nas oitavas, ele que, desgraçadamente, se machucou em Minnesota e é dúvida para a sequência dos playoffs; e as nove cestas de três pontos, em 11 tentativas, de Buddy Hield no jogo 7, também nas oitavas, contra o Houston Rockets, eram motivos mais que suficientes para deixar o futebol um pouco de lado.

Daí acontece Internazionale 4, Barcelona 3, no quase centenário estádio San Siro, pelas semifinais da Champions.

Ainda estupefacto com o jogo que a Inter saiu vencendo por 2 a 0, tomou a virada de 3 a 2 no fim, empatou nos acréscimos com gol de zagueiro, em contra-ataque, e virou na prorrogação para se classificar à final, e eliminar o Barça que lhe é superior, aparece o zap no celular: “Uma sugestão para sua próxima coluna: que acha de escrever na linha ‘e tem gente que não entende o fascínio do futebol?’. Puxando essa semifinal inacreditável como gancho. Só uma sugestão, claro”, escreveu o editor Fábio Haddad.

Sim, parece mentira, tem.

Duvideodó que seguirá desentendido se tiver visto os 120 minutos de puro êxtase vividos em Milão, coroados por chuva torrencial mandada por San Pietro, um dia antes do Conclave no Vaticano, certamente menos emocionante que o grande clássico europeu entre milaneses e catalães.

O que foi aquilo que aconteceu em San Siro?

Outra vez, como no jogo de ida em Barcelona, a Inter fez 2 a 0, outra vez cedeu o empate, outra vez o tempo regulamentar terminou 3 a 3, com a diferença de que, na Espanha, quem fez o 3 a 2 foram os italianos e, na Itália, os espanhóis.

Espanhóis que viram o goleiro Sommer fazer das maiores defesas deste século em finalização cara a cara com atacante do Barça quando estava 2 a 1 e pegar arremate do genial Lamine Yamal para evitar o 4 a 4. Sem se falar da bola mandada na trave por Yamal quando já estava 3 a 2, segundos antes do 3 a 3.

Mestre Armando Nogueira escreveu que “O basquete foi inventado por Deus e é administrado pelo Diabo” e Mauro Cezar Pereira diz que “O futebol é a melhor invenção do Homem”.

Difícil dizer qual dos dois causa emoções mais fortes.

O basquete as produz mais frequentes.

O futebol, exatamente por produzi-las com comedimento, promove as maiores, porque há jornadas em que resolve imitar e superar o basquete, ao deixá-las para o fim, como aconteceu na decisão da Copa do Mundo no Qatar e agora, por duas vezes seguidas, entre Inter e Barça.

Senhor editor, sugira sempre. Sem constrangimentos.

E obrigado também para vocês, basquete e, sobretudo, futebol.

Que os deuses dos ginásios e estádios os abençoe hoje, amanhã e sempre. Amém.

(E agora? Não sobrou espaço para PSG x Arsenal).

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.



Folha de S.Paulo