Audiência sobre cruzeiros em Búzios causa preocupações sobre futuro da economia local

Nesta quarta-feira (30), uma audiência pública discute o futuro do fundeio de navios em Búzios. A sessão acontece na Praça Santos Dumont, no Centro de Búzios, a partir das 14h. A ação, que tem preocupado comerciantes, foi determinada pela juíza federal Monica Lúcia do Nascimento Alcântara Botelho, no âmbito da Ação Civil Pública movida pelo Ministério Público Federal (MPF), que questiona o licenciamento ambiental para a prática na cidade.

Entre os temas da audiência está a exigência de instalação de boias de amarração. Atualmente, os cruzeiros que atracam em Búzios ultrapassam 180 mil toneladas, enquanto as boias propostas suportam apenas 6 mil toneladas. Especialistas apontam que seria necessário hoje construir fundações náuticas profundas para garantir segurança — um investimento estimado em dezenas de milhões de reais, com manutenção igualmente milionária.

Em Búzios, o turismo de cruzeiros é uma das principais fontes de receita econômica, movimentando restaurantes, pousadas, lojas e serviços. Por isso, a convocação da audiência e a possibilidade de restrições — que podem levar à suspensão do fundeio devido ao alto custo das soluções propostas — geram preocupações sobre a manutenção de empregos e da estabilidade econômica local.

De acordo com informações da Associação do Centro Turístico de Búzios (ACTB), como forma de alerta, empresários e comerciantes do Centro, Ossos e bairros adjacentes já programaram o chamado “fechadão do comércio” durante a audiência pública. Lojas e estabelecimentos irão suspender as atividades por duas horas com o slogan: “Vamos fechar por duas horas para não fechar para sempre”. O movimento já conta com mais de 40 lojistas confirmados, segundo Vana Lopes, presidente da ACTB.

Precedente de prejuízo

O temor dos comerciantes é justificado. Em 2023, os cruzeiros deixaram de atracar em Búzios por dois meses, o que resultou em prejuízos diretos para o comércio. A suspensão foi provocada pela sobrecarga dos píeres públicos, que também atendem escunas, catamarãs e outras embarcações. Rogério Guedom, proprietário da Casa Praia D’ecor, relatou que teve queda de até 80% nas vendas. “O público cruzeirista é vital para nós”, disse.

Desafios técnicos e inviabilidade municipal

O especialista em logística marítima e portuária Luciano Oliveira, com 40 anos de atuação no setor — incluindo operações com navios da OTAN —, contribuiu com uma análise técnica para o debate. Segundo ele, há quatro modelos principais de ancoragem para grandes embarcações como os cruzeiros que operam em Búzios. Todos exigem estudos técnicos rigorosos, mão de obra especializada e o uso obrigatório de práticos marítimos, o que eleva ainda mais os custos operacionais.

Um dos modelos mais comuns são as boias do tipo “Dolphin” que, embora aparentemente simples, têm custo inicial na casa das dezenas de milhões de reais e demandam estruturas robustas como:

  • De 4 a 5 boias de apoio;
  • Correntes de grande resistência;
  • De 8 a 10 sapatas cravadas no leito marinho.

Ainda de acordo com o profissional, a construção das estruturas tem causam risco ambiental. As obras interfeririam diretamente no fundo marinho, em uma área que abriga o sensível Parque dos Corais, exigindo cuidados extras com licenciamento e mitigação de impactos.

“O debate em torno das boias começou há cerca de 15 anos, sem base técnica adequada, e foi evoluindo até a audiência de agora. Mas os navios mudaram, cresceram, e as soluções precisam acompanhar essa realidade”, conclui Luciano.

Temporada histórica e números expressivos

A temporada 2024/2025 foi encerrada no último dia 16 de abril com a chegada do último transatlântico. Búzios recebeu cerca de 100 escalas desde outubro de 2024, com navios que trazem até 5 mil pessoas entre passageiros e tripulantes. Segundo a Prefeitura, aproximadamente meio milhão de visitantes passaram pela cidade.

A estimativa é de que R$ 13 milhões foram injetados na economia local, com gastos médios de R$ 750 por visitante, abrangendo alimentação, comércio, transporte e passeios turísticos. E o secretário de Turismo, Thomas Weber, destaca a importância da temporada:

“Receber navios de cruzeiro em Búzios é muito mais do que uma alegria — é uma oportunidade concreta de desenvolvimento para a nossa cidade. Cada tripulante e passageiro que desembarca aqui investe em nossos serviços, gerando renda e sustentando empregos locais.”

O impacto é percebido por todos, do grande empresário ao vendedor ambulante. Edario Oliveira, que vende cocos no calçadão da Praia da Armação, é categórico: “Eu dobro o estoque de cocos. O movimento dos cruzeiros é certo, é nossa garantia”.

Outros setores também são diretamente beneficiados, como restaurantes, lojas, quiosques, transportes turísticos, artesanato e prestadores de serviços. A movimentação também impulsionou contratações locais e gerou renda informal.

Fonte: Fonte Certa