O tênis de mesa, define o campeão mundial Hugo Calderano, é um esporte solitário. Está sempre viajando e se adaptando a culturas diferentes. Por isso, após o ciclo das Olimpíadas de Paris, decidiu reconstruir a sua equipe e mudar a sua rotina, priorizando seu bem-estar e passando mais tempo em “lugares com sol”, porque lhe dá mais energia.
Hugo já havia antecipado que, após Paris-2024, teria uma abordagem mais tranquila na carreira, para que a cabeça e o corpo pudessem ‘respirar um pouco mais’.
“Eu quero aproveitar mais, curtir um pouco mais. O tênis de mesa continua sendo a minha prioridade. É só que é um esporte solitário, em que a gente viaja para muitos países. Eu sou vegetariano, então também tenho dificuldade com a comida ali na Ásia. O que está acontecendo é uma abordagem diferente para que não seja esse sacrifício total. As viagens desgastam. Quero estar rodeado das pessoas que me fazem feliz”, explicou em entrevista coletiva na manhã desta quinta-feira (24).
Os meses foram importantes para ver o período com mais distância, com confiança de que o tempo faria o seu trabalho para diminuir, com a ajuda da família, da companheira Bruna Takahashi e de amigos próximos.
O título mundial conquistado em Macau no último domingo (20), contou ele, foi resquício do trabalho sólido que fez pensando nas Olimpíadas de Paris, mas com essa reconstrução necessária após as derrotas tanto na semifinal quanto na disputa de bronze dos Jogos. Em entrevista após a partida contra o número 1 do mundo, Lin Shidong, vencida por 4 games a 1, ele disse que estava para baixo há um mês.
“Realmente, o pós-Olimpíadas não foi fácil. Tive que me reconstruir, pensar em perspectivas, tem esse período passageiro. Eu sou resiliente, não tenho medo de sofrer, e é preciso ter muita coragem. Já tinha me recuperado, voltado a treinar, estou me divertindo com o esporte novamente. O título foi uma oportunidade que eu estava pronto para abraçar. Estava para baixo, mas não fiz nada diferente. É resiliência, tirar 100% do que eu tenho para dar naquele momento”, disse.
Esse também será o último ano de Calderano no Liebherr Ochsenhausen, time da Alemanha em que ele soma nove temporadas e joga a segunda perna da semifinal da Bundesliga já no próximo domingo (27). Caso avance, a última partida pela equipe será disputada em junho. A decisão caminha junto à vontade de aproveitar a longevidade da carreira.
“Foi uma decisão pensando em liberdade. Coloquei como objetivo brigar por títulos nesse fim de ciclo. Ano que vem, vou jogar menos ou não jogarei por clubes. A ideia é conhecer outros centros de treinamento, de estar com contato com o sol. (…) A cidade tem muita neve, chuva, fica nublado, raramente sai um solzinho, e depois de 11 anos estou sentindo bastante isso. Com certeza, vou continuar tentando me manter brigando [por títulos]. Esse título não foi uma coisa que vai me deixar satisfeito. Vou continuar brigando por títulos, medalhas nos Jogos Olímpicos e não vejo por que não continuaria evoluindo meu jogo”.
Em janeiro, Hugo anunciou o término da parceria com a equipe técnica que o acompanhou nos últimos 15 anos, incluindo a saída do treinador francês Jean-René Mounie, que agora ocupa o cargo de consultor internacional da Confederação Brasileira de Tênis de Mesa. Ele teve a companhia de Thiago Monteiro em Macau, no segundo torneio em que estiveram juntos como treinador e atleta —na primeira, ele perdeu logo no começo do torneio.
“Brinquei que é 8 ou 80 com o Thiago, mas é melhor do que 50/50, quando se perde nas oitavas, porque assim é mais emocionante. É um grande nome do tênis de mesa, que foi por muitos anos o número 1 do Brasil. Ainda não trabalhamos muito juntos, trocamos umas ideias, mas ele me deu um apoio na competição. Acho que é o máximo que posso pedir de um técnico ou treinador. Com a minha experiência, sempre fui um atleta muito independente. A coisa mais importante para mim em um técnico é não me atrapalhar e depois estar ali para se eu precisar de alguma coisa, de dar um apoio, dar uma força, e ele fez isso muito bem”.
Sobre a preparação para os próximos ciclos, Hugo foi claro: sente que está preparado para jogar em alto nível nos “próximos quatro, seis, oito anos”.
Folha de S.Paulo