Praia Martim de Sá, em Caraguatatuba, é uma das mais atingidas pelo avanço do mar no Litoral Paulista – Notícias das Praias


Prefeitura de Caraguatatuba informa que aguarda a melhora das suas condições financeiras para realizar estudos para detectar as causas e avaliar projeto de recuperação da orla, entre eles, a “engorda” da praia 

 

Por Salim Burihan

 

A praia Martim de Sá, em Caraguatatuba, está entre as mais atingidas pelo avanço do mar no Litoral Paulista. O mapa de risco à erosão costeira do litoral do Estado de São Paulo elaborado pelo Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA), classifica a praia Martim de Sá, como uma das praias com risco “muito alto” de erosão costeira crônica. A prefeitura de Caraguatatuba pretende, assim que recuperar suas condições financeiras, realizar estudos para identificar as causas e a apontar soluções para recuperar a praia, entre elas, a possível “engorda” da faixa de areia.

 

 

A Martim de Sá, além de ser uma das mais frequentadas na cidade e região, segundo pesquisa feita em fevereiro deste ano pelo Google Maps, ferramenta das mais utilizadas na programação de viagens, é uma das praias mais fotografadas do Brasil. A praia Martim de Sá, segundo o Google Maps, ficou em segundo lugar entre as mais bem avaliadas e, em terceiro lugar entre as mais fotografadas. A primeira praia mais bem avaliada e mais fotografada foi a de Laranjeiras, em Balneário Camboriú(SC).

 

 

O mapa, que é atualizado de 5 em 5 anos, em sua última atualização de 2022/2023, apontou a Martim de Sá, como uma das praias mais atingidas pela erosão costeira no Litoral Paulista. O risco é classificado em cinco categorias: Muito Baixo (MB), Baixo (B), Médio (M), Alto (A) e Muito Alto (MA).

 

 

Quatro praias de Caraguatatuba são monitoradas desde 1992. Na última avaliação Massaguaçu, Tabatinga e Mococa foram avaliadas como risco ALTO de erosão. A Martim de Sá, como de risco MUITO ALTO. O mapa tem como objetivo atualizar o panorama da erosão costeira no litoral do estado, identificar os principais desafios e uma ferramenta importante para o planejamento e ordenamento territorial, auxiliando na tomada de decisões em relação à gestão costeira.

 

 

Segundo a Dra. Celia Regina de Gouveia Souza, uma das mais renomadas pesquisadora científica do país, da IPA(Instituto de Pesquisas Ambientais), que é vinculado à Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Estado de São Paulo (SEMIL),  os estudos sobre erosão costeira foram iniciados em 1992, através de um monitoramento sistemático de indicadores de erosão costeira nas praias paulistas. A primeira versão do Mapa de Risco à Erosão Costeira foi publicada em 2002.

 

 

O mapa esclarece que as causas da erosão costeira crônica estão associadas principalmente à: ocupação inadequada da orla marítima, destruição de dunas frontais e construções sobre a praia; fenômenos naturais, como os ligados à dinâmica costeira local e aos impactos das mudanças climáticas, como a elevação do nível do mar devido ao aquecimento global, e o aumento da frequência, intensidade e magnitude dos eventos meteoceanográficos severos e extremos; implantação de medidas de mitigação inadequadas, em especial as obras rígidas sobre a praia.

 

 

Na Martim de Sá, segundo os moradores e comerciantes mais antigos que vivem no bairro, a praia já teria perdido, em alguns trechos, cerca de 50% de sua faixa original de areia, praticamente, algo em torno de 50 a 80 metros de sua orla. A erosão ocorre mais entre o meio e o canto direito da praia. Tudo indica que o processo de erosão tenha sido iniciado a partir dos anos 2000 com a urbanização da orla da Martim de Sá.

 

 

A maioria dos quiosques instalados na orla da Martim de Sá teve reduzida a sua faixa de areia frente ao mar. A prefeitura fez uma revitalização nos quiosques, permitindo aos estabelecimentos o uso comercial de suas faixas laterais para compensar a perda do espaço na praia onde antes ficavam as mesas e cadeiras.

 

 

Um dos quiosques mais atingidos pela erosão praial é o Canto Bravo, um dos mais frequentados na Martim de Sá. O quiosque que fica no canto direito da praia perdeu, devido a erosão, quase que a metade do espaço que utilizava em frente ao mar. Hoje, o quiosque usa, no máximo, 45 conjuntos de mesa e cadeiras. A redução da faixa de areia também afeta o faturamento do estabelecimento: menos mesa, menos clientes.

 

 

Faixa de areia em frente ao Canto Bravo em 1990

O comerciante Ari Barbosa, dono do Canto Bravo, lembra que na década de 90 promoveu um show em frente ao quiosque(Foto) com a presença de centenas de pessoas. Possuía espaço suficiente na praia. Hoje, existe uma faixa de areia reduzida, obrigando o quiosque a utilizar seu espaço interno e as laterais do estabelecimento.

 

 

Quiosque Canto Bravo, atualmente, perdeu de 50 a 80 metros de faixa de areia

Barbosa mostra através de fotos como era e como está o trecho de praia que ocupa na Martim de Sá. “Antigamente, havia espaço, muito espaço entre o quiosque e o mar, pelo menos de 100 a 80 metros de areia, Hoje, o quiosque não tem 15 metros de faixa de areia frente ao mar. Estamos bem preocupados”, comenta Barbosa.

