Boris Spassky, campeão de xadrez que perdeu o ‘Jogo do Século’, morre aos 88 anos – 27/02/2025 – Esporte


Boris Spassky, o campeão mundial de xadrez cuja carreira foi ofuscada por sua derrota para Bobby Fischer no “Jogo do Século” em 1972, morreu nesta quinta-feira (27), em Moscou. Ele tinha 88 anos.

Sua morte foi anunciada pela Federação Internacional de Xadrez, o órgão regulador do jogo, que não citou a causa. Ele estava doente há muito tempo, tendo sofrido um grave derrame em 2010 que o deixou em uma cadeira de rodas.

Arkady Dvorkovich, o presidente da federação, também conhecida como Fide, disse em um comunicado: “Ele não foi apenas um dos maiores jogadores da era soviética e do mundo, mas também um verdadeiro cavalheiro. Suas contribuições para o xadrez nunca serão esquecidas.”

Spassky teve realizações notáveis como jogador, mas a política do jogo com Fischer, no auge da Guerra Fria, e a atenção da mídia focada nele, reduziram ambos a meros peões em um drama mais amplo.

Spassky não estava feliz com toda a atenção. Em uma entrevista de 2023 para uma exposição no Hall da Fama do Xadrez Mundial, em St. Louis, seu filho, Boris Jr., disse: “O papel que ele desempenhou no jogo de 1972, ele sempre pensou nisso como um jogador de xadrez porque toda a confusão em torno disso, política, geoestratégica, ele nunca mencionou. Tenho certeza de que ele sentiu a pressão.”

Foi uma medida da ressonância do jogo que 20 anos depois, quando eles realizaram uma revanche, atraiu interesse mundial, mesmo que ambos os jogadores já estivessem bem além de seu auge.

Quando jogaram a primeira partida, em Reykjavik, Islândia, Fischer, com sua personalidade ousada, era algo como um herói popular no Ocidente. Ele era amplamente retratado como um pistoleiro solitário enfrentando corajosamente a poderosa máquina de xadrez soviética, com Spassky representando o império soviético repressivo.

A realidade não poderia estar mais distante da verdade. Fischer era um homem-criança mimado de 29 anos, muitas vezes irascível e difícil. Spassky, de 35 anos, era urbano, descontraído e de bom humor, cedendo a muitas das exigências de Fischer antes e durante o jogo.

A partida quase não aconteceu. Estava programada para começar em 2 de julho, mas Fischer ainda estava em Nova York, exigindo mais dinheiro para ambos os jogadores. Um promotor britânico, James Slater, adicionou US$ 125 mil ao prêmio, dobrando-o para US$ 250 mil (cerca de US$ 1,9 milhão em valores atuais, R$ 11 milhões na conversão para o Real), e Fischer chegou em 4 de julho.

A partida era uma série melhor de 24, com cada vitória contando como um ponto, cada empate como meio ponto, e cada derrota como zero. O primeiro jogador a alcançar 12,5 pontos seria o vencedor.

No Jogo 1, jogado em 11 de julho, Fischer cometeu um erro e perdeu. Depois, ele se recusou a jogar o Jogo 2 a menos que as câmeras de televisão usadas para gravar a partida fossem desligadas. Quando não foram, Fischer desistiu do jogo.

A partida parecia incerta, e no auge da crise, o Secretário de Estado Henry Kissinger fez um apelo pessoal a Fischer para jogar. Um compromisso foi alcançado, e a partida foi movida para uma pequena área de jogo fechada.

Fischer venceu o Jogo 3, sua primeira vitória contra Spassky, e procedeu a esmagá-lo, vencendo a partida por 12,5 a 8,5.



Folha de S.Paulo