Entidade lança campanha de combate ao racismo no esporte – 05/05/2025 – Mônica Bergamo


O Instituto Identidades do Brasil (ID_BR) lança nesta segunda-feira (5) a campanha “Respeito Sim — Respeita Nosso Jogo”. A ação convoca clubes, torcedores e atletas a combaterem a naturalização do racismo esporte. Para isso, são propostas a criação de protocolos de acolhimento às vítimas e suas denúncias, punições mais severas em casos de discriminação racial e a construção de um ambiente de respeito “onde a diversidade é celebrada”.

A estreia da campanha acontece após uma série de denúncias de racismo em campeonatos como a Libertadores e o Brasileirão. No último domingo, o jogador Miguel Ángel Terceiros Acuña foi preso em fragrante pela Polícia Civil sob suspeita de injúria racial. O caso aconteceu durante uma partida da série B entre o Operário e o America-MG.

Por isso, o futebol foi escolhido como o primeiro esporte a ser abordado pela campanha.

Diretor institucional do ID_BR, Tom Mendes afirma que, embora o futebol seja uma paixão nacional, é comum que seus ídolos sejam vistos em posição de vulnerabilidade quando o assunto é a discriminação racial. “E o combate ao racismo sempre aconteceu de uma forma muito limitada”, diz.

A organização sem fins lucrativos trabalha junto a empresas, organizações e governos para desenvolver ações nas áreas e de dados, empregabilidade, educação e engajamento que incentivem a busca pela igualdade racial.

Além do manifesto em vídeo publicado nas redes sociais, o instituto vai realizar treinamentos gratuitos em times de futebol. Clubes como Fortaleza, Athletico Paranaense e Atlético Mineiro já aceitaram participar. Nas próximas semanas, uma cartilha digital com vocabulário antirracista também vai ser divulgada para o público.

Um dos pontos de reivindicação da campanha é a mudança nas penalidades a clubes e suas torcidas em casos de racismo. “As punições são sempre muito lisas. As entidades do futebol punem mais quando o time entra atrasado para o jogo do que quando o jogador sofre racismo dentro do campo. É uma discriminação do próprio sistema, como se houvesse permissividade para fazer isso”, afirma Mendes.

O jogador de base do Palmeiras Luighi Hanri Sousa Santos, 18, foi vítima de racismo durante uma partida contra o Cerro Porteño. A Conmebol puniu o time com uma multa de US$ 50 mil (cerca de R$ 290 mil), a produção de uma campanha de conscientização nas redes sociais do time paraguaio e a ausência de público nos jogos da competição. Cabe recurso.

No ano passado, os mesmos US$ 50 mil foram aplicados pela organização contra o Botafogo por atrasos em uma partida da Libertadores na Colômbia. A entidade alegou que o clube descumpriu o horário para a entrada em campo e demorou para voltar do intervalo, o que resultou no atraso da retomada do jogo.

O Código Disciplinar da Conmebol prevê multa de pelo menos US$ 100 mil (aproximadamente 580 mil) a clubes cujos torcedores atentem contra a dignidade humana por motivos como cor da pele ou orientação sexual.

Para Mendes, a ausência de pessoas negras, indígenas e de origem periférica na liderança de instituições do futebol contribui para a manutenção desses casos. O acesso desigual a oportunidades para meninos e meninas negras nas categorias de base também é abordada pela campanha.

“Outro ponto é a ausência de educação antirracista nos clubes, desde o preparo de técnicos, até os familiares, para saberem lidar com casos de racismo em campo, principalmente com jovens e crianças.”

Segundo ele, além de melhorar a saúde e a qualidade de vida do jogador, esse tipo de mudança pode melhorar seu desempenho em campo e, assim, alcançar os interesses do próprio time —como alcançar mais vitórias.

com KARINA MATIAS, LAURA INTRIERI, MANOELLA SMITH e VICTÓRIA CÓCOLO

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.



Folha de S.Paulo