Produção de bioinsumos on farm será ilegal em 2025 caso nova lei não seja aprovada


O Brasil é líder mundial na produção e uso de bioinsumos, com mais de 23 milhões de hectares tratados em 2023, segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). Mais de 60% dos agricultores brasileiros adotam biopesticidas e biofertilizantes, contra os 33% dos produtores na Europa.

Boa parte dos produtores do país fabricam seus produtos biológicos on farm, do inglês, “on” significa dentro e “farm” fazenda, ou seja, multiplicação de cepas bacterianas dentro porteira para consumo próprio. Entretanto, um decreto pode acabar com esse sistema até o fim deste ano, caso não seja aprovada uma nova lei brasileira de produção de bioinsumos.

Produção de bioinsumos on farm e nova lei

De acordo com a legislação vigente, os bioinsumos produzidos dentro das propriedades rurais devem ser para uso próprio da lavoura local e não precisam de registro em órgãos de fiscalização até dezembro de 2024.

A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), que representa o setor produtivo no Congresso Nacional, publicou nota oficial, nesta quinta-feira (31), afirmando que trabalha para resolver com urgência a votação dos Projetos de Lei 658/2021 e 3668/2021, em análise na Câmara dos Deputados, que estabelecem a produção de bioinsumos on farm.

Segundo a nota, existe “um conflito de legislação que, por meio do Decreto nº 6.913/2009, só permite a produção própria de bioinsumos até dezembro de 2024. Caso não seja aprovada uma nova lei de bioinsumos ou derrubado o veto presidencial nº 65 da Lei do Autocontrole, a partir de janeiro de 2025 a produção on farm será ilegal, afetando grande parte dos pequenos agricultores e produtores orgânicos. A infração será punida com pena de 3 a 9 anos de prisão e multa”, afirma a nota.

Segundo a entidade, o deputado Sérgio Souza (MDB-PR), integrante da FPA e relator do projeto de lei sobre o marco regulatório de bioinsumos PL 658/2021, tem trabalhado em uma minuta de substitutivo, elaborada a partir do debate com mais de 50 entidades do setor e órgãos do governo, para garantir a produção em biofábricas nas propriedades, sem colocar os pequenos produtores rurais na irregularidade.

“Com a medida, os custos podem ser reduzidos em até dez vezes em relação aos atuais, impactando também o valor dos alimentos para o consumidor, com mais qualidade e aumento da rentabilidade. Ressaltamos que regulamentar essa prática é essencial para garantir a segurança, a qualidade e a autonomia dos pequenos produtores brasileiros”, finaliza o comunicado.

Setor produtivo

Entidades do setor produtivo pedem urgência de nova legislação. Entidades do setor produtivo pedem urgência de nova legislação.
Entidades do setor produtivo pedem urgência de nova legislação. Foto: Divulgação/CNA

A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), que recebeu no dia 30 de outubro, o deputado federal Sergio Souza (MDB/PR), trouxe os pontos de atenção e a urgência do setor produtivo para a regulamentação do tema.

“Precisamos ouvir adequadamente todos os segmentos envolvidos. Queremos ouvir os agentes de Estado, representantes de produtores, das indústrias de insumos e os demais pares no Parlamento. Queremos que o texto seja objetivo e operacionalmente prático para a regulamentação adequada do setor”, explica o deputado Sérgio Souza (MDB/PR).

De acordo com o vice-presidente da CNA e presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), José Mário Schreiner, a preocupação da CNA é a construção de um texto que garanta segurança jurídica aos produtores rurais, a manutenção do crescimento do segmento e a inovação tecnológica.

“O Brasil é líder em tecnologia agropecuária. Diante da nossa capacidade técnica e biodiversidade, temos condição de revolucionarmos o mercado de bioinsumos. A adequada estruturação normativa será determinante para a evolução da pesquisa, redução dos custos aos produtores e, principalmente, em oferecer segurança para a produção on farm”, afirma Schreiner.

Tramitação

O projeto se encontra em regime de urgência no Plenário da Câmara dos Deputados e deve ser avaliado ainda em 2024.

Campanha “Eu Confio no On Farm

Associações de produtores lançam campanha Eu confio no On Farm. Associações de produtores lançam campanha Eu confio no On Farm.
Associações de produtores lançam campanha Eu confio no On Farm. Foto: SoluBio/Divulgação

A Associação Brasileira de Bioinsumos (Abbins) em parceria com o Grupo Associado de Agricultura Sustentável (GAAS) lançaram a campanha “Eu Confio no On Farm”, que traz uma série de vídeos em que os agricultores compartilham suas experiências positivas com a metodologia, ferramentas e tecnologias dentro da fazenda.

A intenção é destacar como a adoção dessas técnicas resultou em melhorias na qualidade do solo, aumento da produtividade, competitividade e preservação da biodiversidade local, formando uma comunidade colaborativa em torno de práticas agrícolas regenerativas, que favorecem e reduzem o uso de insumos químicos e aumentam a resiliência das culturas.

Na página inicial do site da Abbins, a entidade defende que o agricultor brasileiro tenha o direito de produzir bioinsumos para uso próprio.

“Cinquenta e duas instituições representativas da agropecuária e da agroindústria elaboraram um texto alternativo de projeto de lei de bioinsumos, que pode ser utilizado como substitutivo aos Projetos de Lei de Bioinsumos que tramitam na Câmara dos Deputados. O texto já foi apresentado à Frente Parlamentar da Agropecuária e ao Governo. A agropecuária brasileira precisa de uma lei de bioinsumos até o final de 2024”, afirma.



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