Para quem está começando no belo e perrengoso mundo das trilhas, sempre aparece uma dúvida importante: quanto e como levar de água para garantir a correta hidratação? E, se não for possível levar tudo o que se espera consumir, como assegurar que a que for encontrada seja potável? Pois, como em quase tudo neste mundo tão líquido (perdão, Zygmunt Bauman!), a resposta é: depende.
Segundo o médico, especializado em medicina em áreas remotas e trilheiro há mais de 25 anos Rodrigo Rodriguez, as doenças mais comuns quando se consome água mal tratada em ambiente selvagem “são as gastroenterites, tipicamente vômitos e diarreias, geralmente causadas por protozoários como Giardia e Criptosporidium e, em segundo grau, as causas virais”.
Ele ressalta que o nível de risco está diretamente ligado ao de antropização, ou seja, à presença do homem, gado e animais de criação nas imediações. “Quanto maior grau antrópico mais a chance de contaminação viral e bactérias clássicas como E. Coli“, aponta, dando como exemplo “o pico dos Marins, cujos cursos de água estão contaminados há mais de 30 anos”. Outro detalhe relevante é a análise do bioma: “Ambientes frios, montanhas, fontes de água de corredeiras pequenas tem menor chance de contaminação que ambientes quentes, águas paradas e lentas e rios de maior volume”, explica Rodriguez, adepto de levar filtros em suas jornadas.
Essa é, por sinal, a escolha preferencial também do instrutor de sobrevivência e militar aposentado Marcelo Montibeller, da Via Radical Brasil. “Em atividades outdoor, quanto mais leve e eficaz o equipamento, melhor”. Em seus cursos, recomenda o uso de garrafas purificadoras, filtros portáteis e lanternas de lâmpadas UV. “São muito seguros, super resistentes e fáceis de transportar, uma garrafa resulta em mais de 1.000 litros de água potável”, explica. Sobre a velha fórmula dos tabletes de Clorin e derivados de hipoclorito de sódio, pondera que são produtos que “usados com muita frequência causam problemas a longo prazo, além de tornarem o gosto da água desagradável e interferirem até no cozimento dos alimentos”.
Já para o também sobrevivencialista Adriano Lofresi, o mais importante a considerar na escolha de um método de purificação de água é “a rapidez, que ele vai proporcionar para consumir a água de forma segura”. Ele explica que, se métodos químicos de purificação “podem demorar de 15 a 30 minutos para funcionar, horas até, e ferver a água vai demandar em torno de 20 minutos da fervura ao esfriamento”, o melhor mesmo é apelar para os filtros industriais, “como os da Stone Water , Lifestraw ou Sawer, que permitem o consumo instantâneo”.
Mas um ponto importante é ressaltado pelo preparador de campo Emerson Magalhães Jorge: “É importante prestar atenção ao equilíbrio do consumo”. Ele conta que já viu “pessoas carregarem litros e litros de água na mochila, e não consumirem nem metade”. A dica é “colocar um pouco de água na boca e não beber, manter essa água o maior tempo que você suportar, não descartar, e engolir”.
“Pode parecer ruim engolir essa água aquecida na boca, mas esse pouquinho de água, manterá a mucosa da boca hidratada, fazendo com que você consuma pouca água e mesmo assim se mantenha hidratado”, acrescenta. Ele jura que funciona —e provavelmente o leitor já está testando segurar um golinho para ver o que acontece.
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