Os usuários chineses de mídia social levaram Hugo Calderano ao alto dos tópicos, no domingo (20) e na segunda-feira, com postagens como “Respect, Hugo!!”, em inglês, declarando seu respeito ao brasileiro.
“Ele venceu seus demônios”, dizia uma mensagem, reproduzindo vídeo da coletiva em que o mesa-tenista chorou após vencer o Mundial em Macau, Região Administrativa Especial no Sul da China. “Sempre acreditei em mim, há um mês eu estava tão para baixo”, falou ele.
O brasileiro se tornou no domingo o primeiro atleta de fora da Ásia e da Europa campeão da Copa do Mundo. Atual número cinco do mundo, ele venceu o 3º, 2º e 1º do ranking —um japonês e dois chineses— no caminho até a taça, menos de um ano após a frustração por ficar fora do pódio nos Jogos de Paris.
Atletas chineses venceram esse torneio em todas as edições desde 2005. O brasileiro não só quebrou essa hegemonia como o fez em plena China.
Na mensagem de maior destaque no Weibo, a principal plataforma dos comentários por escrito, um analista de jornal ligado à agência Xinhua escreveu: “Isso mesmo, foi Hugo Calderano, do ‘deserto’ de tênis de mesa do Brasil’, que conquistou o Mundial. Sem fãs, sem atenção e sem recursos, com talento, trabalho duro e amor, chegou ao topo do mundo.”
Um dos paralelos levantados por diferentes usuários foi com “Os Miseráveis”, de Victor Hugo, em parte pela coincidência do nome. A ideia é que Calderano também representa uma “revolução”.
Em primeiro lugar, por sua forma física. “Hugo se tornou um deus numa batalha” diante dos jovens jogadores chineses, escreveu um, de Pequim.
“Não há vencedores naturais, o trabalho duro é premiado, até no Brasil é possível produzir um campeão de tênis de mesa”, completou outro, dizendo que ele faz vislumbrar “um novo mundo”.
“Bem-vindo a 2025, uma nova era do tênis de mesa”, concordou o analista do portal Guancha, de Xangai, argumentado que Calderano introduz o Brasil e as Américas “ao palco mundial”.
O que ele traz é um tênis de mesa mais “simples e rude”, apresentando “provavelmente a melhor aptidão física” para o esporte com seu 1,83 metro e preparo de atleta de pista.
Por outro lado, a maioria das postagens, mesmo as mais elogiosas ao brasileiro, eram acompanhadas de lamentos ou críticas ao fato de Fan Zhendong, medalha de ouro na última edição olímpica, não ter competido.
“Fica evidente que isso não pode ser alcançado sem Fan Zhendong”, escreveu um. Fan tem a idade do brasileiro, 28 anos, e já perdeu duas vezes para ele, mas sua característica de “pressionar continuamente” é vista como sem igual.
Fan anunciou em dezembro ter deixado o ranking da Federação Internacional de Tênis de Mesa, diante do anúncio de multas altas para quem não participar de eventos da entidade. Com isso, ficou fora do Mundial.
Sobraram críticas online à federação e aos dirigentes chineses, cobrando “responsabilização” por afastá-lo, e aos mesa-tenistas derrotados por Calderano. “Graças a Liu Guoliang, é a primeira vez que ouço o hino nacional brasileiro”, disse um.
Outros foram mais bem-humorados. “O Brasil fez história no tênis de mesa. Quando é que a nossa seleção de futebol vai fazer história?”
Folha de S.Paulo