Neymar vem lidando com sequência de problemas musculares
Neymar vinha fazendo um retorno gradativo aos gramados após ter sofrido uma lesão no dia 2 de março, contra o Bragantino, pelo Paulistão, no entanto, voltou a sentir a coxa na partida contra o Atlético-MG, pelo Brasileirão, no dia 16 deste mês. Na última semana, o Santos confirmou um novo problema muscular no camisa 10, mas em uma região diferente do edema anterior. Os exames constataram uma lesão no músculo semimembranoso da coxa esquerda.
Em busca de entender melhor a nova contusão de Neymar e o que pode estar causando essa sequência de problemas físicos no camisa 10, o iG Esporte conversou com a Dra. Flávia Magalhães, médica esportiva há mais de 20 anos, que possui passagens por vários clubes brasileiros e pela CBF.
A doutora alerta que após uma cirurgia no joelho como a que Neymar fez em novembro de 2023, especialmente quando envolve a reconstrução do ligamento cruzado anterior (o LCA), o corpo entra em um processo longo de readaptação, que pode ocasionar uma sequência de lesões musculares, como as que estão acontecendo com o jogador.
“(A cirurgia do LCA) altera toda a biomecânica do corpo e, por isso, é comum o surgimento de desequilíbrios musculares, principalmente na parte posterior da coxa. Além disso, há mudanças na marcha e na mecânica da corrida, o que pode sobrecarregar outros músculos. O atleta também perde força e a capacidade do corpo de reconhecer e ajustar a posição da articulação. Tudo isso aumenta o risco de lesões compensatórias, como contraturas e distensões musculares”, disse a médica.
Com relação às lesões recentes de Neymar, pode se considerar que o jogador do Santos vem tendo “sorte”. Flávia comenta que o camisa 10 está conseguindo evitar uma distensão, o que seria algo bem mais grave: “No caso dele, as lesões recentes foram consideradas leves. O edema muscular, por exemplo, é um acúmulo de líquido no músculo, causado por microtraumas ou sobrecarga. Já a contratura é aquele ‘endurecimento’ da musculatura, mas sem ruptura das fibras, diferente do que acontece numa distensão, por exemplo”.
Antes de retornar contra o Fluminense, partida anterior a que Neymar sofreu sua lesão mais recente, o jogador havia ficado 42 dias afastado dos gramados. Segundo Flávia Magalhães, esse período provavelmente foi mais extenso do que o normal por conta do histórico do jogador e uma cautela extra do clube.
“É bem provável que o tempo de recuperação escolhido pelo departamento médico do Santos, de 42 dias, tenha sido uma decisão estratégica. Eles certamente consideraram todo o histórico do Neymar, o fato de ele estar retornando de uma cirurgia importante, já ter sofrido outras lesões musculares, e estar numa fase da carreira em que o corpo responde de maneira diferente”, afirmou Flávia.
Questionada pelo iG se a idade de Neymar (33 anos) já é um fator que passa a ser um agravante em questões musculares, Flávia confirmou que sim: “Com o tempo, a regeneração do tecido muscular se torna mais lenta, a produção de colágeno e elastina diminui, e o corpo vai perdendo elasticidade e força. Tudo isso aumenta o risco de lesões por sobrecarga, além de tornar o processo de recuperação mais delicado”.
A médica também reforça a importância do trabalho preventivo em lesões desse tipo, alertando que além do fortalecimento muscular, existe a necessidade de reavaliar todo padrão de movimento: a forma de correr, de aterrissar e de acelerar. Isso porque o jogador tende a compensar o esforço para a perna que não vinha lesionada, o que pode gerar uma sobrecarga e nova lesão.
Análise sobre a lesão de Neymar no joelho esquerdo
Outro aspecto abordado pela médica foi a lesão que Neymar sofreu no joelho em 2023, na qual o jogador rompeu o LCA e o menisco, podendo ser considerada a pior da carreira do atleta, e também uma grande responsável pelos problemas musculares que o camisa 10 vem enfrentando nos últimos tempos.
“Quando falamos em cirurgia do LCA, sabemos que a recuperação se dá por fases. Nos primeiros dias, o corpo passa por um processo inflamatório intenso. Nessa fase, o foco é controlar o edema e a dor, e começar a ativar o quadríceps o quanto antes. Depois disso, o corpo começa a cicatrizar. O colágeno que está sendo produzido ainda é imaturo, e os músculos continuam fracos. É hora de começar o fortalecimento mais progressivo, reeducar a marcha, trabalhar a propriocepção e tentar recuperar toda a mobilidade do joelho”.
“Entre o segundo e o terceiro mês, entra a fase de remodelação. A gente precisa seguir com o trabalho de força, equilíbrio e treino funcional, sempre evitando qualquer tipo de sobrecarga. A partir do terceiro mês, começa o retorno mais ativo às atividades esportivas. Mas ainda é uma fase crítica, porque o corpo continua se adaptando, e o risco de lesões secundárias é alto. A gente simula os gestos esportivos, como cortes, saltos, acelerações, e avalia se há simetria muscular e se o padrão de movimento está seguro”.
Questão psicológica da lesão
“No lado psicológico, os obstáculos são igualmente importantes. Muitos atletas sofrem de cinesiofobia, que é o medo de se movimentar ou de se lesionar de novo. Mesmo com liberação médica, eles não confiam totalmente no próprio corpo. Isso gera rigidez, insegurança e queda de desempenho. Além disso, há a ansiedade por performance, a pressão da torcida, da mídia, dos patrocinadores. Tudo isso pode levar a decisões precipitadas, como voltar antes da hora”.
“Outro ponto comum é a queda na autoconfiança, que afeta diretamente o rendimento, principalmente em situações técnicas como dribles, acelerações e decisões em campo. A fadiga mental também entra em cena: o tempo todo o jogador está se vigiando, se corrigindo, com medo. Isso cansa. E esse cansaço mental prejudica decisões rápidas e a coordenação motora fina”, concluiu a doutora.
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Portal IG