“Fez-se justiça com Vinicius.” Assim começa um artigo de opinião do jornal espanhol AS sobre o brasileiro ter ganho o prêmio da Fifa de melhor jogador do mundo, o The Best, na última terça-feira (17).
Tudo bem que o AS é uma publicação que tende para o lado do Real Madrid, mas o texto aborda pontos interessantes, entre eles, de que o The Best “é um prêmio democrático.” Se compararmos com a Bola de Ouro da France Football, em outubro, em que Vini ficou em segundo lugar atrás do espanhol Rodri, é mesmo.
Se na premiação da revista francesa votam cem jornalistas ao redor do mundo, um de cada país no top 100 do ranking da Fifa, no The Best a escolha é de capitães e treinadores de seleções nacionais, jornalistas e milhares de torcedores, cada parte com peso igual de 25%. Em sua última coluna, o colega da Folha Luís Curro explicou que Vini foi muito mais popular que Rodri entre os torcedores; já capitães, treinadores e jornalistas europeus preferiram o espanhol. Existe, sim, eurocentrismo nestas escolhas.
Aqui no Reino Unido, a cobertura da imprensa esportiva britânica dos dois prêmios de melhor do mundo foi rasa. Não ajudou, é verdade, o The Best ter sido na mesma noite de um evento popular da rede de televisão BBC que premia personalidades esportivas do ano, e no mesmo dia em saiu a notícia de doping de um jogador do Chelsea. E como a cerimônia que normalmente é na Europa foi em Doha, no Qatar, e a data foi anunciada em cima da hora, menos jornalistas estiveram fisicamente presentes.
Mas foi frustrante ver que, nos dois casos, um país como a Inglaterra, que ama futebol e se orgulha de sua seleção se posicionar sobre causas importantes, ignorou discussões relevantes.
Na época da Bola de Ouro, por exemplo, o foco foi criticar o boicote do Real Madrid à premiação, em vez de debater por que o fato de Vinicius se manifestar sobre o crime de racismo que sofre ainda incomoda tanto e influenciou o voto de jornalistas contra ele.
Foi motivo de orgulho ver que a noite do The Best foi bastante brasileira. Marta foi coroada com o novo prêmio que leva seu nome, o de gol mais bonito no feminino, marcado em um amistoso da seleção brasileira contra a Jamaica; Gabi Portilho, atacante do Corinthians, entrou na seleção da temporada; o Troféu Fair Play foi para o volante Thiago Maia, do Internacional, que ajudou no resgate às vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul; o menino Gui, que tem uma doença rara e se tornou um torcedor símbolo do Vasco, também foi homenageado.
E, no prêmio principal da noite, o merecimento de Vini Jr foi indiscutível. O brasileiro foi fundamental para o título do Real Madrid na Liga dos Campeões, ajudou o time a conquistar o 36º troféu do campeonato espanhol, marcou 26 gols por clube e seleção.
Em seu discurso, lembrou a infância pobre e disse que o que está fazendo “é por muitas crianças que acham que tudo é impossível e que eles não podem chegar até aqui.”
Concordo com o colega do AS: fez-se justiça com Vinicius. Independentemente de sua importantíssima luta contra o racismo, ele foi eleito porque foi o melhor na temporada 2023/2024. Sorte do futebol e do mundo que, ainda por cima, o brasileiro seja engajado em uma causa tão importante.
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Folha de S.Paulo