 

 

Segundo ele, nos períodos de ressaca, o mar avança sobre o quiosque e chega a avenida Aldino Schiavi. A erosão praial e o avanço do mar ainda não “derrubou” nenhum quiosque na Martim de Sá, como ocorreu na praia da Mococa, na região norte de Caraguatatuba, mas o mar está chegando muito próximo e já causou a derrubada de coqueiros plantados na orla.

 

 

Boa parte dos comerciantes estabelecidos na orla da Martim de Sá, entre eles, Naldo Gomes da Silva, que gerencia o quiosque do Zequinha, instalado na praia desde 1973, reivindicam da prefeitura estudos técnicos para identificar as causas da erosão e buscar soluções, entre elas, um estudo para um possível “engordamento” da praia como foi feito em Balneário Camboriú, em Santa Catarina.

 

Causas

 

A Dr.ª Célia Regina de Gouveia Souza, do IPA(Instituto de Pesquisas Ambientais), considerada uma das maiores especialistas em erosão praial no país, esteve em novembro de 2023 em Caraguatatuba. Ela possui um banco de dados com fotos e imagens de satélite desde 1960 das praias do litoral paulista, entre elas, a Martim de Sá.

 

Em entrevista concedida ao Notícias das Praias, na ocasião, a Dr.ª Célia Regina de Gouveia Souza, adiantou que é preciso um estudo mais aprofundado para saber o que estaria ocorrendo e definir as melhores alternativas para recuperar a praia Martim de Sá.

 

Ela lembrou que até 2017, segundo suas análises, a praia Martim de Sá apresentava risco elevado de erosão e que, em 2022, passou a ser classificada como de risco Muito Alto. Segundo ela, de uma maneira geral, as erosões ocorrem devido às mudanças climáticas, a elevação do nível do mar e as intervenções na faixa litorânea.

 

No caso da Martim de Sá, por exemplo, ela avaliou que a erosão teve início entre 1999 e 2000 quando houve muita ocupação na área de praia. “O que se faz em cima da faixa de areia acaba interferindo nas condições da praia”, alertou.

 

Com relação a praia Martim de Sá, a pesquisadora defendeu, na ocasião,  que é preciso fazer um estudo mais aprofundado para avaliar as causas da erosão e definir as alternativas ideais para a recomposição da sua faixa de areia. O “engordamento” da faixa de areia, sugerido por comerciantes da Martim de Sá, segundo ela, é uma obra cara e depende do estoque de areia de outra praia vizinha para recompor a Martim de Sá. O ideal, segundo ela, é realizar os estudos antes de se definir as alternativas para recomposição da faixa de areia da praia.

 

 

Prefeitura

 

 

 

A Prefeitura de Caraguatatuba informou, através da Secretaria de Urbanismo, que o projeto de Intervenção Urbanística (PIU), na Praia Martim de Sá, foi finalizado com a conferência de dimensões com a fiscalização do urbanismo e os termos de conclusões aos quiosques concedidos.

 

Segundo a prefeitura, os dois quiosques que ainda não iniciaram as reformas, estão em processo de análise e aprovações, considerando situações diferenciadas de suas ocupações diante a nova geografia que a praia está se redesenhando perante a redução drástica das faixas de areias nestes locais, entre eles, o Canto Bravo.

 

A prefeitura adiantou que estes quiosques deverão receber uma readequação da implantação com redução de suas áreas, e o PIU ( Plano de Intervenção Urbanística) deverá ser reavaliado pelas esferas competentes.

 

Com relação a erosão que atinge a praia Martim de Sá, a prefeitura informou através da Secretaria de Meio Ambiente, que reconhecemos que a praia enfrenta problemas de erosão, e que está ciente da preocupação da comunidade local.

 

A prefeitura destaca que existe um estudo em andamento pelo governo do estado de São Paulo, que aborda a erosão nas praias do estado, e a Martim de Sá é uma das praias que está sendo avaliada nesse contexto.

 

Segundo a prefeitura, atualmente, devido a restrições financeiras, a administração não possuí condições para contratar uma empresa para realizar uma avaliação mais aprofundada. No entanto, o prefeito Matheus Silva já solicitou à nossa secretaria que iniciemos tratativas para identificar quais são as praias mais vulneráveis. Ainda, segundo a prefeitura, é possível que a Martim de Sá seja uma das prioritárias, considerando seu fluxo de visitantes.

 

A prefeitura informa que está analisando a possibilidade de implementar um estudo para um projeto de engorda na praia, assim como já foi feito em outras cidades do país, como a praia de Natal, no Rio Grande do Norte. Segundo a administração, é essencial previsão orçamentária para a realização de estudos adequados que permitam elaborar um projeto eficaz e, posteriormente, executar as obras necessárias para a proteção da orla.

 

A prefeitura também se manifestou sobre a suspeita levantada por comerciantes da Martim de Sá, de que a construção dos moles do enrocamento do rio Juqueriquerê, na região sul, tenha colaborado para o aumento do processo de erosão na praia.

 

A prefeitura informou que não tem dados que comprovem que a construção dos moles de enrocamento no rio Juqueriquerê esteja contribuindo para o aumento da erosão das praias da cidade, incluindo a Martim de Sá. Segundo explicou a prefeitura, a obra dos moles é bastante recente e, portanto, a administração não dispõe de evidências concretas nesse sentido.



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