Vinicius Junior, 24, é o principal favorito a ganhar a Bola de Ouro da revista France Football nesta segunda-feira (28), em Paris. Jornais da Espanha, como Marca e o As, chegaram a cravar na semana passada que o brasileiro já foi avisado sobre ser o vencedor da premiação, referente à temporada 2023/24, o que daria fim a um jejum de 17 anos do Brasil.
O último atleta do país a receber a honraria foi Kaká, em 2007, quando vestia a camisa do Milan, na época sob o comando de Carlo Ancelotti, atual técnico de Vinicius no Real Madrid. A coincidência na trajetória dos dois brasileiros também ajuda explicar como eles alcançaram o auge de suas carreiras.
O italiano é reconhecidamente um profissional capaz de extrair o potencial máximo de seus atletas, com uma abordagem que combina gestão de elenco e adaptações no desenho do time. Ele não é do tipo que tem apego a esquemas táticos. Em vez disso, dá confiança para seus atletas e busca adaptar suas ideias ao estilo de jogo dos comandados.
O método foi fundamental para alçar quatro jogadores ao reconhecimento como o melhor do mundo: o ucraniano Andriy Shevchenko (2004, Milan), o brasileiro Kaká (2007, Milan), o português Cristiano Ronaldo (2014, Real Madrid) e o francês Karim Benzema (2022, Real Madrid).
Nenhum outro técnico teve quatro jogadores diferentes vencedores da premiação sob seu comando. Fabio Capello (Marco Van Basten, 1992, e Ronaldo, 1997) e Vicente del Bosque (Zidane, 2000, e Ronaldo, 2002), são os mais próximos da marca do italiano.
Pep Guardiola também teve quatro temporadas com o melhor do mundo em sua equipe, mas todas devido aos prêmios recebidos por Lionel Messi em 2009, 2010, 2011 e 2012.
Há, ainda, uma diferença de estilos. Se o técnico espanhol é mais fiel aos seus esquemas táticos, o italiano apresentou maior flexibilidade ao longo da carreira.
No Milan, Ancelotti implementou um 4-3-2-1, que aproveitava ao máximo a criatividade de Kaká e a precisão de Shevchenko. No Real Madrid, montou um time baseado nas transições rápidas e no uso do poder de fogo de Cristiano Ronaldo e Benzema, proporcionando liberdade ofensiva a seus astros.
Mas, na visão de quem já trabalhou com o atual técnico do Real, seu principal diferencial não é a parte tática, mas o dia a dia com os atletas. O ex-jogador Rivaldo, 52, treinado pelo italiano na época em que atuava no Milan, entre 2002 e 2004, descreve-o como “um pai”.
“É um cara que está sempre presente na roda dos jogadores, dá moral para eles, é um verdadeiro pai”, disse à Folha o ex-jogador, com passagens vitoriosas por Palmeiras, Barcelona e Milan, e campeão mundial com a seleção brasileira em 2002. “Os jogadores entram em campo para dar o máximo para si próprios e para o treinador.”
Para Rivaldo, Vinicius Junior evoluiu sob o comando de Ancelotti e fez uma temporada “digna de um melhor do mundo”. O próprio Rivaldo já teve o prazer de receber esse rótulo, em 1999, quando jogava no Barcelona.
Considerado pela Uefa (União das Associações Europeias de Futebol) o melhor jogador da Champions League 2023/24, Vinicius fez seis gols e deu quatro assistências no torneio em que o Real chegou ao seu 15º troféu. Na decisão, fechou a conta na vitória por 2 a o sobre o Borussia Dortmund.
No Campeonato Espanhol, ajudou o Real Madrid a obter seu 36º título, com 15 gols, sendo o segundo maior goleador da equipe, atrás de Jude Bellingham, autor de 19. O inglês também está na disputa do Bola de Ouro.
Seja qual for o vencedor, essa será a primeira edição sem Messi ou Cristiano Ronaldo entre os finalistas. A era dominada pelos dois é apontada como um dos fatores que contribuíram para o jejum dos brasileiros.
Durante esse período, Neymar foi quem chegou mais perto do título. Em duas oportunidades, 2015 e 2017, ficou em terceiro. Na primeira, o vencedor foi o argentino; na segunda, o português levou o troféu.
“Eles [Messi e Ronaldo] elevaram o nível do futebol a um patamar nunca visto antes, e qualquer jogador, de qualquer nacionalidade, teria dificuldades para superá-los”, disse Rivaldo, hoje embaixador do site de apostas Betfair. “Também faltou um pouco de consistência dos principais jogadores brasileiros. Tivemos muita gente talentosa nesse período, mas nem todos conseguiram manter um alto nível por muito tempo.”
Vinicius Junior parece pronto para quebrar essa escrita. Na temporada 2024/25, tem demonstrado o mesmo apetite que o fez ser apontado como favorito ao prêmio de 2023/24. Ele fez três gols na última vitória do Real Madrid na Champions League, 5 a 2 sobre o Borussia Dortmund, de virada.
Depois da partida, Ancelotti voltou a dizer que seu pupilo vai ganhar a Bola de Ouro. E também já está no caminho da próxima.
“Vinicius vai ganhar. Não pelo que fez esta noite, mas pelo que fez no ano passado. Esses três gols já vão para a Bola de Ouro do próximo ano”, afirmou. “É raro ver um jogador que faz um segundo tempo como o que Vinicius fez. E não pelos três gols, mas pelo caráter dele, é extraordinário.”