O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, durante a cerimônia Nova Indústria Brasil
O Palácio do Planalto passou a terça-feira (25) concretizando uma troca, projetada há alguns dias, na Saúde. E envolvido em rumores de mudança na Agricultura, essa desejada há meses.
A ministra da Saúde deixou o cargo, enquanto o da Agricultura passou mais um dia, de um longo período, sob forte pressão para sua derrubada.
A queda de Nisia Trindade para dar lugar a Alexandre Padilha (PT), até então na Secretaria das Relações Institucionais, e as chances de Carlos Fávaro (PSD-MT) cair fazem parte de uma estratégia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para reverter outra queda: a de popularidade.
Pesquisa CNT/MDA revela que a avaliação negativa do governo Lula atingiu 44%, aumento de 13 pontos em relação à pesquisa anterior, de novembro de 2024 (detalhes abaixo).
Troca pragmática
A expectativa é iniciar uma reforma ministerial. Uma das alterações mais aguardadas era a substituição de Nísia, para Padilha não apenas combater o que cabe diretamente a um ministro da pasta – o aumento dos casos de dengue – mas também assumir uma frente política, em busca de melhorar a relação com governadores de oposição.
Rodrigo Prando, cientista político da Universidade Mackenzie, explicou ao portal iG que a troca de Nísia é uma escolha pessoal de Lula, para proteger o Ministério da Saúde, uma pasta importante, de influência de partidos com interesses fisiológicos.
“No caso da ministra Nísia, a mudança não parece ser por incapacidade ou corrupção, mas por uma questão política. É uma forma de acomodar novos atores no governo, pensando numa reeleição mais tranquila, especialmente diante da queda na aprovação do presidente Lula”, pontuou Prando.
Rumores sobre uma possível troca no Ministério da Agricultura também circularam. A bancada ruralista, segundo apurou o portal iG, afirma que o atual ministro nunca teve uma boa relação com o setor agropecuário, e a pressão por sua saída existe há mais tempo.
A crise gerada pela interrupção das contratações do Plano Safra aumentou a pressão sobre Fávaro devido a incertezas, especialmente para os produtores, com críticas à falta de planejamento fiscal.
A distribuição desigual dos recursos entre a agricultura familiar e o agronegócio também foi um ponto de debate. O governo anunciou uma Medida Provisória de R$ 4 bilhões para mitigar os impactos, mas a situação será resolvida apenas com a aprovação do orçamento.
Em meio à possibilidade de um novo nome, o deputado Arnaldo Jardim (Cidadania-SP), da Frente Parlamentar da Agropecuária, que teria sido cotado para o cargo, negou qualquer sondagem, em um vídeo divulgado nas redes sociais, citando, por exemplo, sempre trabalhar pelo Plano Safra.
Terceiro mandato sem empolgar
A pesquisa CNT/MDA ainda apontou que a avaliação positiva do governo caiu para 28,7%, o menor nível do atual mandato. O estudo foi realizado entre 19 e 23 de fevereiro e envolveu 2.002 entrevistas presenciais. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais.
Prando explica que “Lula 3 “ ainda não apresentou uma marca concreta à sociedade. Além disso, a alta nos preços e a inflação dos alimentos têm impactado negativamente na aprovação do governo. “Há uma oposição muito mais forte do que nas gestões anteriores do PT, inclusive no primeiro mandato de Dilma”, destacou o especialista.
Marketing e crédito
O portal IG conversou também com o economista Nicola Tingas, chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), sobre a queda de popularidade de Lula, inclusive entre seus apoiadores mais fiéis.
Para ele, essa situação gerou uma reação do governo, que busca recuperar e expandir sua base eleitoral por meio de ações como “marketing”, novos incentivos fiscais, aumento do emprego público, exploração de petróleo, redução de impostos para quem ganha até 5 mil reais por mês, e expansão do crédito público e privado, incluindo novas modalidades como o crédito consignado.
“Em resumo, é uma injeção de dinheiro na economia para conter a desaceleração do PIB e atrair apoio eleitoral”, destacou.
Com a saída de Padilha, Lula agora precisa definir quem assumirá a Secretaria das Relações Institucionais.
A disputa envolve nomes como Silvio Costa Filho, José Guimarães, Jaques Wagner e Isnaldo Bulhões, com a possibilidade de a função ser atribuída ao Centrão, como parte de uma estratégia para fortalecer a base aliada no Congresso.
Para Prando, a Secretaria de Relações Institucionais é essencial ao diálogo entre os poderes e, ao alterar ministérios ou a própria secretaria, o governo busca reorganizar e fortalecer sua estrutura política.
Para o cientista político Gerson Leite de Moraes, as consequências políticas das mudanças são difíceis de prever, especialmente quando as opções são limitadas.
O governo, segundo ele, se encontra em um cenário de pragmatismo e cálculo político. Para manter uma relação com o Centrão e garantir apoio até 2026, será necessário realizar a reforma ministerial, ciente de que, mesmo assim, o processo pode envolver traições.
“Neste momento, o governo Lula depende da aliança com o Centrão, pois não consegue garantir governabilidade sem esse apoio político, muitas vezes caracterizado por negociações fisiológicas”, concluiu.
Outras conclusões da pesquisa CNT/MDA
O levantamento também mediu o desempenho pessoal de Lula à frente do governo, e a desaprovação atingiu 55%, o maior índice deste mandato, com um aumento de 9 pontos em relação à pesquisa anterior.
A aprovação caiu para 40,5%, contra 50% antes, enquanto a desaprovação subiu para 55,3%, em comparação com 46% anteriormente. Além disso, 4,2% dos entrevistados não souberam ou não responderam, contra 5% na pesquisa anterior.
A maioria (64,8%) acredita que Lula não merece a reeleição, enquanto 31,7% acham que ele deveria governar por mais quatro anos após 2026.
A idade do presidente não foi vista como fator determinante, com 43,6% dos entrevistados mencionando que sua idade (81 anos em 2026) não influencia na sua avaliação.
*Com colaboração de Naian Lopes
IG Último Segundo