Mulheres afegãs fundam negócios sob domínio do Talibã


Tecelãs trabalhando em uma oficina em Cabul, em 10 de novembro de 2024
Wakil KOHSAR

Tecelãs trabalhando em uma oficina em Cabul, em 10 de novembro de 2024

Wakil KOHSAR

Quando Zainab Ferozi viu as mulheres ao seu redor afundando na pobreza com o retorno do Talibã, ela decidiu gastar suas economias e montar uma fábrica de tapetes. Assim como ela, muitas mulheres afegãs estão abrindo empresas para obter renda e desempenhar um papel social.

Oito meses após a queda de Cabul, em agosto de 2021, Ferozi investiu cerca de 20.000 afeganes (1,7 mil reais na cotação atual), que ela havia ganhado dando aulas de costura, para abrir seu ateliê em Herat, no oeste do Afeganistão.

Hoje, conta com orgulho à AFP que consegue cobrir “todas as despesas domésticas” e compensar a falta de trabalho do marido, diarista.

As cerca de 15 tecelãs que trabalhavam para ela perderam seus empregos ou foram privadas de educação, de acordo com a proibição do Talibã de acesso ao ensino após os 12 anos de idade.

Sob esse “apartheid de gênero”, de acordo com a ONU, a taxa de emprego das mulheres no serviço público passou de 26% para zero.

Tuba Zahid, 28 anos, mãe de um filho, também teve que abrir um negócio depois que não conseguiu continuar seus estudos em literatura. No porão de sua casa, ela produz geleias e condimentos.

– Sucesso na Câmara de Comércio Feminina –

“Entrei no mundo dos negócios para criar empregos e permitir que as mulheres ganhem um salário”, explica ela, sorrindo entre suas funcionárias de jaleco branco.

Juntas, elas apresentam seus potes de geleia de figo e outros vegetais marinados que venderão no próprio porão, já que as mulheres estão cada vez menos presentes no espaço público.

Embora algumas tenham suas próprias barracas, os mercados são dominados por homens e “não há anúncios para vender ou promover seus produtos”, lamenta Fariba Noori, diretora da Câmara de Comércio Feminina (AWCCI) em Cabul.

As mulheres também enfrentam dificuldades para se sustentar, pois não podem fazer longas viagens sem um guardião masculino da família, um “mahram”, um problema real em um país onde quatro décadas de guerra deixaram muitas viúvas e órfãs.

Encontrar “um mahram para buscar suas matérias-primas” é um desafio, diz Noori.

Apesar disso, o número de membros da AWCCI aumentou: atualmente, há cerca de 10.000 integrantes, principalmente pequenas e médias empresas, em comparação com “600 grandes empresas” em 2021, diz a dirigente, que está à frente da organização há 12 anos.

– “Problemas psicológicos” –

Há dois anos, Khadija Mohamadi criou sua marca de tapetes e costura, denominada “Khadija”. Professora desempregada devido às novas leis do regime talibã, ela agora emprega mais de 200 mulheres.

“Fico orgulhosa toda vez que uma mulher ajuda outra mulher a se tornar independente”, diz a afegã, que afirma pagar a seus funcionários entre 5.000 e 13.000 afeganes por mês (entre 400 e 1.100 reais na cotação atual).

Sumaya Ahmadi, com apenas 15 anos de idade, diz que foi trabalhar na fábrica de tapetes de Ferozi para ajudar seus pais.

Sem poder ir à escola e “deprimida”, ela queria sair de casa.

“Em casa, eu ficava com raiva. Agora, trabalhamos e isso é bom para nós, nossos problemas psicológicos desapareceram”, diz ela.

Com seu salário, ela pode garantir que seus dois irmãos possam estudar. “Eu digo a eles para estudarem para que possam fazer algo em suas vidas”, afirma.

“Como as escolas estão fechadas para as meninas, eu trabalho”, diz Ahmadi.



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