Quando o velocista americano Noah Lyles superou seu rival jamaicano Kishane Thompson para ganhar a medalha de ouro nos 100 metros em Paris neste verão, cinco milésimos de segundo separaram os dois homens. A corrida foi a mais acirrada da história olímpica —ainda assim, o resultado foi conhecido quase instantaneamente, graças a novas câmeras capazes de capturar e processar 40 mil imagens por segundo.
E este é apenas um dos muitos avanços feitos na determinação de resultados no esporte. Embora árbitros, juízes e oficiais sempre tenham tido a palavra final do livro de regras esportivas, a tecnologia há muito desempenha um papel. As Olimpíadas de Londres em 1948 apresentaram o primeiro uso de câmeras de foto-finish, enquanto, nos Jogos da Cidade do México, 20 anos depois, a cronometragem eletrônica tornou-se padrão em todos os esportes olímpicos.
Nos últimos anos, avanços tanto em software quanto em hardware trouxeram maior automação para a arbitragem. No futebol, a tecnologia do gol, que determina instantaneamente se a bola entrou, fez sua estreia durante o Mundial de Clubes de 2012, enquanto os impedimentos semiautomáticos foram implementados durante as fases de grupos da Liga dos Campeões da Uefa uma década depois.
Agora, muitos na indústria acreditam que uma nova revolução tecnológica no esporte está em andamento, o que levará a mais decisões em campo sendo feitas ou informadas por sistemas automatizados, em vez de apenas por seres humanos.
Nas Olimpíadas de Paris, a Swiss Timing —que, através de sua empresa irmã Omega, tem ligações com os jogos desde seu papel como cronometrista em Los Angeles-1932— introduziu um novo sistema para mergulho. Ele foi capaz de rastrear a distância entre a cabeça de um mergulhador e a prancha de mergulho —informação que os juízes poderiam usar para determinar se um salto foi executado com segurança ou se deveriam impor uma penalidade de pontos.
Alain Zobrist, CEO da Swiss Timing, diz que avanços na coleta de dados visuais e na velocidade de processamento abriram um mundo de novas possibilidades.
“Podemos rastrear o desempenho dos atletas ou o movimento corporal de uma maneira muito, muito precisa, algo que não podíamos fazer antes”, diz ele. “Há potencial em alguns esportes onde a tecnologia —tecnologia automatizada— poderia ser o tomador de decisões.”
Em mais um sinal dos tempos de mudança, no próximo campeonato de tênis de Wimbledon, os juízes de linha não aparecerão mais à beira da quadra. O mais antigo dos quatro Grand Slams de tênis tomou a decisão de substituir os fiscais de linha humanos por um sistema de rastreamento de bola totalmente automatizado, marcando o fim de uma era que durou mais de um século.
Hawk-Eye, que desenvolveu o sistema eletrônico que aponta se a bola entrou ou saiu, fornece tecnologia de arbitragem para Wimbledon desde 2007. A empresa, sediada no Reino Unido, é de propriedade da Sony Sports e agora trabalha com 23 das 25 principais ligas esportivas do mundo. Recentemente, anunciou uma “joint venture” com a Fifa para construir um centro de tecnologia para explorar como algoritmos podem ajudar a melhorar a tomada de decisões em campo pelos árbitros.
Rufus Hack, CEO da Sony Sports, diz que o avanço da tecnologia nos esportes de elite provavelmente será gradual, mesmo que os avanços recentes em áreas como rastreamento esquelético e aprendizado de máquina abram a porta para novas aplicações.
“Em última análise, a direção de longo prazo, eu acho, é ter mais tecnologia nos esportes”, diz Hack. “Acho que a maioria das pessoas reconhece que é mais rápida, justa e mais objetiva do que os humanos tomando decisões. Mas tem que ser feito de maneira gradual e cuidadosa.”
O progresso pode ser mais rápido quando se implementa em ligas inferiores e até mesmo de base tecnologia a tecnologia já usada nos torneios elite. E os sistemas existentes estão sendo aprimorados. Por exemplo, quando a tecnologia de impedimento automatizado foi implantada pela primeira vez, levava 90 segundos para chegar a um veredicto. Agora, essa espera foi reduzida para um segundo.
Genius Sports, que fornece tecnologia de impedimento semiautomatizada para a Premier League inglesa, inicialmente desenvolveu grande parte de sua tecnologia para ajudar equipes, ligas e emissoras a rastrear desempenho e gerar dados ao vivo. Capturar os movimentos dos jogadores e dados biométricos, por exemplo, pode ajudar a identificar quando o cansaço começa a cobrar seu preço ou se uma mudança tática pela equipe adversária requer uma resposta.
Mas ser capaz de rastrear e analisar um número crescente de pontos no corpo de um único atleta rapidamente levou a aplicações na arbitragem. Matt Fleckenstein, diretor de produtos da Genius, aponta avanços em várias áreas, incluindo tecnologia de câmeras e processamento de dados, que tornaram mais fácil construir sistemas para ajudar a aplicar as regras.
Por exemplo, é possível rastrear até 10 mil pontos no corpo de um atleta durante uma partida ao vivo, informação que pode ser usada para construir um modelo 3D da ação em campo. Isso, por sua vez, pode determinar onde os jogadores estão em relação uns aos outros, bem como em relação à bola e às linhas do campo. Isso torna possível medir decisões simples, como impedimentos, quase instantaneamente, e ajudar os seres humanos a tomar decisões no campo, como se uma bola está em jogo. Mas, no futuro, as aplicações potenciais podem ir muito além.
“Trata-se de ajudar um oficial a chegar a um resultado melhor em um período de tempo mais rápido. E então, eu acho, você verá esses casos de uso mais complexos amadurecerem em algum momento no futuro”, diz Fleckenstein. “Seja em 10 anos ou 15 anos, quem sabe? Eles amadurecerão para serem provavelmente totalmente automatizados, como o que estamos começando a ver com chamadas de linha no tênis.”